Arcos Principais: A Saga do Anjo Negro (The Dark Angel Saga).
Publicação Original/ Brasil: Uncanny X-Force #8-19 (Marvel, 2011)/ X-Men Extra #125-127, #129, #131-134 e #138-139 (Panini, 2012).
Roteiro/ Arte: Rick Remender /Billy Tan, Mark Brooks, Jerome Opeña
A Saga do Anjo Negro foi um arco enorme publicado em 2011 na Fabulosa X-Force, mostrando o Anjo sendo tomado totalmente pela influência do Apocalipse e, com o vilão fora de cena, ascendendo como o futuro líder dos Akkaba. Muito sangue, mortes, Cavaleiros do Apocalipse e versões alternativas em mais de 10 edições que foram compiladas em dois encadernados americanos: The Dark Angel Saga Book 1 e 2 (Uncanny X-Force #8-19) e que saíram por aqui no mix X-Men Extra. Review especial desse arco que deu uma bela modificada no Anjo, com spoilers!
A SAGA DO ANJO NEGRO
O título pega carona num dos clássicos dos X-Men, que foi a Saga da Fênix Negra no fim dos anos 1970, e tenta, à sua maneira, modificar e colocar um fardo sobre os ombros do Anjo assim como foi pra Jean. Apesar do arco em si ter 8 partes (edições Uncanny X-Force #11-18), os eventos começam já na edição #8, numa pequena confusão: a X-Force encontra o Rei das Sombras numa missão, colocando Warren (que vem sofrendo com a influência de Apocalipse) em desvantagem e desprotegido. A Psylocke até tenta subir algumas barreiras em sua mente, mas o Rei das Sombras meio que consegue liberar o Arcanjo delas e Warren se transforma 100%. Logan liberta o Fera Negra, pedindo ajuda para lidarem com isso, e a única maneira de impedirem que o Arcanjo tome conta de uma vez e seja o sucessor do Apocalipse é utilizando uma “Semente da Vida“, geralmente encontradas em Celestiais, que poderão consertá-lo. Porém a única semente que o Fera Negro possui está em seus antigos aposentos, na Era do Apocalipse. Assim toda a equipe viaja para essa outra realidade. Esse início tem alguns destaques, como a batalha contra o Rei das Sombras, que não lembro se já tinha visto ele nessa forma humana nos últimos tempos, mas outros momentos bem mé. Um deles é quando Magneto aparece pra pedir um favor ao Wolverine (que ele mate um nazista), como se ele mesmo não pudesse fazer. Acho lamentável o que fizeram com ele nessa época, de vilão maior pra um pobre coitado.
Entre as edições #11 e #13, a equipe está na Era do Apocalipse tentando pegar a Semente da Vida, mas são atacados por X-Men dessa realidade, rola aquele velho desentendimento que atrapalha todos os planos e mais batalhas. Não sou muito fã dessas realidades paralelas, dando a impressão que os problemas ficarão por isso mesmo. Consequentemente, não achei aquela Brastemp essa primeira parte da Saga do Anjo Negro. Na Era do Apocalipse, a equipe acaba tentando pegar outra Semente da Vida, para ajudar os X-Men de lá, mas acabam tendo que escolher o futuro de apenas uma. E a Jean desse rolê, que é bem mais insana que a da realidade “normal”, acaba usando seus poderes (e com o apoio do Teleporter), leva todos de volta ao seu lar e com a Semente em mãos, já que a realidade dela já tá cagada mesmo. E é a partir daqui que as coisas realmente começam a melhorar!
Na segunda parte do arco principal, temos o retorno de Jerome Opeña (Vingadores: A Ira de Ultron) aos desenhos, o que faz uma diferença e tanto! Além das cenas ficarem mais bonitas, a ação retorna à realidade “normal” e as coisas passam a ter um outro peso. O Arcanjo toma o controle de Warren e adentra à Metrópole Akkaba, uma cidade inteira de fiéis de Apocalipse, embaixo do Polo Norte. Ele, que agora é o “novo Apocalipse”, pega a X-Force de surpresa, nocauteando todo mundo e deixando apenas a Psylocke intacta. Ele e seus 4 Cavaleiros (que surgiram em A Solução Apocalíptica, e são super carismáticos) dão início ao plano de dominar o mundo. A partir daqui o negócio realmente esquenta. Arcanjo liberta o Genocídio, que é o Holocausto dessa realidade, e o usa para exterminar toda uma pequena cidade, dando jus ao seu nome. Já temos o primeiro grande impacto dessa Saga: o genocídio, literalmente, de milhares de pessoas a comando do Arcanjo. Ele também rouba o Mundo do Fantomex e, a partir dele, começa uma espécie de “terraformação” na cidade destruída, criando vida ao seu redor e a evoluindo em milhões de anos em poucas horas, criando uma raça totalmente nova, que ele planeja transformar em seu povo. Opeña cria cenas incríveis, como essa da transformação/ evolução de espécie e outras mais abertas, com escadas e capas, que lembram Blade Runner ou Ghost in The Shell.
