Arcos Principais: Sem título.
Publicação Original: X-Force #1-6 (Marvel, 2020)
Roteiro/ Arte: Benjamin Percy/ Joshua Cassara.
Após os eventos de Dinastia X/ Potências de X, quando Charles Xavier anunciou ao mundo a nova ilha nação mutante Krakoa, a Marvel reformulou todas as revistas X. O carro chefe continuou sendo a X-Men, com roteiro do próprio Jonathan Hickman (e que já fiz o review do primeiro arco aqui!), enquanto as demais revistas abordam outros núcleos de personagens. A revista X-Force, escrita pelo Benjamin Percy, foca num núcleo barra pesada de X-Men, como Wolverine e a Dominó, que ficarão responsáveis por lidar com problemas extra-oficiais envolvendo Krakoa, resolvendo as situações nos bastidores. Review especial com spoilers desse primeiro arco!
A X-FORCE
A X-Force original nasceu no começo dos anos 1990 e era liderada pelo Cable, sendo uma equipe com pegada militar e agressiva, resolvendo os problemas de maneira mais violenta que a equipe tradicional. Essa característica ficou bastante evidente nas reformulações recentes que a equipe ganhou. Em 2008, por exemplo, a X-Force ganhava uma nova revista escrita pela dupla Craig Kyle & Christopher Yost, uma fase bastante elogiada e extremamente violenta, trazendo mutantes como o Anjo, Wolverine e a X-23 enfrentando os maiores grupos anti-mutantes da Terra (leia o review dos dois primeiros arcos aqui: Anjos, Demônios e Fantasmas do Passado). Em 2010 foi a vez de vermos a Fabulosa X-Force, escrita pelo Rick Remender, quase uma repaginação da equipe anterior e também com ótimas tramas, como a Saga do Anjo Negro. Então confesso: minhas expectativas estavam altas para essa nova X-Force, agora escrita pelo Benjamin Percy (de Jovens Titãs Rebirth) e em meio à era Krakoana.
A NOVA CIA DE KRAKOA
A primeira edição estabelece alguns novos pontos (e funções) para certos personagens. Tom Cassidy agora funciona como um hospedeiro de Krakoa, podendo sentir e se conectar diretamente com a Ilha, enquanto a Sábia monitora a segurança local e o Fera realiza pesquisas científicas com materiais da Ilha, por exemplo. Existe até uma espécie de vegetação no entorno da ilha que é capaz de avisar caso surja algum invasor. Tudo muito seguro, né? Só que não. Enquanto vemos um flashback da Dominó em missão, disfarçada numa reunião anti-mutante (que lembra muito o começo da X-Force 2008), a ilha é atacada por cima: um grupo salta de um avião, caindo em Krakoa, matando uma porção de mutantes, inclusive o Professor X, antes de serem abatidos.
Apesar de um início interessante e empolgante, além dos desenhos do Joshua Cassara (Falcão), a história é meio forçada. Toda uma narrativa em torno da segurança da ilha, para meia dúzia de inimigos conseguir furar a defesa externa e, além de tudo, matar o Charles! Claro que há toda uma explicação, que fica até evidente desse início: os inimigos estão com algumas modificações na pele e, lembrando da missão da Dominó, não é difícil de ligar os pontos e perceber que eles estão com a pele dela, podendo ter adquirido a “sorte” da mutante e/ ou terem passado despercebido pela segurança anti-humana por conta disso. Mesmo assim: só bastou isso pra desequilibrarem toda a segurança?
E a teoria da pele da Dominó é confirmada na segunda edição, quando Wolverine e Kid Ômega se juntam para investigarem a origem dos inimigos (e também o sumiço da Dominó) e se deparam com uma espécie de fábrica de super-humanos, além de encontrarem a própria Dominó entubada e com metade da pele arrancada! Cena pesada! Enquanto isso, na Ilha, Sábia analisa os corpos dos soldados inimigos e o Fera, junto da Jean, tentam encontrar os demais Cérebros que o Professor escondeu, já que o que ele estava usando foi danificado e, sendo assim, pode ter prejudicado os backups para os protocolos de ressurreição.
