Arcos Principais: Eu Sou Gotham (I am Gotham).
Publicação Original/ Brasil: Batman #1-6 e Batman Rebirth Special (DC, 2016)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Scott Snyder, Tom King/ David Finch, Ivan Reis.
A DC tem o costume de reestruturar seu Universo de maneira mais agressiva que a Marvel, que prefere manter toda sua cronologia, mas reiniciando as revistas e tomando novos rumos de tempos em tempos (como a recente All-New, All-Different Marvel). Já a DC teve eventos mais drásticos como a Crise nas Infinitas Terras em 1985, que alinhou a história de todos os personagens, e mais recentemente os Novos 52 em 2011 que foi mais radical, reiniciando toda a cronologia (com poucas exceções). Algo que divide opiniões, mas que abocanha novos leitores e boas vendas a curto prazo. E nem 5 anos após os Novos 52, a DC resolve organizar a casa mais uma vez! DC Rebirth (ou Renascimento) começou em maio de 2016 e zerou todas as suas séries, mas mantendo os acontecimentos dos Novos 52 e agregando pontos de sua cronologia anterior. Uma espécie de reboot, mas com um apanhado geral de toda sua história. Este review comenta o primeiro arco da mensal Batman (#1-6): I am Gotham (Eu Sou Gotham em tradução livre), sem spoilers significativos.
BATMAN REBIRTH
Batman Rebirth é uma one-shot especial que precede a série regular, a fim de apresentar o personagem ao leitor. O roteiro é de Scott Snyder (Vampiro Americano) com Tom King (The Omega Men), mostrando pontos importantes que formam o status quo de Bruce Banner/ Batman numa história frenética com a excelente arte de Mike Janin, que já trabalhou com King na recente série do Dick Grayson. Nela, Bruce persegue o vilão Homem Calendário, que agora possui a habilidade de envelhecer conforme o passar das 4 estações, “renascendo” ao final da quarta num processo digno de Arquivo X! Tudo que um novo leitor do morcego precisa conhecer: a fortuna da família Banner, que financia o Batman; os vilões caricatos de Gotham (que são os melhores, de longe); sua relação com o Mordomo Alfred e o Comissário Gordon; além de mostrá-lo como o homem forte e perito em artes marciais que é (com um pouco de fã-service, obrigado). Uma ótima primeira impressão! Não precisa ser necessariamente lida, mas acontece antes da edição #1.
EU SOU GOTHAM
Já na série regular, Tom King assume o roteiro e David Finch (Cavaleiro da Lua) passa a fazer a arte. O primeiro arco m 6 partes, I am Gotham, reforça os pontos da one-shot em apresentar as principais características do personagem, de maneira um pouco exagerada mas ainda boa. Logo no início há um avião caindo em Gotham e o Batman, em poucos minutos, consegue percorrer a cidade com o Batmóvel, subir no avião e desviar sua rota para cair no mar. Algo bem frenético e pouco provável, com um tom de “irei morrer como um herói”. Claro que não morre na primeira edição…. Acaba sendo ajudado por uma nova dupla de super-heróis: Gotham e Gotham Girl, que possuem poderes semelhantes ao Superman.
A dupla coloca em cheque o papel do Batman na cidade: ele mesmo é praticamente Gotham, assim como Gotham é a sua cidade, sua origem e provavelmente será seu fim. Ele vive para ela, mesmo com diversos pupilos e Robins por aí. A chegada de dois outros heróis que podem fazer o que ele faz e ainda melhor, já que são mais poderosos, o coloca numa crise. Uma boa jogada do autor, que trabalha de maneira interessante: Bruce fica na cola dos dois, tentando descobrir suas origens, além de se colocar sempre um passo à frente, mostrando que são ainda muito inexperientes. Uma forma de se manter relevante.
Há comentários sobre os arcos A Corte das Corujas e Ano Zero, confirmando que a DC Rebirth não descartou a continuidade dos Novos 52. Também há a presença de Solomon Grundy e seu poema básico (nasceu numa segunda…). Um ponto que acho curioso é como o dinheiro move as super-equipes, sem dinheiro não haveria nem a dupla Gotham e Gotham Girl. Além de ambos serem os típicos heróis brancos e loiros, com direito a serem vistos salvando negros (2x na mesma edição). Um detalhe, claro, mas que não pude deixar de notar.
Ainda nesse primeiro arco, temos a participação de Amanda Waller e sua Força-Tarefa X, que pode estar por detrás da queda do avião e de uma conspiração para controlar Gotham, com o apoio de Hugo Strange e do Pirata Psíquico. O clímax do arco está quando tanto os enviados de Waller quanto Batman e a dupla Gotham e Gotham Girl se juntam num confronto mortal e acabamos descobrindo a origem dos novatos e como funcionam seus poderes.
Fecha o arco, na edição #6, um epílogo protagonizado por uma Gotham Girl bastante alucicrazy e muito melhor do que como apareceu antes. Com a ótima arte de Ivan Reis (Ciborgue) e cores de Marcelo Maiolo (O Velho Logan), sendo emocionante e sentimental na medida certa, além de mostrar um pouco mais da Amanda Waller, que também é sensacional. Duke Thomas, um cara que ajudou Bruce em seus primeiros anos como Batman, se torna um personagem coadjuvante que trabalha na Batcaverna.
Um primeiro arco muito bom, com desenhistas de primeira linha e as cores excelentes de Jordie Bellaire (Cavaleiro da Lua). Tom King mostra no ponto certo novas características e mudanças na mitologia do Batman, dando atenção aos personagens que aparecem pouco, sendo objetivo e compacto, sem atirar para todos os lados. Temos vilões caricatos e o Batman “paizão” que quer ajudar novos heróis, fazendo vista grossa mas ainda demonstrando suas fraquezas e mágoas do passado. Há alguns momentos forçados, como o Batman fazendo movimentos absurdos. Mas é o Batman e o saldo positivo acaba maior, com um arco clean, rápido e ótimo.
Trilogia:
Eu Sou Gotham, Eu Sou Suicida e Eu Sou Bane.
DC Rebirth deve chegar ao Brasil em 2017.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
Batman é Gotham!
https://geekdeverdade.blogspot.com.br/2017/06/batman-e-gotham-batman-renascimento-vol.html