Arcos Principais: Anjos e Demônios (Angels and Demons) e Fantasmas do Passado (Old Ghosts).
Publicação Original/ Brasil: X-Force #1 ao #13 (Marvel, 2008)/ X-Men Extra #88 ao #99 (Panini, 2009).
Roteiro/ Arte: Craig Kyle & Christopher Yost/ Clayton Crain, Mike Choi e Alina Urusov.
X-Force foi uma série criada por Rob Liefeld (criador do Deadpool e um dos fundadores da Image Comics) em parceria com Fabian Nicieza (Novos Titãs, X-Men Eternamente) no início dos anos 1990, mostrando uma equipe barra pesada comandada por Cable em missões que exigem mais frieza e sangue no olho, coisa que os X-Men não faziam. A série perdurou por incríveis 10 anos, mesmo com a controversa arte/ roteiro de Liefeld! Perto do fim, Peter Milligan assumiu o roteiro e virou a equipe de cabeça pra baixo, colocando novos personagens e criando o que viria a ser a excelente X-Táticos. Com o Complexo de Messias, Ciclope pediu para Wolverine formar uma nova “X-Force”, com os melhores farejadores em campo, para perseguir Cable e a bebê Esperança (ironia do destino). Com o fim da mega saga, a Marvel reformulou as revistas X e começou a publicar o terceiro volume de X-Force, protagonizada pelo Logan e comandada por Ciclope, em missões que exigem violência. E olha, o primeiro ano dessa revista foi de arrebentar! Especial com os primeiros arcos de X-Force, com spoilers para quem nunca leu.
ANJOS E DEMÔNIOS
Antes de comentar sobre a história, importante frisar que o roteiro de X-Force é escrito pela dupla Craig Kyle & Chris Yost, que haviam feito um excelente trabalho na série dos Novos X-Men, então a expectativa é alta. Ciclope utiliza uma casa de campo do Anjo para reunir Wolverine e sua X-Force, mas há um conflito de ideias entre eles. Logan não quer colocar a vida dos outros em risco, mas Scott não vê soluções: Matthew Risman, um dos Purificadores do Stryker, roubou a cabeça de Bastion da SHIELD e precisa ser detido, de um jeito ou de outro. Bastion é um antigo inimigo dos X-Men, um androide que encabeçava a Operação Tolerância Zero no passado, que caçava mutantes. Ciclope teme pelo pior e quer que a X-Force aniquile os Purificadores de uma vez por todas, algo que os X-Men nunca fazem (como matar). O tom é sombrio e reforça esse novo status quo do Ciclope, mais frio que de costume, capaz de tomar decisões violentas e extremas em prol dos mutantes. O que é justificável, já que o Dia M quase exterminou toda a raça mutante, o Complexo de Messias arruinou o Instituto e ainda por guardar rancor do Professor X. Não fica tão forçado, ao contrário do Scott em Fabulosos do Fraction, que até tortura.
Os Purificadores inserem a cabeça de Bastion no corpo morto de Ninrod, gerando um novo androide que eles denominam de “Oráculo“. Tomando a liderança dos Purificadores, ele percebe a presença de Magus no fundo do mar, uma criatura tecnorgânica (pai do Warlock), e o captura. Com suas habilidades alienígenas, Bastion utiliza Magus para controlar e até ressuscitar com o vírus tecnorgânico alguns dos maiores inimigos dos mutantes: Donald Pierce (o líder dos Carniceiros), Bolivar Trask (criador dos Sentinelas), Graydon Creed (político anti-mutante líder dos Amigos da Humanidade) e até mesmo o próprio Reverendo Stryker, entre outros. Toda essa galera reunida numa mesa lembra até a nossa bancada política, uma cena sensacional!
Wolverine reúne X-23 e Apache, não queria envolver a Lupina, porém a garota acaba indo por conta ao QG dos Purificadores e acaba capturada. Agora essa pequena X-Force precisa, além de impedir Risman, salvar Rahne e acabar com Bastion e sua nova trupe. No caminho pro QG, Wolverine não se incomoda em esquentar uma de suas garras com fogo para torturar um cara. Além de mais sombrio, as história são super violentas, recheadas de cortes, membros fatiados e sangue jorrando. Enquanto isso, o pai de Rahne se une aos Purificadores para punir a filha, numa boa reviravolta. Lupina é bastante religiosa, em parte por conta de seu pai que a torturava psicologicamente na infância, dizendo que era filha de Satã.
