Arcos Principais: Pássaro Tirânico (The Tyrant Wing).
Publicação Original: Batman #58-60 (DC, 2018).
Roteiro/ Arte: Tom King/ Mikel Janin, Mitch Gerads e Travis Moore.
No último arco de Batman, Dias Frios e Bestas de Carga, o Batman havia espancado o Freeze, colocando-o na cadeia por uma série de crimes que ele talvez não tenha cometido. Com remorso, o Bruce deu um jeito de fazer parte do júri no caso, convencendo os outros jurados a absolverem o vilão. De um lado, temos o Bruce condenando as ações do Batman como herói. Por outro lado, o Asa Noturna foi gravemente ferido pelo KGBesta, despertando um Morcego furioso e violento. Nesse arco curto, Pássaro Tirânico (#58-60), vemos o desdobramento do caso do Sr. Frio sobre os criminosos de Gotham e, mais especificamente, sobre o Pinguim. Review especial com poucos spoilers!
PÁSSARO TIRÂNICO
Essa fase do roteirista Tom King (Visão, Senhor Milagre) com o Batman é bastante polêmica e divide opiniões, enquanto uns adoram, outros odeiam. Eu fico no meio termo, teve arcos bem ruins, mas num ponto não tem o que reclamar: estamos vendo uma perspectiva totalmente diferente sobre o Morcego. Uma das qualidades de King sempre foi a de explorar os sentimentos das personagens e, nesse caso, pudemos ver um Batman mais depressivo e solitário. Com a tentativa de assassinato do Asa Noturna, que ele considera um filho, e o abandono da Mulher-Gato, sua eterna namorada, o homem enlouqueceu. Em Pássaro Tirânico, o Pinguim chama a atenção do Batman ao ameaçar o Alfred e confessa que Bane, mesmo depois de ter sido entregue em estado catatônico ao Arkham, está comandando toda a Gotham direto de sua cela. O Batman é tomado pela ira e invade o Arkham, quebrando todos os protocolos. Ele não só enfrenta o Bane, que realmente está fragilizado (pelo menos aparentemente), como ameaça policiais e até mesmo agride o Comissário Gordon. É um Batman totalmente fora de controle. Mesmo sem obter resposta com Bane, ele passa a espancar diversos vilões classe C que saíram recentemente da prisão, na tentativa de descobrir alguma coisa.
O Pinguim é o coadjuvante da trama e tem um papel de destaque que não via há bastante tempo. Ele é mostrado de maneira grandiosa, como o grande líder mafioso que é, com seus lacaios fazendo de tudo em seu nome. Com a soltura do Sr. Frio, algo deu errado nos planos que Bane supostamente teria para a cidade. E o Pinguim pagou o pato (sem trocadilho), com a morte da misteriosa Penny Cobblepot, sua protegida. Extremamente infeliz, ele decide jogar tudo pra cima, culminando nessa confissão ao Batman. Um ponto interessante aqui é o uso do poema A Fênix e o Pombo, de Shakespeare, que fala sobre o amor além da morte utilizando da simbologia de diversos pássaros e que é citado em todo o arco pelo Oswald, casando direitinho com seu aspecto de pinguim (que no mundo animal também é uma ave). E falando nisso, as artes principais do arco são dos ótimos Mikel Janin (Todos Amam Hera) e Mitch Gerads (Sobre os Telhados de Gotham), que fizeram o design do personagem lembrando o clássico de Batman: o Retorno, eternizado pelo Danny DeVito, sendo mais animalesco que humano em algumas cenas. Temos até um momento em que o Alfred tenta dar sardinhas pra ele, além das mãos com dedos grudados.
Esses aspectos mais psicológicos dão uma maior profundidade aos personagens. Temos um Pinguim com o coração partido, que chega a comentar que a perda do seu amor levou-o à loucura, se unindo (agora de verdade) à galeria de vilões do Batman, em que todos são loucos. Também há o Comissário Gordon, que perde sua fé no Batman e começa a pensar no que aconteceria se o herói perdesse a cabeça. E, claro, o próprio Batman que está sem controle e se deixou levar por vingança e rancor, passando a descontar sua raiva em quem vê pela frente. Um arco curto, porém com passagens interessantes e bons desdobramentos. Infelizmente o final nos traz de volta aos velhos clichês de super-heróis e, pra mim, perdeu um pouco do impacto.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.