Arcos Principais: Seus Projetos Sombrios (Their Dark Designs).
Publicação Original: Batman #86-94 (DC, 2020).
Roteiro/ Arte: James Tynion IV/ Tony S. Daniel e Danny Miki, entre outros.
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Quando a DC deu início ao Rebirth em 2016, reiniciando todas as suas séries, a revista do Batman (uma das principais, se não a principal da editora, em matéria de vendas) ficou com o autor Tom King, que aos poucos vinha ganhando fama por ter uma abordagem mais alternativa com os heróis, principalmente após ter escrito a elogiada série do Visão em 2015. King escreveu Batman das edições #1 à #85, finalizando sua fase em 2019 com o arco A Cidade de Bane (no review eu comento mais sobre seus três anos à frente do Morcego!). E agora, a partir da edição #86 que foi lançada em janeiro de 2020, temos o James Tynion IV (O Batman que Ri) escrevendo a revista! Um autor que já possui experiência com o personagem, sendo o responsável pela revista da Detective Comics durante o Rebirth em 2016, onde trouxe um primeiro arco muito bom e que manteve a qualidade durante um bom tempo.
Mas e agora, escrevendo o próprio Batman e não o seu grupo? Será que se saiu bem? Bom, nesse primeiro arco seu, intitulato Seus Projetos Sombrios e que ocupa longas 9 edições (#86-94), reuniu alguns importantes vilões de Gotham confrontando um novo inimigo da cidade. Review especial sem muitos spoilers (mas com spoilers do que ocorreu até aqui)!
SEUS PROJETOS SOMBRIOS
Após Bane ter dominado Gotham por um período e inclusive ter assassinado o Alfred, ele finalmente foi vencido por Batman nas últimas edições. Com a cidade em frangalhos, Bruce Wayne anuncia que tem um projeto para restaurá-la e colocá-la onde deveria estar. E na festa de inauguração desse projeto, tanto o Batman quanto a Mulher-Gato estão em alerta para a misteriosa chegada de 5 assassinos profissionais, que podem arruinar todos os planos, dentre eles o próprio Exterminador! Também conhecemos Lucius, que ocupa o lugar do Alfred como ponto de comunicação e guia da mansão Wayner.
Desde o início desse arco a gente já percebe alguns pontos bem característicos do James Tynion IV, principalmente para quem leu Detective Comics. O exagero, por exemplo, é algo muito forte aqui! E não é aquele exagero do tipo Batman manobrar um avião que vimos pelas mãos do Tom King, é um exagero a lá Image dos anos 1990! Numa cena o batmóvel se transforma num rolimã, literalmente! O Lucius também criou uma versão aracnídea do batmóvel, capaz até mesmo de voar. Entre os projetos do Bruce Wayne há uma super prisão de segurança máxima que não consegue sequer segurar vilões do terceiro escalão por uma edição. O foco da trama é a presença de um inimigo misterioso, conhecido simplesmente por “D” (de Designer), que era um dos mais perigosos vilões da cidade na época pré-Batman e que aparentemente está de volta. Ele assusta, principalmente, um quarteto de vilões que havia feito um pacto no passado com ele: Pinguim, Coringa (dado como morto), Charada e Mulher-Gato.
Em flashbacks descobrimos que o Designer prometeu a cada um desses vilões uma vitória sobre Gotham, seja de dinheiro ou de poder, mas algo dá errado e eles simplesmente abafam o caso. Com D de volta, os vilões passam a tremer na base. E o Exterminador e o assassinos profissionais? Bom, aparentemente estão trabalhando para o Designer. Um dos pontos interessantes do arco é a relação entre o Batman e a Mulher-Gato (sim, ninguém aguenta mais…), já que ela escondeu esse segredo (e o plano do D para ela) do Batman esse tempo todo, como será que ele vai agir? O Pinguim, quase um mafioso funkeiro cheio das correntes e mega armado, também tem seu destaque: ele chega a enfrentar o Slade e também proclama sua importância em Gotham, as sequências com ele estão entre as melhores. Destaque também para os desenhistas, que vão revezando entre as edições, entre eles Tony S. Daniel, Guillem March e Danny Miki.
Mas lembra que comentei do exagero? Então, ele está bastante presente e acabou prejudicando. Inclusive essa história me lembrou do arco Sindicato da Vítima, também do Tynion IV, na Detective Comics: um inimigo misterioso e com máscara que cobre todo o rosto reúne um grupo de vilões X para atacar. Numa cena, à exemplo do exagero, o Lucius libera um exército de mil mini drones-morcegos na cola do Exterminador! Desde Detective Comics o autor já utilizava a própria cidade como arma, com prédios que serviam como robôs, e aqui acontece coisas semelhantes.
Apesar do Pinguim se destacar, os demais vilões do quarteto especial também tem seus momentos. O Charada está enlouquecido, há semanas sem dormir e vigiando Gotham do seu QG. A Mulher-Gato recebe a visita da Arlequina, que a ajuda a enfrentar alguns inimigos. O Coringa, dado como morto até então, tem uma presença “fantasma” levantando suspeitas sobre sua morte. Já o Exterminador recebe o apoio da Lince, Merlyn e os novatos Sr. Dentes e Gunsmith, todos bastante descartáveis, com exceção da Lince que protagoniza mais cenas. Mas em se tratando de vilões (que estão aos montes nesse arco) o grande destaque fica para a edição #90, que mostra o flashback do quarteto indo ao encontro do Designer. É um daqueles poucos momentos que vemos essa galera concordando em se encontrar e unir forças.
De maneira geral, Seus Projetos Sombrios foi um arco de estréia abaixo da média e das expectativas. A própria ideia dos planos do Bruce para Gotham ficou confuso e até repentino. As cenas finais, quando o verdadeiro plano por trás das mangás é completado, entramos numa situação caricata, com novas personagens sem muito carisma e até mesmo um diálogo entre o Batman e o Exterminador que é no mínimo ingênuo, pra não dizer trash. No mesmo modelo da super prisão de segurança máxima, temos outras ideias mirabolantes que também não passam de uma edição. Ao término temos uma prévia de uma nova guerra na cidade. Não me animou tanto.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.