[Review] Batman Anual: Há Esperança no Beco do Crime, a Origem do Caçador de Palhaços!

Arcos Principais: Há Esperança no Beco do Crime (There Is Hope In Crime Alley).
Publicação Original: Batman Annual #5 (DC, 2021).
Roteiro: James Tynion IV
Arte: James Stokoe.

Não costumo ler as revistas anuais do Batman (ou de outros heróis), já que geralmente essas edições não trazem histórias muito impactantes para a cronologia, mas decidi abrir uma exceção! O Caçador de Palhaços (Clownhunter no original) estreou no arco A Guerra do Coringa, sendo um vigilante adolescente e inexperiente, porém com muita raiva e sede de vingança, disposto a matar todos os lacaios do Coringa, um personagem bastante carismático e que vai na contramão do próprio Batman. Mas não tivemos muitos detalhes do seu passado, apenas que sua família havia sido morta pelo Coringa anos atrás. E o foco dessa Batman Anual #5 é justamente narrar sua origem, como que seus pais morreram e quando que surgiu o alte rego do Caçador de Palhaços. Escrita pelo James Tynion IV, o autor atual do morcego, e com desenhos estilizados do James Stokoe, o resultado é uma história muito interessante e até mesmo filosófica! Review especial com poucos spoilers.

HÁ ESPERANÇA NO BECO DO CRIME

A HQ começa com a Dra. Leslie Thompkins indo para sua clínica no Beco do Crime, sendo abordada por um ladrão no caminho. Pra quem não conhece, a Leslie é uma espécie de psicóloga e uma figura bastante importante para a construção do Batman. Foi ela quem ajudou o Bruce a lidar com a morte dos pais e, desde então, possui uma ligação tanto com o Bruce quanto com o Batman. E no começo da história já vemos o respeito que ela possui em Gotham, sendo defendida pelos próprios caras que ficam ali próximo ao Beco do Crime. Ela costuma atender todos aqueles que precisam de ajuda, independente de serem heróis ou vilões. E numa de suas conversas com o Batman, ele pediu que ela atendesse ao jovem Bao Pham: o Caçador de Palhaços.

E entre tiro, porrada e bomba, o Bao de fato vai até a clínica e começa uma sessão com a Dra. Thompkins. E a partir de flashbacks vamos conhecendo toda a sua história, de quando era jovem e ajudava seus pais no restaurante oriental da família. Numa trágica noite em que o Coringa atormentava a cidade, ele e a Arlequina pararam justamente nesse restaurante para jantar. Os pais de Bao, com medo, fizeram de tudo para agradar o casal e não criar nenhum tormento. Mesmo assim, eles terminaram por inalar a toxina do riso, morrendo em seguida.

Bao, agora um órfão, percebe que o Batman poderia ter impedido o Coringa de suas atrocidades em diversos momentos, porém não o fez. Até porque o Morcego chegou na cena do crime tarde demais, com o Bao ficando com um batarangue como uma espécie de relíquia de guerra, item que mais tarde ele fincaria num bastão de baseball pra criar sua arma contra os palhaços durante a Guerra do Coringa. Toda a motivação de Bao está em torno da morte dos pais, sua vingança e o rancor pelo Batman. E essa edição ocorre logo após o arco Histórias de Fantasmas, onde o Caçador teve a oportunidade de matar a Arlequina, mas não o fez. E isso vem deixando-o intrigado, querendo entender porque não a matou, se vingando (pelo menos em parte) de uma vez por todas.

