Nome Original: Kill Your Boyfriend
Editora/Ano: Tudo Em Quadrinhos, 1999 (DC, 1995)
Preço/ Páginas: R$6,50/ 60 páginas
Gênero: Alternativo
Roteiro: Grant Morrison
Arte: Philip Bond e D’Israeli
Sinopse: Uma garota entendiada. Um cara sem rumo. Quando os dois se encontram, dividem uns goles de água e decidem dar um jeito na chatice da vidinha dela, a começar pelo totem de caretice que é seu namorado, um gordinho que prefere se masturbar diante de filmes pornôs a desvirginar a mocinha. Depois de assassinar o garoto, os dois partem para uma aventura que envolve transformismo, drogas, bissexualismo, música eletrônica, pop art, assaltos, suicídio e infanticídio.
Se você, assim como eu, não namora e teve que passar esse enfadonho dia alone, siga essa minha dica e vá ler Como Matar Seu Namorado, uma HQ excelente e não recomendada para pessoas que se influenciam rapidamente, pois depois de ler você vai pensar: que me#$@ que tô fazendo da minha vida ? Você já pôde ver uma página da HQ aqui no blog.
Pra iniciar, vamos voltar no tempo e explicar a origem obscura de Kill Your Boyfriend. É 1995 e o selo Vertigo, da DC, destinado à quadrinhos adultos, lança uma revista chamada Vertigo Voices, que traria, originalmente, três histórias one-shots originais, dando total liberdades à seus criadores. No final, tivemos 4 histórias originais: Face, Tainted, Kill Your Boyfriend e The Eaters. Dos quais, creio eu, apenas Kill Your Boyfriend chegou ao Brasil, bem porcamente, diga-se de passagem. Dentre os criadores, tínhamos Peter Milligan (Flashpoint), Duncan Fegredo (Hellboy) e Jamie Delano (Hellblazer) além, é claro, de Grant Morrison (Os Invisíveis e Novos X-Men). Kill Your Boyfriend ganhou destaque e foi relançado no formato de grafic novel em 1998 e em 2008, nos EUA.
Aqui no Brasil, em 1999, surgiu a editora Tudo Em Quadrinhos, lançando muitas obras da Vertigo como Bruxaria, Sandman, Livros da Magia, Preacher, Os Invisíveis, Monstro do Pântano e alguns outros. Muitos começaram e não tiverem fim, ficando incompleto. Entre os lançamentos, estava Como Matar Seu Namorado (tradução dada à Kill Your Boyfriend =/ ). Infelizmente, a obra não ganhou nenhum acabamento diferenciado, as cores ficaram desbotadas e as letras tortas, extras inexistentes. Mas isso não consegue ofuscar a qualidade.
Como Matar Seu Namorado conta a história de uma garota que anda entediada e acha a vida um porre; namora um nerd que nem repara nela; seus pais são chatos; e não aguenta mais ir à escola.
Num belo dia, esta mesma menina vai à um restaurante comprar fritas e acaba conhecendo o rebelde da escola. A partir daí, sua vida começa a ter algum sentido. O primeiro ato da “mudança” é matar o seu namorado inútil. No início, ela pensa que tudo será uma brincadeira, mas não é. Bêbados, os dois começam a fazer arruaças nas ruas, perturbando velhos, roubando os outros e matando seu namorado.
Com o susto do assassinato, os dois fogem e, de fato, começa a HQ, com todas as desventuras dos dois. Nisso, pode incluir o clássico “drogas, sexo e rock and roll”. Se não fosse o bastante, no meio do caminho encontram um grupo de hippies anarquistas que querem jogar uma bomba numa cidade, todos levados por um ônibus de dois andares colorido.
O que se segue é uma total psicodelia. Morrison prova que é o mestre no quesito “histórias diferenciadas”. Você pode esperar de tudo na HQ: vandalismo, assassinato, drogas, transformismo, sexo, bissexualidade, romance, traição, diversão. A arte de Philip Bond cai perfeitamente, muito colorida e consegue tornar algumas situações, já engraçadas, mais hilárias ainda. Temos muitas cenas excelentes e engraçadas, como a da “peruca e o morto”, o padre atropelado, os velhos se assustando, o assalto ao restaurante e a cena final, entre muitas outras. A própria protagonista consegue uma peruca loura e, a partir de então, não tira ela da cabeça, pois com ela consegue se achar mais “sexy”. Os textos de Morrison são uma maravilha à parte. Cada frase dita é clássica e:
– Eu te amo muito. Vai manter contato se puder, não vai ? Mamãe tem uma tábua de ouija…
– Quando nós vivemos ? Eu queria saber, qual o sentido disso tudo ?
– O que é isso aqui, mocinha ? E não me diga que é uma bexiga, que coisa nojenta.
– Odeio estas caras. Odeio esta cidade. Quero ver lobos na rua comendo bebês e arrancando fora os rostos dos policiais.
Entre muitas outras. As frases são tão boas que resultou num site que as mostra aleatoriamente, toda vez que é acessado. Conheça o site aqui. Por exemplo, a frase que acabo de ler no site é:
“Vandalism’s best when it’s totally meaningless and unfair.”
Como Matar Seu Namorado é uma daquelas obras que lemos e ficamos pensando sobre a vida que os personagens levam. De início, repudiamos seus atos e até criticamos. Mas no fundo, bem lá no fundo, sentimos uma certa inveja por eles. Queríamos ter, pelo menos, a coragem que eles tem de jogar tudo pra cima e fazer o que tem vontade de fazer, sem pensar nas consequências ou no próximo, fazer as coisas sem ter ninguém pra te remediar. Infelizmente, essa não é a nossa realidade…
Então, para quem ainda não conhece, esta HQ é mais que recomendada. Mesmo quem não gosta ou não costuma ler gibis irá gostar. Muitos poderão achar que se trata de uma história pesada ou indecente, mas não pode negar a genialidade que Grant Morrison tem de contar histórias “absurdas”.
Para quem tem interesse em comprar a versão BR, tenho uma má notícia, a edição é bem difícil de encontrar, e um pouco acima do preço também, caso encontre. Mas é um belo exemplar para colecionadores, mesmo com acabamento ruim. Esta obra clama por um relançamento, com seu titulo original, “Mate Seu Namorado”, e numa edição bem feita. Também não seria uma má ideia lançar, numa coletânea, as histórias da Vertigo Voices. Em todo caso, você consegue encontrar para download.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.