Arcos Principais: Trovão nas Veias (Thunder in Her Veins).
Publicação Original/ Brasil: The Mighty Thor #1-5 (Marvel, 2015)/ Thor #1-3 (2017).
Roteiro/ Arte: Jason Aaron/ Russell Dauterman.
Odinson, o Thor “original“, perdeu os direitos sobre o martelo Mjolnir e, consequentemente, perdeu o status de Deus do Trovão. A humana Jane Foster foi a única digna o bastante pra levantar o martelo e se transformar na nova Thor. Foster, porém, vem tratando de um câncer e as transformações só pioram seu estado. Essa foi a reformulação que a Marvel fez em 2014 com a personagem, na série em 8 edições Thor: A Deusa do Trovão. Com a fase All-New, All-Different, a editora relançou todas as suas revistas e Foster voltou com título solo em Poderosa Thor, cujo primeiro arco é bem mais interessante que sua primeira aparição como deusa. “Trovão nas Veias” (Thunder in Her Veins) instaura uma guerra entre os reinos da mitologia do Thor, uma guerra civil em Asgardia e elfos sendo assassinados. Review especial em duas partes, a primeira sem e a segunda com spoilers, desse primeiro arco muito bom.
TROVÃO NAS VEIAS
Nunca gostei muito do Thor e não conheço bem sua história, então quase tudo do que vi nesse novo volume foi novo pra mim. O autor Jason Aaron (Escalpo, Wolverine), porém, em 5 edições fez com que eu me importasse com essa mitologia, mostrando mundos carismáticos e personagens expressivos, além de situações que fogem do esperado. Eu realmente entrei na história e isso é muito bom, já que a proposta da Marvel era atrair novos leitores. A própria nova Thor está mais interessante que no volume anterior, mais cativante. E a história é uma continuação quase direta desse volume, começando com Jane num hospital, tomando medicações, enquanto vê num noticiário da TV em que elfos foram jogados no espaço em direção à Terra, com alguns chocando-se num satélite da Roxxon. Assim, os ministros dos reinos se reúnem no Congresso dos Mundos para discutirem o acontecimento. Os Elfos de Luz dizem estarem sob ataque dos Elfos Negros, mas ninguém liga e faz nada. É que nem o nosso Congresso, muita gente falando e nada se resolvendo. Enquanto isso, Freya está presa a comando de Odin, cartazes de “Falsa Thor” são espalhados em Asgardia, o Elfo Malekith reúne um grupo de vilões e Thor quer ser útil de alguma maneira, percebendo que os elfos de luz precisam de sua ajuda.
Logo no início, ela pede que Heimdall a transporte pra Alfheim através da Bifrost, mas ele nega. Nesse momento surge a Guarda Trovejante de Cul, para prender Thor. Uma odisseia pra ela chegar até a terra dos elfos, que é linda! Mesmo sendo atacada pelos elfos negros e por tanques da Roxxon, empresa que fez um pacto com Malekith para dominar essas terras mágicas e roubar seu petróleo, a cidade é cheia de cor e as criaturas que vão aparecendo são ótimas. Num momento foi como se estivesse lendo uma algo de Magic, The Gathering (principalmente por conta dos elfos e cia.). Jason Aaron me ganhou aí. Dentre outras referências, Malekith possui o apoio de três bruxas que seguem a tradição das Parcas/ Moiras greco-romanas, cegas. Um dos trunfos na manga do vilão é o recrutamento de ninguém menos que Loki para eliminar a nova Deusa do Trovão. A batalha em Alfheim instaura uma verdadeira guerra entre os 9 reinos, com uma participação especial das outras versões do Loki que ficou muito bom, estendendo os conflitos até Asgardia e envolvendo o julgamento de Freya por seu marido. A arte de Russell Dauterman (Punk Mambo) continua excelente, detalhada, ágil e agradável, com destaque para as cores de Mattew Wilson (Viúva Negra), deixando tudo muito brilhante e de encher os olhos. Um primeiro arco muito bom, empolgante, cheio de reviravoltas e dramas familiares, trazendo aquele gostinho de “luto pelo que é justo” das guerras civis, além de uma briga entre Thor e o próprio Odin! E com algumas cenas que achei sensacionais, que comentarei a seguir com spoilers!
Muitos momentos merecem destaque nesse primeiro arco, que infelizmente não dá pra comentar sem dar spoilers. Um dos primeiros é quando Heimdall trai seu voto e ajuda a Thor, sendo preso por isso. Legal ver personagens com ações mais realistas. Boa parte do povo de Asgardia não concorda com as ações de Odin e são contra a prisão de Freya. Um outro momento que adorei é quando Loki faz surgir quase todas as suas versões, desde a criança quanto aquelas de uniforme antigo. Olho com atenção e sinto falta da Lady Loki no grupo. Mas quando penso que não, em meio ao debate entre ele e a Thor, vemos Lady Loki no alto de seu salto entrando em cena pra resolver um assunto de mulher pra mulher! Logo em seguida a Roxxon envia bombas sobre as duas, mas a Thor consegue levá-las pro céu com a eletricidade do martelo, outra sequência muito boa! Desde o volume anterior tinha comentado quanto a Freya, como a Mãe-de-Todos, é uma personagem interessante, tanto por representar uma mulher forte e no controle da situação, quanto por seus valores como mãe, esposa e líder do povo. E nesse arco ela não está diferente: é apunhalada nas costas pelo próprio filho, Loki, a quem confiou uma missão, colocando toda Asgardia em estado de choque, numa cena emocionante. Fiquei bastante empolgado, como deu pra perceber, e espero que a qualidade tenha se mantido. Muita coisa promete!
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.