Arcos Principais: Damian Sabe o Que é Melhor (Damian Knows Better).
Publicação Original/ Brasil: Teen Titans Rebirth e Teen Titans #1-5 (DC, 2016)/ Jovens Titãs #1-5 (Panini, 2017).
Roteiro/ Arte: Benjamin Percy / Diogenes Neves, Jonboy Meyerse e Khoi Pham.
O evento DC Rebirth (DC Renascimento) renovou todo o universo da editora, não de maneira radical como foi com Os Novos 52, mas permitindo um recomeço e um ponto de partida pra novos leitores. Os Novos Titãs é uma equipe jovem, em contra partida dos Titãs, e que sempre trouxeram questões pertinentes ao universo dos adolescentes. Em seus mais de 50 anos de publicação, a equipe teve diversas formações, mas geralmente mantendo alguns membros-chave. Mutano, Estelar, Kid Flash e a Ravena, por exemplo, estiveram em quase todas. Um outro ponto é a presença de algum Robin, como Dick Gayson nos anos 1980, que se tornaria o Asa Noturna; Tim Drake nos anos 2000 e já como o Robin Vermelho nos Novos 52. Agora, no Rebirth, temos um retorno às origens: Damian Wayne, filho do Batman e atual Robin, reunindo Mutano, Ravena, Estelar e o Kid Flash pra formarem os novos Jovens Titãs nesse primeiro arco, “Damian Sabe o Que é Melhor“. Um começo que promete, mas entrega algo que já estamos acostumados a ver. Review sem muitos spoilers.
Interessante comentar que o título original, Teen Titans, foi adaptado no Brasil de várias maneiras, sendo Novos Titãs a versão que pegou. Mas para o Renascimento, a Panini traduziu como Jovens Titãs, o nome que também recebem as versões animadas da equipe.
JOVENS TITÃS REBIRTH
A edição especial Teen Titans Rebirth precede a série principal, apresentando pro grande público quem são esses personagens, como interagem e qual será o gatilho que os unirão. Assim temos o Mutano, sempre brincalhão e que pode se transmutar em formas animais; a reclusa Ravena, com poderes mágicos e trevosos; Kid Flash (Wally West), ainda novato e lidando com sua super velocidade; e a Estelar, do planeta Tamaran, que se sente uma estranha na Terra e possui poderes solares. Cada qual vivendo sua vida, salvando o dia quando pode. Entra na jogada o Damian Wayne, que isoladamente ataca cada um, de surpresa, os reunindo à força. Benjamin Percy é o roteirista, que também assume a série do Arqueiro Verde nesse Rebirth, optando por algumas velhas sacadas. Damian nunca foi um poço de simpatia, pelo contrário, é arrogante e um pé no saco. O modo como ele age, mesmo com boas intenção, é duro de engolir.
DAMIAN SABE O QUE É MELHOR
Já na série principal, vemos que Damian deseja formar uma nova equipe: os novos Jovens Titãs. Ao atacar cada um individualmente, queria mostrar o quanto são fracos separados, mas forte juntos. Sim, é o velho discurso de união. E esse é um ponto que não gostei nesse arco: há muita conversa altruísta. Os Novos Titãs sempre foram carismáticos, o Mutano e a Ravena estão entre meus personagens favoritos, então a minha expectativa estava lá em cima quando comecei a ler. Talvez por isso não tenha curtido o tanto que queria. Pra ilustrar essa questão, por exemplo, o Damian é muito chato e fez o que fez, mas mesmo assim os outros dão uma colher de chá. Claro que tem uma pequena discussão, mas no fim das contas acabam relevando o fato de terem sido sequestrados e afins. Pra completar, é aniversário de 13 anos do pivete, período em que passaria por um ritual de amadurecimento pela Liga dos Assassinos. Por ter largado seu passado pra trás, seu avó Ra’s Al Ghul enviou o grupo Punho do Demônio, também formado por cinco crianças, atrás deles. E aí você já viu tudo: um inimigo pra cada um, contra-partes como Mutano Vs outro transmorfo animal e por aí vai.
É o mote pra formação da nova equipe, lidar com o Punho do Demônio e tentar, de alguma maneira, aguentar o Damian e ajudar a transformá-lo em alguém melhor. Um ponto interessante é que esse outro grupo mirim era pra ter sido, originalmente, liderado pelo próprio Damian. Ele seria um dos sucessores de Ra’s, mas acabou largando tudo isso e gerando o ódio tanto do avó quanto de sua prima, Mara, que sempre viveu à sombra do pivete e agora pode mostrar todo o seu potencial. Além dela, completam a equipe Stone, Nightstorm, Plague e Blank, todos muito parecidos com os ninjas de Naruto. Ah, também temos o dragão-morcego Golias, monstro de estimação do Damian.
O design dos personagens sofreu algumas mudanças. O Kid Flash ficou muito bom, com um raio cortado no cabelo. Enquanto Estelar, Mutano e Ravena largaram o manto horrível que carregaram nos Novos 52. Estelar deixou aquela heroína hiper-sexual e retomou a pegada de adolescente, a mais velha da equipe. Já a Ravena e o Mutano largaram sua versões trevosas e muito diferentes para algo mais tradicional. Ficaram melhores, mas ainda não 100%, pelo menos nesse primeiro impacto. Ele ganhou uns tufos no rosto, reforçando sua aparência bestial; enquanto ela ganhou mechas no cabelo, numa pegada de menina gótica. Quando todos finalmente se dão conta de que podem trabalhar em equipe, temos outro momento brega. Cada um falando do quanto teve um passado cagado e por isso entendem o Damian, mas que nada está perdido. Ah, e arrogância deve ser de família, porque a prima dele é igualmente chata.
Damian Sabe o Que É Melhor é um primeiro arco que segue a fórmula de “reunião” das HQs de heróis. Não é ruim, há vários pontos interessantes. Ver o Mutano preocupado (aparentemente só ele e a Ravena eram da formação anterior, já que a Estelar estava em outra e o Kid Flash é novato) em perder mais um Robin mostra a responsabilidade que ele carrega, apesar da máscara de sempre otimista e brincalhão. O Kid Flash é inseguro, rendendo outras questões boas. Há a participação especial do próprio Ra’s Al Ghul, da Talia e também do Batman, além do ressurgimento da Torre Titã em São Francisco. Mas por outro lado, a velha história de separados é ruim, juntos é melhor; de que você pode ser quem você quiser, seu passado não te define; as brigas entre equipes equivalentes; e cia. são já conhecidos de guerra e não empolgam tanto. Sem contar que todos aparentam ter uns 15 anos, com exceção da Estelar que é mais velha, e são liderados por alguém que acabou de completar 13. Sim, não suporto esse moleque.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.