Enquanto isso, Psylocke finalmente faz alguma coisa e dá um nocaute na Cavaleira Gueixa e o Deathlock deixa seu corpo agir por instinto e consegue eliminar mais dois Cavaleiros. Wolverine, Deadpool e Fantomex estão ocupados lidando com um Homem de Gelo e um Blob de outra realidade (e bem mais poderosos, como de costume). Apesar das sequências serem animais, prendendo a atenção do leitor, e a caracterização animal que Opeña dá para os personagens (o Blob é insano), a gente fica questionando o quanto a Psylocke poderia ter impedido muito disso e não fez nada (espero que tenha sido tratado nos arcos seguintes). Quando ela realmente atira pra derrubar, ela erra e é nocauteada. Quer dizer… O plano que o Arcanjo tinha pra ela, ainda levando em consideração as memórias do Warren, era de transformá-la na guarda-costas e próxima sucessora do Apocalipse (no caso, ele mesmo). E ele consegue, implantando nela a Semente da Morte. Mas a transformação não dura nem duas edições, quando a Jean da Era do Apocalipse aparece com seus amigos pra ajudar a equipe.
Assim fico dividido entre os pontos positivos e negativos dessa Saga. Há algumas coisas meio difíceis de acreditar, como essa cegueira da Psylocke. Outra ponto que ficou meio broxante é a “arma secreta” do Fantomex, que ele vinha cultivando no Mundo e pediu que fosse solto pra aniquilar o Arcanjo. A arma não passa de uma espécie de clone do En Sabah Nur, mas ainda jovem, que toma um cacete e logo é tirado de cena. Quer dizer… mais uma expectativa, que nem dura muito. Um outro ponto que fiquei dividido é quando a Jean incorpora a Fênix e ataca o Arcanjo, mas acaba falhando miseravelmente. A desculpa é que a Fênix entendeu que as ações do novo Apocalipse é justamente o que ela sempre quis que sua hospedeira fizesse. Uma justificativa interessante, mas não sei se comprei tanto assim.
O final é bacana, mas também se apoia num velho truque de narrativa. Betsy consegue (aleluia!) dar a apunhalada final no Arcanjo, liberando-o da influência do Apocalipse e, consequentemente, fazendo-o voltar ao normal. Mas ele retorna sem memória, com a frase “Quem é você?” pra ela. Espero que não tenham o desculpado tão fácil pelo que fez ou por ela não ter agido logo. Fantomex, Betsy e Deathlock recolhem os pedaços do Deadpool e Wolverine pelo caminho e partem em retirada. Uma Saga bastante extensa, com seus defeitos e expectativas que não se sustentam (como a Psylocke do mal, a arma secreta do Fantomex, toda a intriga na Era do Apocalipse), mas com tantas outras qualidades, principalmente em relação à cidade dos Akkaba, que não sabia que existia e dá toda uma nova estrutura e mitologia ao Apocalipse, as atitudes do Arcanjo e sua frieza, a arte incrível do Opeña, ao Homem de Gelo Múltiplo (elevando o potencial do Bob a outro patamar). Trata-se de uma Saga que, além de qualquer coisa, funciona pra colocar o Anjo em outro nível. De mutante playboy e um rostinho bonitinho pra algo mortífero e assustador, mas ainda elegante. Não achei que teve o mesmo impacto que em Anjos e Demônios, principalmente por ser grande demais, mas ainda é uma ótima saga.
A edição #19 fecha toda essa saga, com uma história especial mostrando qual a relação do Fantomex com o Evan, o clone do En Sabah Nur criança, sendo enviado para estudar na recém-inaugurada Escola do Wolverine. Também é interessante por colocar mais um membro na equipe: o Noturno da Era do Apocalipse, que resolve ficar e ir atrás de seus conterrâneos, o Blob e Homem de Gelo.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.