E é exatamente sobre isso que a conversa entre ele a Dra. Thompkins gira em torno, rendendo ótimos diálogos. E isso é um ponto super positivo, já que o James Tynion IV (Detective Comics: A Maldição do Cara-de-Barro) vem escrevendo a fase atual do Batman, mas com histórias meio batidas. Aqui, a discussão é muito interessante e aborda aspectos da mitologia do Morcego que, apesar de não serem nenhuma novidade, são importantes e nos fazem refletir. Uma dessas discussões é sobre a violência: a doutora questiona de onde vem a violência com que Bao vem matando os capangas do Coringa, e ele rebate dizendo que o Batman utiliza da mesma violência, apesar de ser de uma forma diferente. E isso, entre outras coisas, vai criando um cerco em torno da doutora e que, na mão de outro roteirista, poderia culminar num beco sem saída. Mas ao contrário, temos uma boa conversa sobre o hoje e o amanhã, sobre acreditar e ter esperança nas pessoas, acreditar que a mudança pode ocorrer a qualquer um.

E se isso pode ser aplicado ao Batman, já que ela não concorda com seus meios, mas acredita que algum dia ele pode encontrar a paz. Também pode ser aplicado ao próprio Coringa. Ele ainda tem chance de mudança? A morte realmente soluciona tudo? Então essa anual acaba funcionando muito bem como uma história de autoajuda, por assim dizer. Além de uma ótima narrativa, coisa que não venho vendo na mensal do Batman. Os desenhos são do James Stokoe (Cavaleiro da Lua: Encarnações), que possui um traço bastante solto e estilizado, fugindo do padrão tradicional dos super-heróis, deixando tudo muito ágil e dinâmico. As personagens são desenhadas até mesmo de uma forma torta, o Coringa e suas risadas são quase bestiais, indicando que a ideia aqui não é o realismo, mas como passar pro leitor a atmosfera insana, caótica e sombria de Gotham. E nisso, Stokoe foi muito feliz e é um dos pontos alto da edição. Uma outra característica sua são as hachuras, aquelas composições recheadas de traços paralelos ou cruzados, dando um ar mais rústico à arte.

Uma anual muito boa, que mostra a origem do Caçador de Palhaços, mas também desenvolve seus traumas, seus novos dilemas e perspectiva de vida. Como órfão, sua história acaba cruzando com a do próprio Batman (que também faz uma participação especial) e apesar de ser um personagem recente (e com chances de cair no limbo editorial), não deixa de ser carismático. A discussão em torno das ações dos heróis e a humanidade dos vilões não é nova e pode beirar a mesmice, mas não deixa de render bons diálogos.

Confira outros reviews de Batman que fiz aqui no site:

– Vol. 3 (2016 – 2020): Fase Tom King (#01-85)
Batman Rebirth: Eu Sou Gotham (#1-6)
Batman Rebirth: Noite dos Homens-Monstro (#7-8)
Batman Rebirth: Eu Sou Suicida (#9-13)
Batman Rebirth: Sobre os Telhados de Gotham (#14-15)
Batman Rebirth: Eu Sou Bane (#16-20)
Batman/ Flash Rebirth: O Button (#21-22)
Batman Rebirth: O Monstro do Pântano, Gotham Girl e a Mulher-Gato (#23-24)
Batman Rebirth: A Guerra de Piadas e Charadas (#25-32)
Batman Rebirth: As Regras do Noivado (#33-35)
Batman Rebirth: Super Amigos (#36-40)
Batman: Todos Amam Hera (#41-43)
Batman: O Presente do Gladiador Dourado (#44-47)
Batman: Coringa, o Padrinho e o Aguardado Casamento (#48-50)
Batman: Dias Frios e Bestas de Carga (#51-57)
Batman: O Pássaro Tirânico (#58-60)
Batman: Pesadelos (#61-63 e #66-69)
Batman: A Queda e o Caído (#70-74)
Batman: A Cidade de Bane (#75-85)

– Vol. 3 (2020– 2021): Fase James Tynion IV (#86-117)
Batman: Seus Projetos Sombrios (#86-94)
Batman: A Guerra do Coringa (#95-100)
Batman: Histórias de Fantasmas (#101-105)
Batman Anual: Há Esperança no Beco do Crime, a Origem do Caçador de Palhaços (Anual #5)
Batman: A Corja Covarde (#106-111)

Ou acesse o Índice de Reviews para conferir outros títulos!

Comments

comments

Conte-me o que achou do artigo :)