Arcos Principais: O Bravo e o Mofo (The Brave and the Mold) e Todo Epílogo é um Prelúdio (Every Epilogue is a Prelude).
Publicação Original/ Brasil: Batman #23-24 (DC, 2017)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Tom King/ Mitch Gerads, David Finch e Seth Mann.
A série principal do Batman, escrita pelo Tom King, vem sendo uma montanha-russa. Com seus altos e baixos. King fez a interessantíssima O Visão para a Marvel, então a expectativa para fazer o mesmo com o Morcego era grande. O resultado foi alguns arcos bons, outros nem tanto, colocando Bruce Wayne como um herói meio cansado das coisas e que, apesar de não fugir dos seus deveres como tal, passa a se questionar até onde tudo isso é válido. Mas se Tom King fez algumas coisas bem ruins, quando ele faz algo bom, é bom mesmo! Logo após o crossover O Button, temos essas duas ótimas histórias: O Bravo e o Mofo na #23, com um Monstro do Pântano sensacional; e Todo Epílogo é um Prelúdio na #24, com a Mulher-Gato. Review com alguns spoilers!
O BRAVO E O MOFO
Um velho é assassinado com dois tiros na cabeça. O Batman e o Comissário Gordon vão investigar a cena do crime, descobrindo que o assassino entrou pela janela, mesmo o quarto estando no 80º+ andar. Além de ter dado dois tiros, sendo que o primeiro já bastaria. Tudo muito estranho, mas é Gotham, certo? A situação fica mais bizarra quando o Monstro do Pântano surge de um mofo e diz que o velho morto, na verdade, era seu pai biológico. Alec e Batman passam a procurar pistas de quem seria o assassino. É uma edição que comprova o talento do autor com tramas mais introspectivas, com foco em sentimentos e dramas pessoais, ao invés de tiro, porrada e bomba. E é sensacional, talvez a melhor da revista até então. A arte é do Mitch Gerads, que já tinha desenhado o arco Telhados, com uma paleta de cores mais densa e sombria, com traçados detalhistas, mas leves. O leitor fica calmo em toda a edição, pensando sobre os conflitos internos do Monstro do Pântano, que acabou de perder o pai. O quão de humano ainda resta nele? Há uma cena em que ele pergunta ao Batman do porque dele andar de carro. E o Batman responde com outra pergunta, “por que precisa de um corpo?“. Isso revela pontos da consciência do Monstro, que ainda está ligada à sua humanidade.
A história também passeia pela filosofia, com a visão do Monstro sobre vida e morte, que pra ele é um eterno ciclo. Pessoas morrem, mas vivem no Verde. O que facilitaria o entendimento dele para com a morte do pai. Até aqui, a edição já valeria a pena. Mas o final, quando o Monstro finalmente encontra o assassino… é incrível! Dá uma reviravolta que eu não estava preparado! Apesar do Batman ser o protagonista, é o Monstro do Pântano que é o verdadeiro destaque. Tanto ele, quanto a Hera Venenosa (que também está ligada ao Verde), possuem um contexto muito interessante e rico pra histórias, pena que nenhum dos dois ganharam uma série solo nesse Rebirth. Gostei bastante de O Bravo e o Mofo, o Batman fica ao lado de uma força da natureza e percebe que nem ele, que é O herói, consegue lidar ou controlar tais ações.
TODO EPÍLOGO É UM PRELÚDIO
Depois de uma edição tão boa, fiquei com receio da próxima, que também é “solta”, ser ruim. Todo Epílogo é um Prelúdio traz o conflito psicológico entre o Batman e a Gotham Girl/ Mulher-Gato, numa narrativa com pouca ação. Essa edição #24 correu a mídia por ser a que o Batman pede a mão da Selina em casamento. Quando soube disso, virei a cabeça e achei uma péssima ideia. O Batman é um cavaleiro solitário, ele não pode se prender! Foi o que pensei na hora. Mas lendo a história e em como o Tom King a construiu, mudei de opinião. Tudo começa com ele conversando com a Gotham Girl, que agora está curada e tem todo o poder do mundo, até usá-lo e morrer, como seu irmão. Ela não sabe o que fazer e espera que o Batman mostre um caminho. Mas ele não quer se responsabilizar por ela, dizer pra combater o crime e depois se arrepender. Em paralelo, temos ele perseguindo a Mulher-Gato. A narrativa vai correndo com esses dois momentos, com o diálogo de um funcionando muito bem no outro. Uma frase interessante, que aprofunda o Batman como personagem, é ele admitir que está com medo, que tem medo. Que se não tivesse medo, ele seria insano, assim como seus inimigos.
Lá no primeiro arco, quando conhecemos a Gotham Girl, ninguém deu nada pra ela. Mas nessa edição ela também tem um bom desenvolvimento. Será que a veremos em alguma equipe? Além da morte do irmão e do pânico, ela precisa enfrentar seus problemas como qualquer humano comum, sem poderes, já que ao utilizá-lo vai morrendo. Lembra as questões que a Thor também enfrenta. Mas claro que o destaque fica para o grande encontro entre o Batman e a Mulher-Gato, que levou os fãs ao delírio. Será que finalmente o relacionamento dos dois será “oficializado”? Como funcionará daqui pra frente? O Batman realmente está se cansando da vida solitária? Duas excelentes edições, sem quebra-pau desnecessário, que aprofunda a personalidade e psicológico das personagens, como toda série mensal poderia ser (quinzenal, nesse caso).
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.