Kyle & Yost desenvolvem a história rapidamente, apesar da quantidade de informações. São muitos inimigos em diferente frontes. Rahne acaba sendo resgatada pela X-Force mas com uma overdose de heroína. Logan chama Elixir para ajudar na situação, apesar de não querer envolver mais ninguém dos X-Men (a missão e o grupo são secretos), e aproveita para esculachar a X-23, que não estava preocupada em perder Rahne em sua missão de matar Risman. Logan diz que Rahne vale mais que qualquer um que está ali, rendendo um outro ótimo momento em seguida: Lupina desperta da overdose, se transforma em lobo e inicia um ataque feroz em Elixir e depois em Anjo, arrancando suas asas. X-23 sente o cheiro de sangue e, ao perceber que era Rahne e lembrando do que Logan falou, não faz nada; deixa ser atacada também. Algo muito inesperado!
Lupina estava sobre uma espécie de hipnose para atacar o Anjo, levando suas asas para Risman, que utiliza o DNA alienígena dela (que Warren adquiriu quando se tornou um Cavaleiro do Apocalipse) para criar réplicas metálicas e implantar numa legião de Purificadores, gerando um exército alado. Essa era uma das missões de Risman, que havia falhado ao arrancar as asas de Ícaro. Enquanto isso, Warren desperta sem suas asas e começa a passar por uma transformação, surgindo uma nova estrutura metálica e as vestimentas de Apocalipse, saindo pela janela para recuperar o que lhe foi roubado.
Risman e seu exército alado ataca Bastion e seus Purificadores, mas ambos são surpreendidos pela chegada de Anjo fatiando todo mundo e pela X-Force. E a matança come solta: é cabeça voando, braço sendo cortado fora, sangue pra todo lado. Muito sangue! Rahne consegue despertar e acaba vendo seu próprio pai como um anjo, ativando a hipnose e o matando (ou devorando). São muitos conflitos paralelos num único lugar: Eli, um ajudante dos Purificadores, foge dessa loucura e se conecta à Magus. X-23 continua com sua missão e coloca uma bala na cabeça de Risman. Wolverine, mesmo sendo torrado vivo, quase consegue matar Bastion, que percebe a ameaça e foge com seu grupo anti-mutante tecnorgânico.
Com a poeira abaixando, Risman morto e tanto Eli quanto Bastion fugidos, a X-Force passa a lidar com todo o sangue que acumularam e uma Rahne perturbada por ter matado o próprio pai. Num dos momentos mais lindos, Anjo ressurge nu em meio a pilha de cadáveres, com suas asas e pele recuperadas. A arte ficou por conta de Clayton Crain (Carnificina, Motoqueiro Fantasma), que é muito bonita e dinâmica, apesar de um tanto escura. Ele deu uma outra cara para a equipe, inclusive com os novos uniformes pretos, que combinam com o estilo de missão que possuem. Diversas cenas merecem destaque principalmente pela arte, como essa do Anjo. Um excelente primeiro arco, que na época não foi tão bem recebido por conta da violência excessiva e pelos fãs conservadores (como assim os X-Men estão matando?).
FANTASMAS DO PASSADO
O segundo arco é menos impactante, mas ainda muito bom. Mike Choi (Witchblade) substitui Crain na arte e mantém a qualidade, apesar do traço mais tradicional. Rahne ainda não se libertou da hipnose, assim como Anjo de sua vertente de Apocalipse. Quando os dois são colocados frente a frente, é morte na certa. Ciclope não quer chamar Emma pra ajudar, já que prefere não envolver mais ninguém no esquema. Mas X-23 acaba chamando as Cucos, que não são mais leais à Emma (por conta dos clones). Bastion continua colocando cada um de seus homens em seu devido lugar, como Creed na política, incitando o ódio contra os mutantes.
