Arcos Principais: A Corja Covarde (The Cowardly Lot).
Publicação Original: Batman #106-111 (DC, 2021).
Roteiro/ Arte: James Tynion IV/ Jorge Jimenez.
Depois de perder parte de sua fortuna em A Guerra do Coringa, o Batman se juntou ao antigo colega de combate ao crime Caçador de Fantamas no arco Histórias de Fantasmas. Além de Gotham estar bastante perdida após os sucetivos ataques do Coringa e também do Bane, um novo grupo de vilões surge no horizonte com a ideia de curar a cidade, enquanto o Espantalho ronda o lugar e o prefeito tenta medidas mais drásticas. Corja Covarde é um arco (edições #106-111) que traz os desenhos incríveis do Jorge Jimenez e uma nova perspectiva sobre a cidade. Review especial com poucos spoilers.
A CORJA COVARDE
Confesso que não gostei tanto do arco anterior, Histórias de Fantasmas, então já comecei a leitura com um pé atrás. Mais uma vez temos um novo grupo de vilões se apresentando à Gotham. O roteirista James Tynion IV já está bastante habituado ao universo do Morcego, tendo escrito uma boa fase em Detective Comics (o desenvolvimento que ele deu ao Cara de Barro foi fantástico), mas aqui parece que temos algo um pouco mais genérico. Esse novo grupo pega carona na crise que se abateu ao Arkham e promete ser a cura para a cidade, pois não estão nem no espectro da sanidade habitual e tampouco na insanidade dos vilões clássicos. É o meio termo, a Dessanidade. Apesar do conceito interessante, não é algo assim tão novo. O próprio Tynion escreveu o arco O Sindicato da Vítima na Detective Comics, apresentando um grupo de vilões que foram vítimas de Gotham em alguma situação, prometendo um novo horizonte pra cidade. Naquela época eu comentei que se tratavam de vilões pouco carismáticos, daqueles que parecem que nunca mais vão dar as caras. E, de fato, não deram muito.
E a sensação com o grupo da Dessanidade é semelhante. Personagens que a gente não consegue se conectar por parecerem que nunca mais vão retornar, mesmo eles não sendo vilões ou heróis, mas algo no meio disso e com uma boa causa. Em paralelo, também temos o misterioso Simon Saint: o chefe de uma companhia que quer vender seus “magistrados” à prefeitura de Gotham, prometendo ser os policiais do futuro, a verdadeira força que poderá tirar os vilões da cidade. Esses magistrados são homens com modificações corporais que se comportam como o Juiz Dredd, literalmente: são o júiz, juri e executor em campo.
E no imbrólio dessa negociação prefeitura x indústrias Saint e o surgimento da Dessanidade, temos uma outra ameaça pairando, essa sim que é muito interessante: o Espantalho. Aos poucos vao surgindo estacas de espantalho ao redor da cidade, gerando medo na população. A grande sacada está justamente em não ter nada além disso: uma estaca em cima de um prédio, numa rua ou num apartamento importante. A estratégia do Espantalho está em simular o medo e o caos sem precisar apelar para a sua toxina ou para a destruição, mas sim aos instintos mais primitivos das pessoas: o medo do desconhecido e a ansiedade do que possa estar por vim. É uma ótima sacada do autor. Um outro ponto que torna esse o melhor conflito do arco são os desenhos do Jorge Jimenez, que são excepcionais e que já tinha aparecido na revista em A Guerra do Coringa. Ele trouxe o simbolismo clássico do espantalho para as páginas, com os bonecos de palha em estacas, criando um ambiente aterrorizante e ao mesmo tempo psicodélico.
