[Review] Batman: A Cidade de Bane!

Arcos Principais: Cidade de Bane (City of Bane).
Publicação Original: Batman #75-85 (DC, 2019).
Roteiro/ Arte: Tom King/ Mikel Janin, CLay Mann, John Romita Jr, Tony S. Daniel, Jorge Fornés.

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A Cidade de Bane é o último arco do escritor Tom King na revista do Batman, encerrando essa fase que ele escreveu desde a edição #1 com o Renascimento, lá em 2016, totalizando 85 edições em que explorou muitos aspectos da mitologia do morcego, além de quase oficializar o casamento entre ele e a Mulher-Gato. Review especial com alguns spoilers comentando o arco Cidade de Bane e também sobre essa fase do Tom King como um todo, que inclusive comentei inteira em reviews aqui no site!

RETROSPECTIVA DA FASE TOM KING

Quando a DC deu início ao Renascimento em 2016, reiniciando todos seus heróis e revistas, mas de maneira menos drástica do que foi nos Novos 52 e mantendo parte de sua própria mitologia, o autor Tom King (que na época tinha feito a aclamada série do Visão) ficou responsável pela revista do Batman. Em seu primeiro ano à frente do título ele escreveu Eu Sou Gotham, Eu Sou Suicida e Eu Sou Bane, os três primeiros arcos que traziam o Bane como o principal antagonista do morcego, mostrando tanto suas diferenças quanto suas semelhanças, além da visão de cada um sobre Gotham. Um começo bastante expressivo, que foi seguido de um segundo ano explorando as origens de Gotham em A Guerra de Piadas e Charadas e desenvolvendo e aprofundando o relacionamento do Bruce Wayne com a Selina Kyle em As Regras do Noivado, que culminaria na tão esperada (e um tanto frustrante) edição #50 do Casamento.

Já em seu terceiro e último ano, Tom King passou a apresentar outros vilões com a ideia de que Bane tramava algo em Gotham como em Pássaro Tirânico, além de ter trazido Thomas Wayne, pai do Bruce e atual Batman de outra realidade, junto do próprio Bane em A Queda e o Caído. Então não tem como dizer que o autor não tinha um grande plano com o personagem, desenvolvido aos poucos, culminando no arco em 11 edições A Cidade de Bane, que finalizou em dezembro de 2019: com o Batman fora da cidade, gravemente ferido e sob os cuidados da Mulher-Gato, Bane dominou Gotham e a transformou numa cidade-estado independente em apenas 3 meses. Entre as regras de Bane está a de que nenhum herói é permitido entrar na cidade; os vilões também foram promovidos a xerifes locais, sendo responsáveis pela “ordem”, diminuindo o número oficial de crimes e passando a imagem de uma Gotham pacificada para a imprensa. Claro, tudo isso feito com muita violência, já que você pode ser morto se não cumprir o toque de recolher ou, se for um vilão, também ser morto se não quiser fazer parte da polícia do Bane.

Muitos fãs não gostaram dessa fase do King, caindo naquela de “ame ou odeie” e, entre as principais críticas, estão a forma como ele desenvolve as histórias. Os primeiros arcos tiveram doses cavalares de exagero como o Batman manobrando um avião, além da maneira mais introspectiva que ele aborda as personagens. Como li recentemente num artigo, toda essa fase é meio obscura e abstrata. Tom King é como um diretor de cinema cult que não tem pressa e desenvolve suas ideias da maneira como achar melhor, o que funcionou muito bem em mini-séries como Visão e Senhor Milagre. E particularmente, eu curti essa fase! Tivemos altos e baixos, sim, mas de maneira geral foi bem interessante ter um outro olhar sobre o Batman, perceber seus medos, traumas, até mesmo as questões de depressão e suicida que o autor trouxe, fora o relacionamento que nunca vai ter paz entre ele a Mulher-Gato. Tom King deixou bem claro a figura que o Batman representa e o papel de Gotham e de sua família em tudo isso.

A CIDADE DE BANE

Mas voltemos para esse último arco! Como comentado, Gotham está dominada por Bane há 3 meses. O leitor é jogado nessa realidade logo na primeira edição, sem muitas explicações. A gente tem que ir preenchendo com a imaginação o que aconteceu após o último arco, quando o Bruce foi abandonado no poço. As coisas só vão sendo explicadas perto do final do arco. Nessa nova Gotham, o Bane é o chefão que age às escondidas, com o Thomas Wayne (vestido de Batman) e a Gotham Girl como vigilantes noturnos, Duas Caras e Coringa como xerifes e até mesmo o Ventríloquo (sem o Scarface) sendo o mordomo. É proibida a entrada de super-heróis: o Capitão Átomo tenta a sorte de invadir Gotham e acaba levando uma surra da Gotham Girl.

