Arcos Principais: A Guerra do Coringa (The Joker War).
Publicação Original: Batman #95-100 (DC, 2020).
Roteiro/ Arte: James Tynion IV/ Jorge Jimenez.
A Guerra do Coringa é o segundo arco escrito pelo James Tynion IV, continuação direta de Seus Projetos Sombrios, quando substituiu o Tom King e ficou responsável pela revista principal do Batman. Confesso que não gostei tanto do primeiro arco e agora, nesse segundo, temos a conclusão do projeto do Coringa para a cidade de Gotham! Review especial sem muitos spoilers!
A GUERRA DO CORINGA
No último arco vimos os planos que o vilão Designer tinha para Gotham anos atrás, distribuindo papeis importantes para o Charada, Mulher-Gato, Pinguim e o Coringa. Ele só não contava com a insanidade do próprio Coringa, que conseguiu virar o jogo e pegar todos os planos para si mesmo. Com a parte que seria da Gata, ele roubou toda a fortuna do Bruce Wayne, incluindo sua mansão, as empresas e tudo mais. Com o dinheiro em mãos, o Coringa subornou boa parte dos criminosos na cidade para que trabalhassem para ele, deixando Gotham um verdadeiro caos. Os outros vilões, com medo, se esconderam numa espécie de QG secreto. O Lucius Fox, que substituiu o Alfred, também foi pego pela Polichinela e obrigado a contar os outros segredos de Bruce, inclusive a parte que envolve o Batman.
E no meio desse caos temos o Coringa matando várias pessoas, ressuscitando algumas vítimas de anos atrás e até o Batman é pego pelo gás venenoso da Polichinela e precisa ficar se recuperando dos delírios, com o apoio de ninguém menos que a Arlequina, que está procurando vingança. Uma das sacadas do arco é utilizar o passado do Bruce/ Batman contra ele mesmo: o Coringa compra todos os cinemas da cidade e pretende passar um filme que entregará toda a verdade, mostrando que o Bruce é o Batman, tudo a partir daquele momento no beco, quando seus pais foram assassinados. E o primeiro cinema que ele pega pra fazer isso é o Monarca, o mesmo em que Bruce e os seus pais visitaram antes daquele incidente, com direito a uma plateia de cadáveres.
Nesse sentido, o roteiro do Tynion está bem mais afiado e coeso que o do primeiro arco. Ele continua recuperando esses pontos na mitologia do morcego, mas sem ficar com cara de retcon. Usar o cinema original, por exemplo, foi sensacional. Em outra cena o Batman está delirando (por conta do gás venenoso) e não pode confiar no que vê, então ele usa uma venda e passa a confiar em seus instintos, citando que um morcego não enxerga no escuro. Em paralelo, há um novo vigilante nas ruas: um jovem que se fantasia e sai caçando os palhaços criminosos do Coringa. A diferença é que ele não tem escrúpulos ou alguma moral como o Batman, ele chega arrebentando e matando quem ficar pela frente. Numa cena ele tranca dois palhaços num carro e ateia fogo! O cara é brabo!
Entre outros pontos interessantes, temos uma curta retrospectiva da história da Arlequina e da Polichinela, criando esse paralelo entre as duas e a relação que possuem com o Coringa. Uma outra parte muito boa é quando a Arlequina apresenta o Eden ao Batman, um jardim secreto criado pela Hera Venenosa (inclusive, por onde anda minha favorita?) e que possui propriedades de cura. Demais! Em meio aos delírios do Batman, ele passa a escutar a voz do Alfred, funcionando quase como sua consciência, seguindo seus conselhos. E como comentei, o Tynion acertou bastante em vários pontos desse arco. Um dos últimos planos do Coringa envolve a Ace Chemicals, a fábrica onde ele ganhou a pele branca e despertou a loucura no passado. Ou seja, tanto o Cinema Monarca quanto a Ace Chemicals simbolizam quase um ciclo completo.
Vale comentar que o Coringa está mais “gansgter” aqui. Os desenhos são do Jorge Jimenez (Liga da Justiça), seu Coringa tá bastante insano e curtindo a nova vida de ricaço de Gotham, com direito a novos ternos, correntes e muita ostentação. Sua arte é ótima, com destaque para a sequência final envolvendo os tonéis da Ace, excelente! Mas nem tudo são flores. Lembra do jovem Caçador de Palhaços? Então, ele funciona como um contraste para o leitor perceber as diferenças entre ele e o Batman. Enquanto o Caçador não tem limites e mata todos os criminosos, o Batman quer (mais uma vez) tentar prender o Coringa. A Arlequina admite que a única forma de ter paz na cidade é matando seu ex-namorado. E assim voltamos à velha discussão e pergunta: existe Batman sem o Coringa? Apesar disso ser um ponto essencial na mitologia (foi até o foco no filme Lego Batman), principalmente o fato do Batman não matar (nem usar armas de fogo), chega a ser bem chato. O tanto de morte que poderia ser evitada caso o Coringa fosse tirado do jogo, não é mesmo? A Arlequina chega a ser (mais) radical, dizendo ser ela ou o Coringa, quem o morcego irá salvar?
Um arco muito empolgante, bem melhor que o anterior e que também marca a edição de número 100 desse volume do Batman!! Lembram quando tudo começou, lá em 2016 com Eu Sou Gotham e toda a reformulação Rebirth da DC? É, já fazem cinco anos! Lembrando que todos os arcos dessas 100 edições estão resenhados aqui no site, só procurar no índice.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.