Mas superado alguns “exageros” desse início, a narrativa é bastante empolgante! Até mais que a da revista principal. Tudo muito frenético, rápido, violento e recheado de ação. Dominó é resgatada e ganha uma espécie de escudo psíquico e também uma arma orgânica do Forge, para lidar com a perda de sua pele. O Professor também renasce e usa seu capacete quebrado como uma espada. Para a impressa, que estava suspeitando da morte do Charles (o ícone dessa nova independência mutante), a ilha finge que nada aconteceu e o Professor renascido até mesmo sai da ilha para dar entrevista e comprovar que está vivíssimo. E é pensando em tudo isso que Charles cria a nova X-Force ainda na edição #3, para investigar o ataque e também para funcionar como uma CIA mutante. Wolverine, Fera, Jean Grey, Sábia, Kid Ômega e Dominó são os membros principais.
A situação é exposta durante uma reunião do Conselho Silencioso, com cada membro dando sua opinião. Enquanto alguns são a favor, outros questionam essa tentativa de imitar algum órgão governamental dos humanos. Como se não tivesse feito isso antes, né? Ou como se não estivessem se reunindo com vilões agora, né? A situação piora quando uma base de Krakoa é invadida por uma nova leva de super soldados e a Dominó, Kid Ômega e o Wolverine vão atravessar um dos portais e são pegos de surpresa por uma bomba. E essa é uma das sequências mais chocantes de todo o arco, nos lembrando do porque a revista se chama X-Force! O Logan recebe a explosão enquanto atravessava, tendo seu corpo destroçado ao meio: suas pernas ficando para trás com a Dominó e o restante do seu corpo indo parar no meio dos inimigos. E o maior erro deles foi pensar que o Wolverine, mesmo metade dele, não causaria problema!
O que se sucede é uma sequência de muitas mortes. Wolverine fatiando humanos (mesmo sem as pernas!), Dominó quebrando o pescoço dos soldados e até um momento para o alívio cômico, como quando o Forge (dentro de uma super armadura) tenta juntar as duas partes do Logan! O Fera ficou responsável por liderar essa nova equipe (à distância, em Krakoa), mas perde o controle e não consegue segurá-los em campo, inclusive gritando para que deixem pelo menos um vivo para contar a história. E lembrando um pouco a X-Force de 2008, os vilões aqui fazem parte de um grupo anti-mutante que permanece um mistério, cujo líder é um excêntrico com tatuagem de pavão.
A edição #6 funciona meio que isoladamente. A X-Force invade um pequeno país que também vem desenvolvendo tecnologia orgânica e que não quer reconhecer a soberania de Krakoa. Alguns cientistas desse país vem, inclusive, se transformando num tipo de “Monstro do Pântano“. A X-Force age e a gente já não sabe mais quem é mocinho e quem é vilão, tamanha chacina que acontece. O próprio Fera, que tá se achando o máximo com sua posição, manda matar todos os cientistas, temendo que possam se transformar em Sentinelas orgânicos. E vale lembrar que a Jean Grey faz parte da equipe, mas que não tem muita voz ou destaque.
Um primeiro arco meio tumultuado, com altos e baixos. O +18 que faz parte da história da equipe e a gente gosta está aqui: temos muitas mortes, lutas sangrentas, Dominó insana e o Wolverine fora de controle. Kid Ômega é uma grata surpresa, gosto muito dele e acredito que possa ser bem desenvolvido na equipe. A Sábia é outra boa surpresa, já que há tempos não ganhava destaque em lugar nenhum. Então ponto para o roteirista. Outras situações beiram o exagero e o caricato, como armaduras ou a segurança de Krakoa (que parece não valer nada). Sem contar no Professor X, o maior telepata do planeta, morrendo logo na primeira edição. Mas de maneira geral, gostei da leitura, a adrenalina da história nos mantém ligado e os desenhos do Cassara são excelentes, com vários ganchos entre as edições e cenas realmente chocantes. Um outro ponto de destaque está em Tom Cassidy, que vem sofrendo alguns distúrbios mentais e que possui poderes semelhantes aos da Hera Venenosa (minha batvilã preferida), rendendo diversas cenas engenhosas.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.