Vanisher conseguiu encontrar uma mostra do Vírus Legado num laboratório do Sr. Sinistro e a X-Force precisa capturá-lo, em mais uma sequência sanguinolenta! Dominó também estava em sua cola e resolve se unir à equipe, soltando piadas do tipo “na minha época os X-Men não faziam isso“. Muito boa. Elixir coloca um tumor em forma de X no cérebro de Vanisher para que ele permaneça fiel à X-Force, já que perdeu o Vírus para clones dos Carrascos e precisa ajudar a encontrá-lo. Como Ciclope comenta numa cena, a vida desse pessoal está sendo “matar ou morrer”!
A equipe entra no Laboratório para recuperar o frasco e inicia um combate com clones de Dentes-de-Sabre e companhia. Aqui temos uma outra ótima cena com a X-23: num determinado momento da luta, alguém diz pro Elixir que eles são apenas clones, não são de verdade; ele não precisa se preocupar, pode matar. E X-23 é um clone do Wolverine. Ou sejE. Quando soldados de Hodge entram no Laboratório, comandados por Bastion, acabam inserindo o frasco do Vírus Legado no corpo de Laura, que começa a entrar em pane. Como ela é um clone e não é de verdade, decide bancar a heroína e pular num poço de lava, pra exterminar o vírus e não colocar ninguém em risco. Felizmente, Elixir consegue limpar seu organismo (mas ela ainda cai).
Enquanto tudo isso está acontecendo, Apache estava lutando com um Urso Espiritual corrompido, recebendo ajuda do Motoqueiro Fantasma num subplot interessante mas que não combinou com toda a narrativa do Vanisher. Mas Kyle & Yost ainda entregam um ótimo arco, eles são feras em desenvolver pequenos dramas como esse da Laura em ser clone e não ter valor. Também foi ótimo trazer Dominó de volta.
QUEM DIABOS É ELI BARD? / LEPRA SUICIDA
Fechando esse especial, um arco curto que precede o evento “Guerra Messiânica”, um crossover entre X-Force e Cable. Apache conta ao restante da equipe como venceu o Urso Espiritual e em como ele foi corrompido por Eli Bard (o que se conectou com Magus e fugiu), narrando sua origem, lá na Antiga Roma quando conheceu Selene e vendeu sua alma. O clima lembra a história Augustus de Sandman, mas o resultado final é bem mais ou menos. Eli seguiu os passos de Bastion e agora está ressuscitando apaches e até Caliban, reencontrando Selene. Já perdi as contas de quantas pessoas foram ressuscitadas.
Enquanto isso, Bastion e a Rainha Leprosa injetam um vírus em alguns mutantes, os enviando aos comícios dos Amigos da Humanidade. Quando o vírus desperta, esses mutantes explodem e matam todos à sua volta. Sim, é morte que não acaba mais! Várias vezes pensei “pra onde esta série está caminhando?”, de tanto corpo no chão. Algo que não se vê com frequência em histórias de Super-Heróis da Marvel/ DC, principalmente nos X-Men que tentam preservar a paz entre humanos e mutantes. Mas uma mudança de rumo muito boa. A Rainha Leprosa ainda consegue roubar a cena em diversos momentos desse final, quando sequestra Satânico, Faísca e a sumida Dinamite. Espero que tenha continuado boa! Tanto o caso dos mutantes-bomba quanto do Apache não são totalmente resolvidos, só serão durante o crossover.
Confira outros reviews de X-Force que fiz aqui no site:
X-Force
Volume 3 (2008-2010): Fase Craig Kyle & Chris Yost (#1-28)
X-Force: Anjos, Demônios e Fantasmas do Passado (#1-13)
X-Force/ Cable: Guerra Messiânica (#14-16)
X-Force/ X-Men Legado: Necrosha (#17-25)
X-Men: Segundo Advento (#26-28)
Fabulosa X-Force
Volume 1 (2010-2013): Fase Rick Remender (#1-35)
Fabulosa X-Force: Solução Apocalíptica e Nação Deathlock (#1-7)
Fabulosa X-Force: A Saga do Anjo Negro (#8-19)
Fabulosa X-Force: Extramundo (#20-24)
Fabulosa X-Force: Execução Final (#25-35)
X-Force
Volume 6 (2020-2022): Fase Benjamin Percy (#1-26)
X-Force: A Nova CIA de Krakoa (#1-6)
X-Force: Um Exercito de Dominós e a Terra Verde (#7-12)
X de Espadas: Megassaga em Defesa de Krakoa (#13-14)
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.