Arcos Principais: A Queda e o Caído (The Fall and the Fallen).
Publicação Original: Batman #70-74 (DC, 2019).
Roteiro/ Arte: Tom King/ Mikel Janin.
No último arco, o Batman ficou preso numa máquina com uma espécie de gás do medo por vários dias, preso em seus próprios pesadelos. Mas ele consegue escapar do equipamento, buscando vingança. Em A Queda e o Caído temos esse retorno do Batman ao mundo desperto, disposto a quebrar a cara de quem cruzar seu caminho, ele só não esperava que fosse o Bane e… o seu pai, vindo de outra realidade. Dividido em duas partes, o arco retrata o confronto com o Bane e, em seguida, uma viagem de pai e filho morcegos pelo deserto. Review especial desse arco com alguns spoilers!
A QUEDA E O CAÍDO
Em meio à citações de Dante Alighieri, o Batman acorda no Arkham e começa a bater em todos os seus inimigos, um a um. Furioso por ter sido aprisionado, além de todos os sonhos e pesadelos que vimos no arco anterior, o Morcego quer a cabeça do Bane, o vilão que está comandando Gotham por detrás dos panos. Uma cena interessante é seu confronto com o Duas Caras: ele tenta conversar diretamente com o Harvey (o lado normal da face), deixando um recado para que seja entregue diretamente ao fortão. É interessante porque o Batman e o Duas Caras tem um relacionamento mais estreito, em relação a outros vilões, como é mostrado em Meu Pior Inimigo.
Percebendo que as coisas desandaram e ele mesmo tinha sido abatido, o bat-sinal é acionado com luz vermelha (deixando o Comandante Gordon furioso). A Batgirl é a primeira a ver o Sinal Vermelho e chama todos os outros da Bat-família pra ajudar. Claro que nem todos vão comparecer, como a Batwoman que está fora da cidade ou o Capuz Vermelho porque, bem, ele é o Capuz Vermelho e não dá muito a mínima pros outros. Mas em compensação, Órfã e Robin Vermelho comparecem. Como costumo comentar, essa fase do Batman com o Tom King vem mostrando um outro lado do Morcego, um lado mais transtornado até. Num momento, por exemplo, ele chega a agredir o Tim Drake. Em paralelo, o Bane está na mansão Wayne com o pai do Bruce, Thomas Wayne, que é um Batman de outra realidade. Ambos aguardando para o confronto.
A edição #72 funciona como uma retrospectiva, contextualizando o leitor de tudo o que aconteceu desde a edição #1, tudo sendo um grande plano do Bane, desde a queda do avião ao encontro do Coringa com a Mulher-Gato. Como de costume, temos dezenas de recordatórios e balões de texto, aquele excesso característico do autor. E outro ponto que ele vem trabalhando bastante é o fato do amor do Batman pela Mulher-Gato, um amor que não é como o de pai pra filho (como com seus pupilos) ou do tipo que possui por Gotham, mas sim um tipo de amor que só o Bruce precisava. E que agora ele o perdeu, culminando em tudo isso.
Na segunda parte do arco, o “Batman pai” caminha com o filho por um deserto a fim de encontrar o Poço de Lázaro. O motivo da busca é uma boa sacada, aposto que pegarão muitos de surpresa. Mas em se tratando de Ra’s Al Ghul, claro que a jornada não seria fácil, então ambos lidam com a Morte no Deserto e tem alguns confrontos internos pelo caminho. Um ponto interessante é o uso, mais uma vez, do poema Os Animais no Poço, que Tom King havia apresentado no arco Bestas de Carga (a história em que tanto o Bruce quanto o KGBesta gostavam de ouvir antes de dormir), onde alguns animais caem num poço e, para sobreviverem, começam a comer um ao outro num jogo bizarro, sobrando apenas um e a dúvida: ao fim, alguém sai do poço? Dessa vez, temos uma explicação do porquê o Bruce gostar tanto da história. A Queda e o Caído se revela um arco bacana, com ideias sempre interessantes que o autor apresenta, como essa reviravolta no poço ou o relacionamento desgastado do Batman com os seus protegidos, além da arte sempre ótima do Mikel Janin, que faz um Bruce sempre bonitão e criou uma ótima sequência com o Espantalho, junto de cenas desenhadas por Jorge Fornes, que traz uma pegada mais noir muito bonita. Mas ainda é um arco que vem re-trabalhando muitas coisas que já vimos durante toda essa fase, acabando por não trazer aquela sensação de WOW que queremos. Também é um arco que prepara terreno para “Cidade de Bane“, o próximo e último arco dessa fase do autor. Será sua despedida, depois de ter iniciado a revista com o Bane em 2016, agora ele irá encerrar em 2019 também com o vilão, como um círculo completo.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.