Arcos Principais: O Presente (The Gift).
Publicação Original/ Brasil: Batman #44-47 (DC, 2018)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Tom King/ Tony Daniel.
“O Presente” é um arco em três edições (#45-47) da série do Batman, em que o Gladiador Dourado resolver da um presente muito inusitado em comemoração ao noivado do Batman com a Mulher-Gato. Mas antes disso, na edição #44, temos uma história especial protagonizada pela própria Selina. Com arte do Mikel Janin, o mesmo do arco anterior Todos Amam Hera, temos a gata fugindo da Mansão Wayne no meio da noite, indo assaltar uma loja de vestidos de noiva. É um meio dela lembrar suas origens, além de mostrarem pro leitor, por meio de flashbacks, os inúmeros encontros e desencontros dela com o Batman, como uma evolução do relacionamento deles (e também dos uniformes). É meio bizarro vê-la cavalgando um tigre, mas a gente releva. Uma história legal, aposto que a Selina estava com saudades de roubar algo caro. Agora o arco principal, O Presente, é um erro. Review especial com alguns spoilers:
O PRESENTE
O Gladiador Dourado é um herói viajante do tempo, que veio diretamente do futuro, então qual seria seu presente ideal para o Batman? Essa é a pergunta que move todo o arco. Com tudo o que o Batman já tem, o Gladiador Dourado pensa no que ele não tem e, numa tacada a lá Fera dos X-Men (que só faz cagada), tem a brilhante ideia de voltar no tempo, impedir o assassinato dos pais do Bruce e mostrar pra ele, como presente, como seria o futuro com os seus pais. Ele imaginou que o Batman agiria como o Superman no arco da Trindade, que perceberia que é legal e tudo o mais, mas que devia voltar pra realidade “real“. O problema é que, quando o Gladiador volta pra época atual, ele percebe que tanto os pais do Bruce estão vivos, como ele também não se tornou o Batman. Não gosto de histórias que envolvem viagem no tempo ou realidade paralela, porque no fim das contas parece que nada vai mudar e lemos a toa. E pior que histórias assim, é vermos a velha e batida realidade com Gotham dominada por Coringazzzzz.
Como o Gladiador consegue viajar no tempo com ajuda do robô Skeets, ele precisaria apenas voltar no tempo (de novo), deixar que os pais do Bruce sejam assassinados (olha a que ponto chega) e retornar a realidade ao que era. Mas, pro azar dele, o Bruce percebe que quer, sim, os seus pais vivos e, sem pensar duas vezes, quebra o Skeets. Tudo isso ocorre na parte 1, o desenrolar das partes 2 e 3 é bastante flopada e traz a sensação de que comentei: no fim das contas nada vai ter mudado, vida que segue. Alguns pontos que merece destaque são a Selina, que aqui não é a noiva do Bruce, sendo liberada da prisão pelo Gladiador (porque ele também acha que isso é uma boa ideia), ajudando a criar uma roupa pra ela ao estilo da Michelle Pfeifer. Aliás, a Gata é o verdade destaque do arco. Quando finalmente temos uma luta, ela não veio pra brincadeira! Com direito a dedos fatiados com suas garras, gente morrendo, sangue e violência explícita. Chega a ser triste vermos que ela pode fazer isso e muito mais, mas quase nunca é explorada ao máximo nas histórias. Gosto quando vilões são vilões e não tem medo de irem aos extremos.
O arco tem arte do Tony Daniel, que traz uma Gotham sombria e dominada pelo Coringa, que transforma outras pessoas em “coringas“, desenhando um Batman bombado e armado até os dentes, nessa realidade onde o Jason Todd assumiu o manto, além de boas cenas de ação. É um arco exagerado e que traz essa péssima ideia do Gladiador Dourado, revirando a realidade pra, no fim das contas, retornarmos aos trilhos e fingir que nada aconteceu. Mesmo esse Bruce sendo sangue no olhos, criando toda uma estratégia quando percebe que as coisas deram errado, é bizarro ver como os pais dele viraram cachorro morto, com todo mudo chutando pra lá e pra cá no arco. E isso em meio a tantas histórias e eventos (como Metal) que já tratam de realidades alternativas, com certeza não precisávamos de mais uma.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.