Esse início é um tanto confuso porque a gente tenta montar o quebra-cabeças e entender como tudo isso aconteceu. Um ponto interessante é o Alfred mantido refém, ameaçado de morte caso algum membro da Batfamília chegue na cidade. O que culmina numa cena bem impactante, quando o Damian decide enfrentar Bane. Será que o vilão seria capaz de matar o Alfred? Essas três primeiras edições (#75-77) contam com os desenhos de artistas como Tony Daniel, Mitch Gerads e Mikel Janin.

Já as próximas duas edições (#78-79) focam no Bruce e na Selina, como estão reagindo a tudo isso. Ele bastante ferido e voltando a treinar com a Gata, traçando um plano de invasão e retomada de Gotham. É a típica história de “casal“, que o Tom King já fez e refez aos montes, com direito a lembranças dos dois de como se encontraram pela primeira vez. Nada de novo no fronte. Os desenhos são do Clay Mann, que numa primeira vista são bem bonitos, mas que se prestar atenção vai reparar que ele repete o mesmo quadro/ posição em diversas páginas. Meio feio, né? Mas funciona pra trazer o Morcego e a Gata seminus se divertindo.

A partir da parte seis do arco (edição #80) as coisas começam a ficar melhores. John Romita Jr. assina os desenhos e vemos o plano do Batman tomando forma, invadindo Gotham. Alguns detalhes como a Gotham Girl ficando debilitada (por utilizar seus poderes em excesso) e também sobre o tráfico do Veneno do Bane deixam a história mais robusta. Um outro detalhe muito interessante é como os membros da Batfamília se referem a si mesmos como uma família de verdade: são irmãs e irmãos, além do pai. O Cara de Barro também dá as caras numa cena, o que me fez lembrar do quanto eu gostei dele em Detective Comics (que eu bem podia retomar a resenhar, né?).

O clímax do arco fica, claro, por conta do derradeiro encontro entre Batman e Bane. Temos até uma retomada da briga deles nos primeiros arcos do King, com direito aos dois tirando a roupa para se enfrentarem “justamente“. O que reforça minha teoria sobre essa fase do Batman ser uma das mais descamisadas desde a edição #1, o que não é ruim! Esse final é muito bom, vemos as estratégias do Bruce e da Selina, lembrando a estratégia que usaram para invadir Santa Prisca. O único detalhe que acho meio cômico é como os heróis (e vilões) se arrebentam na porrada e nos poderes, mas caem com um tiro!

A edição #83 também confirma a ideia sobre o trabalho do Tom King no Batman ser mais obscuro e abstrato, feito “no seu tempo“. É uma edição inteira com narrativa do Alfred, feita por bilhetes, reforçando sua relação com o Bruce, que também fica desesperado (de uma maneira que geralmente não vemos) com seu paradeiro. É uma edição que traz uma carga emotiva bastante forte. Já a edição #84, penúltima, foca inteiramente no Thomas Wayne e é contada da frente pra trás, como se a cada página rebobinasse a fita e conhecemos seu passado, sua origem na outra realidade, como perdeu seu filho e sua esposa, decidindo virar o Batman e mais tarde matando os vilões, além de ligá-lo a eventos ocorridos nos primeiros arcos dessa fase. Ou seja, tudo bem amarrado.

A Cidade de Bane” se revela um arco longo e lento, mas cheio de ação e ótimo pra encerrar essa fase sob o comando do Tom King, que é conhecido como um dos melhores autores da atualidade. Tudo vai se encaixando ao poucos e sem pressa, retomando coisas que vimos dois, três anos atrás. Mostrando a atenção que ele tem com o título. Mas claro, as vezes a gente só quer ler e se divertir, sem ficar “boiando” boa parte do arco, sem saber direito o que está acontecendo. Mas o saldo é muito positivo, tanto do arco quanto da fase do Tom King em si. Temos um bom desfecho para a Gotham Girl, Alfred e até mesmo Bane e Thomas. Ver como a cidade se relaciona com a figura do Batman e como ele passa a comprrender melhor tudo que o cerca. A partir do próximo arco a revista será escrita pelo James Tynion IV, o mesmo que pegou a Detective Comics no início do Renascimento, ou seja, um autor que já está familiarizado com toda a Batfamília.

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