Arcos Principais: Divididos (Divided) e SFX.
Publicação Original/ Brasil: Uncanny X-Men #495 ao #503 (Marvel, 2008)/ X-Men #88 à #93 (Panini, 2009).
Roteiro/ Arte: Ed Brubaker, Matt Fraction/ Mike Choi, Greg Land
O Complexo de Messias reformulou toda a linha de revistas X, mudando muitas coisas na mitologia dos X-Men. Uma delas acontece em Fabulosos, logo nos primeiros arcos. Por décadas o QG da equipe foi na Mansão de Xavier em Westchester, com raras exceções em que se firmaram em outros lugares (como na Austrália num tempo). Mas com a guerra pela bebê messias, a Mansão foi destruída pela enésima vez. Scott e Emma decidem, então, empacotar o que sobrou e mudar para São Francisco! Especial com os dois primeiros arcos de Fabulosos, que marcam o fim da fase com o roteiro de Ed Brubaker (Mulher-Gato) e início da fase com o Matt Fraction (Gavião Arqueiro). Contem spoilers pra quem não leu.
Interessante comentar que Fraction e Brubaker escrevem o roteiro destes arcos em conjunto e já trabalharam juntos em outra ocasião, na série do Punho de Ferro. Eles que comandam a mudança dos X-Men para a badalada São Francisco, conhecida por sua incrível diversidade. É lá que ocorre, por exemplo, uma das maiores e mais famosas Paradas LGBT do mundo! Tanto a mudança quanto o roteiro de Fraction sofrem algumas críticas dos fãs. A primeira impressão não foi tão positiva, mas veremos no que deu!
DIVIDIDOS
Se tem uma coisa no Universo X que só de ver já me desestimula é a Terra Selvagem. Desde que estou lendo e resenhando as revistas X, não lembro de uma história boa que se passou lá! Pelo contrário, como no terrível arco com os X-Treme X-Men. Após o Complexo, Emma e Scott decidem descansar na… Terra Selvagem. Os dois tentam curtir o momento, com cenas e diálogos que os conservadores devem ter ficado de orelha em pé! A história do bebê mutante deixou todo mundo assanhado, como a própria Rainha Branca comenta. O passeio é interrompido por uma mensagem do Anjo, que foi procurar Hepzibah em São Francisco e encontra a cidade mergulhada em sua versão de 1969. Todo mundo começa a agir como hippies, inclusive o Anjo, e perdem a noção da realidade.
Enquanto isso, o trio Noturno, Colossus e Wolverine dão um rolê pela Europa, tentando entender o que aconteceu no mundo. Pietr, por exemplo, visita o túmulo de seus pais. E como TODA história com o Wolverine, eles estão num bar e – de repente – surge alguma gangue mal intencionada, que entra em conflito com os heróis. E não ocorre diferente aqui. Porém a mafia da Russia pensava que Colossus estivesse morto, enviando alguns Sentinelas para capturarem o trio. Há uma cena de ação bem interessante no ar, mas são capturados e colocados na Sala Vermelha.
Neste lugar são torturados por um chefão genérico com um motivo bem pífio: quer saber porque todos os seus soldados mutantes perderam os poderes no Dia M e os X-Men, não. Só que ele fala de mais e acaba recebendo porrada. Com medo, libera um de seus torturados: o Ômega Vermelho, mas sem a armadura. Pelo menos a luta entre eles é muito boa! Ômega está lindão sem aquele capacete estranho, sem contar que seus tentáculos rendem ótimas sequências, além do seu toque venenoso.
Em São Francisco, Emma e Scott investigam a estranha ilusão ou realidade alternativa que acometeu a cidade. Há uma “deusa” por detrás da magia, que todos veneram. Há, também, um Celestial pairando no meio da cidade que é um mistério. Emma consegue localizar a fonte dos poderes, desmanchando toda a ilusão, mas deixando a “deusa” fugir. Como forma de agradecimento, a Prefeita da cidade faz uma oferta aos X-Men: que se mudem pra lá. Scott e Emma, os diretores do Instituto Xavier, aceitam! O clima desse primeiro arco é todo hippie-anos-60-70-psicodélico, do qual gostei bastante (apesar de ser suspeito pra falar). As roupas merecem destaque, beirando o brega mas não chega a ser ridículo como muitos uniformes por aí. Em algumas cenas, como essa de cima, o pessoal tá bem maluco beleza se encantando com a pirotecnia no céu. A arte é do Greg Land (Derradeira Canção da Fênix), que varia entre cenas belíssimas e outras extremamente previsíveis. Ele tem o costume de repetir posições e rostos/ fotografias em suas HQs. Quem viu uma vez, já sabe como vão ser as outras.
SFX
Ter um membro milionário deve ser uma regra oficial das super-equipes. Vemos isso na Liga da Justiça com o Batman ou nos Vingadores com o Homem de Ferro. E os X-Men não são exceção: Warren Worthington III, o Anjo, é o milionário da equipe que auxilia ($$) na construção de uma nova base nos arredores de São Francisco, abandonando de vez Westchester. Scott quer que o novo Instituto funcione como um Santuário para os mutantes que sobraram no mundo, lembrando a ideia do Isolacionista em X-Factor.
Mas, como de costume, nem tudo são flores na vida dos X-Men. Scott e Emma visitam uma exposição de um artista polêmico, que colocou dois Sentinelas originais para serem expostos, criticando a presença dos mutantes. Muito legal os autores colocarem essa questão artística, que me fez lembrar de um dos primeiros arcos de Ex Machina, onde o Prefeito Mitchell precisa lidar com a pichação de um artista sobre uma foto do Presidente Lincoln, com a palavra “Crioulo”. Mas a sensação boa passa quando Magneto invade a vernissage, ativa os Sentinelas e inicia um ataque.
Quando começamos a perguntar de onde veio seus poderes, já que ele estava sem, descobrimos se tratar de um traje especial projetado pelo Alto Evolucionário que simula a ação. Os dois estão mancomunados pela “salvação da espécie” e não concorda com o Santuário. Magneto sempre foi o maior antagonista dos X-Men, ao mesmo tempo em que é o símbolo da supremacia mutante sobre os humanos. Vê-lo com um traje foi de doer! Errou feio! Ridículo… Não o bastante, uma gangue auto-intitulada Culto do Inferno ataca a Fada, deixando-a gravemente ferida. Scott captura um desses caras e o tortura! Jamais imaginaria isso dele, mesmo sendo o cara que é!
Esse início pós-Complexo, com a mudança da equipe pra São Francisco, não é surpreendente. Mas achei um pouco melhor que sua contra-parte, com as toneladas de flashbacks de Charles Xavier em X-Men Legado. O Culto do Inferno é impedido pela própria Fada, descobrimos ser liderado pelo Empata e que tanto a Mestra Mental quanto Madelyne Prior estão de volta. O clima é colorido e um ponto positivo é ver todos alegres e esperançosos, como quando Scott transmite pra todos os mutantes na Terra que agora eles possuem um lar. Mas a impressão que fica é de diversas boas ideias (como a própria mudança, a exposição de arte, o clima 70’s) que foram mal desenvolvidas, além de personalidades forçadas (a tortura e o traje). Juro que queria ter gostado mais! Emma sempre anda seminua, mas ela conseguiu se superar nesses arcos. Os feromônios da galera estão a mil! É corset, chicote, S&M…. espero que Fraction teve o mesmo carinho com o lado masculino!
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.