O arco começa, inclusive, com o Batman preso no QG do Espantalho, tentando resistir à toxina do medo. E no decorrer das edições vamos descobrindo o que o levou até ali, como ele caiu na armadilha. O Bruce também não é mais o milionário de antes, precisando economizar nos acessórios e arsenal, porém continua ainda bastante rico. Ele conta com a ajuda da Oráculo para investigar quem está colocando os espantalhos pela cidade e também para descobrir o que a Dessanidade tem a ver com isso. Em determinado momento, seu caminho também se cruza com os magistrados de Saint. Também temos a participação da Arlequina, que vem tentando bancar a heroína, e também do Caçador de Fantasmas. Um momento interessante dos dois é quando recebem a visita da Jardineira, uma ex-namorada da Hera Venenosa na faculdade. O paradeiro da vilã é desconhecido, mas ela diz que a Hera pode estar debaixo da cidade, se recuperando e planejando um retorno, deixando a Arle agitada. É um momento muito bom porque a Hera é minha vilã preferida porque coloca mais uma peça nesse jogo de posse de Gotham, com ataques vindo de todos os lados. Por parte da Dessanidade, temos a personagem Molly Milagre protagonizando as cenas em nome da equipe, uma jovem também com modificações tecnológicas no corpo.
Apesar de um início meio arrastado e sem muito carisma, as duas últimas edições do arco (#110-111) são bem animadas e entregam o entretenimento! A começar pela luta do Batman com um dos Magistrados, com direito a golpes e um resgate super cinematográfico. Há também um momento, como comentei, que lembra muito Juiz Dredd, onde vemos quem está acima ou abaixo da lei, assim como toda a corrupção da cidade. E ao final é quando descobrimos, finalmente, como o Batman foi parar no laboratório do Espantalho, rendendo cenas psicodélicas excelentes. Aliás, todo o visual do arco merece os parabéns. “Corja Covarde” funciona como um prelúdio para uma nova guerra vilanesca, nesse caso para o arco seguinte: Estado de Medo; mas que acaba trazendo algo que vem sendo uma constante desde o Rebirth em 2016, já que nesse meio tempo tivemos a Guerra do Bane, a Guerra do Coringa e agora chegando uma Guerra do Espantalho. Como arco fechado, alguns aspectos e novos personagens soam um tanto genéricos e que darão em lugar nenhum, mas é compensando pelo visual e toda a trama e estratégia do Espantalho, que poderia ter sido o ponto focal.
Confira outros reviews de Batman que fiz aqui no site:
– Vol. 3 (2016 – 2020): Fase Tom King (#01-85)
Batman Rebirth: Eu Sou Gotham (#1-6)
Batman Rebirth: Noite dos Homens-Monstro (#7-8)
Batman Rebirth: Eu Sou Suicida (#9-13)
Batman Rebirth: Sobre os Telhados de Gotham (#14-15)
Batman Rebirth: Eu Sou Bane (#16-20)
Batman/ Flash Rebirth: O Button (#21-22)
Batman Rebirth: O Monstro do Pântano, Gotham Girl e a Mulher-Gato (#23-24)
Batman Rebirth: A Guerra de Piadas e Charadas (#25-32)
Batman Rebirth: As Regras do Noivado (#33-35)
Batman Rebirth: Super Amigos (#36-40)
Batman: Todos Amam Hera (#41-43)
Batman: O Presente do Gladiador Dourado (#44-47)
Batman: Coringa, o Padrinho e o Aguardado Casamento (#48-50)
Batman: Dias Frios e Bestas de Carga (#51-57)
Batman: O Pássaro Tirânico (#58-60)
Batman: Pesadelos (#61-63 e #66-69)
Batman: A Queda e o Caído (#70-74)
Batman: A Cidade de Bane (#75-85)
– Vol. 3 (2020– 2021): Fase James Tynion IV (#86-117)
Batman: Seus Projetos Sombrios (#86-94)
Batman: A Guerra do Coringa (#95-100)
Batman: Histórias de Fantasmas (#101-105)
Batman Anual: Há Esperança no Beco do Crime, a Origem do Caçador de Palhaços (Anual #5)
Batman: A Corja Covarde (#106-111)
Batman: Estado de Medo (#112-117)
Ou acesse o Índice de Reviews para conferir outros títulos!
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.