Arcos Principais: Dias Frios (Cold Days) e Bestas de Carga (Beasts of Burden).
Publicação Original/ Brasil: Batman #51-57 (DC, 2018).
Roteiro/ Arte: Tom King/ Lee Weeks e Tony S. Daniel.
No arco anterior o Batman e a Mulher-Gato estavam prestes a casar, mas os planos mudaram e o casal foi separado. Enquanto a Gata ganhou um novo volume de sua revista solo, lidando com o crime organizando e meio que tentando esquecer o término, o Bruce sentiu mais na pele o impacto da separação. Dias Frios e Bestas de Carga, que compõem o Volume 8 da revista, são dois arcos que lidam com a frustração do Bruce e em como o Batman vem enfrentando a situação, quando se vê descuidado, podendo incriminar alguém inocente, além da possível perda de um de seus protegidos. Review especial com alguns spoilers!
DIAS FRIOS
Três mulheres foram mortas em Gotham, a perícia não encontrou evidências que pudessem conectar os casos, porém o Batman numa análise extra-oficial descobriu que o cérebro delas foram levemente congelados. Tudo levou ao Sr. Frio, que é conhecido de longa data por congelar suas vítimas ou realizar experimentos a fim de ressuscitar sua esposa. Num surto de raiva, em parte graças ao término com a Gata, o Batman espancou o vilão e o fez confessar, levando-o ao tribunal. Porém, quando a poeira abaixa, Bruce percebe que pode ter cometido um erro, que o Victor Fries pode ser inocente. Esse pano de fundo do arco é muito interessante, criando um contexto diferente do que estamos acostumados a ver ultimamente. Os papéis se invertem e o Bruce consegue ser um jurado no tribunal, tentando desfazer suas ações e convencer os outros jurados de que o vilão é, na verdade, inocente. O roteiro permanece com o Tom King (Senhor Milagre) e os desenhos são por conta de Lee Weeks, num traço leve e solto que lembra as séries mais alternativas, com cenas de ângulos variados e uma ótima sequenciação.
Os outros jurados pensam que, se o Sr. Frio é inocente, então o Batman passou dos limites ao bater e torturá-lo a fim de obter uma confissão. E, sendo assim, o Batman não é esse herói/ deus imaculado que todos acreditam ser. Isso dá uma reviravolta na história, que tira o herói do típico pedestal que geralmente fica, dando uma maior humanidade a ele. E interessante comentar que esse aspecto mais endeusado geralmente é associado ao Superman. Mas se até o Batman tem falhas e também erra, como pode todo um julgamento ser criado em cima de uma denúncia dele? Um ótimo primeiro arco pós-casamento/ término.
BESTAS DE CARGA
O arco seguinte traz o assassino KGBesta de volta à ativa. Um tempo atrás ele tinha tentando matar o Batman no arco Meu Pior Inimigo envolvendo o Duas Caras. Já aqui, o Asa Noturna passa a patrulhar Gotham ao lado do Cavaleiro das Trevas, que continua ressentido pela Mulher-Gato e pelo caso do Sr. Frio. Dick Grayson era o Robin original e possui uma ligação praticamente paterna com o Batman. Por mais que o Bruce queira ficar sozinho e se mantém sério, Dick faz a ponte cômica e mais despretensiosa. O início do arco, inclusive, possui vários paralelos entre passado e presente mostrando como funciona o relacionamento dos dois. Engraçado como muitos associam Batman e Robin à fantasia de que há um caso ou uma queda entre eles, mas o Tom King soube escrever muito bem essa parte e explora a afinidade dos personagens, colocando e expondo de fato os sentimentos paternos do Batman para com o Robin.
E esse relacionamento é o ponto principal da história. O KGBesta surge como um matador de aluguel, contratado para eliminar o Asa Noturna. Os desenhos principais são de Tony S. Daniel (O Presente do Gladiador Dourado), que também possui um ótimo estilo e cria sequências excelentes, principalmente as das páginas com nove quadros, lembrando o layout de Watchmen. Após perder a Selina, Bruce não aguentaria perder o seu primeiro Robin, praticamente o seu filho. E assim ele dá início à caçada ao KGBesta que, ainda na pegada “familiar” da história, foi visitar o próprio pai na Rússia. O que se sucede é muita luta, porrada e sangue. O vilão tem sangue no olho! A última edição traz um outro paralelo (aliás, essas histórias paralelas é algo que o Tom King adora fazer) de um pai contando uma história infantil e macabra do folclorista russo Alexander Nikolayevich Afanasyev ao filho, um fato que deixa claro que o Batman e o KGBesta podem ter mais coisas em comum do que imaginam. Um excelente recomeço na revista do Batman, depois de ser arrastada por algumas edições com o casamento que nem chegou a acontecer.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.