[Review] X de Espadas: Megassaga em Defesa de Krakoa!

Arcos Principais: X de Espadas.
Publicação Original: X of Swords: Creation, X of Swords: Stasis, X of Swords: Destruction, X-Men #12-15, Excalibur #13-15, Marauders #13-15, X-Force #13-14, New Mutants #13, Wolverine #6-7, Cable #5-6, Hellions #5-6 & X-Factor #4.
Roteiro/ Arte: Jonathan Hickman & Vários.

Em setembro de 2020 a Marvel deu início à sua primeira megassaga mutante após os eventos de Dinastia X/ Potências de X (que marcou um novo status quo dos X-Men sob o comando do autor Jonathan Hickman). Denominada X de Espadas (X of Swords, no original), foi uma saga gigantesca de 22 edições que percorreu praticamente todas as revistas X entre setembro e novembro de 2020, como a titular X-Men, Excalibur, Carrascos, X-Force, Wolverine, entre outras. E ao contrário de outras sagas que envolvem diversos títulos e possuem “tie-ins“, que são histórias relacionadas à saga, mas que não são necessariamente essenciais, em X de Espadas todas as 22 edições são “essenciais”, com um capítulo começando de onde o anterior parou. O que pode ser muito bom ou um verdadeiro pesadelo.

Na história, os 4 Cavaleiros do Apocalipse originais (e filhos do En Sabah Nur) ressurgem a fim de dominar os mundos e, principalmente, a terra de Krakoa, já que eles são nativos da terra de Arakko (a “irmã” de Krakoa). Saturnyne, a Majestrix Omniversal do Extramundo, propõe um torneio entre os campeões de Krakoa e de Arakko para determinar qual terra sucumbirá à outra. E para participar do Torneio, cada equipe precisará reunir suas 10 Espadas a partir de alguns enigmas/ premonições. Daí o nome “X de Espadas”. Encabeçada pelo próprio Jonathan Hickman e com uma equipe de autores e desenhistas, a saga cria e nutre uma grande expectativa em torno do torneio, escorrega um pouco nas batalhas, mas recupera o fôlego perto do final. Review especial gigante com spoilers!

O TORNEIO ENTRE KRAKOA E ARAKKO

Logo no início somos apresentados aos 4 Cavaleiros do Apocalipse originais, filhos biológicos do próprio Apocalipse (En Sabah Nur) e Gênese, sua esposa, nascidos há milhares de anos. Eles destruíram uma das terras do Extramundo e estão indo em direção à Krakoa. No passado, tanto os Cavaleiros quanto Gênese foram exilados de sua terra em prol de uma guerra (que é um pouco confusa nessa história toda), deixando o Apocalipse para trás.

Krakoa possui um portal com ligação ao Extramundo e o Conselho discute se ele deverá ser destruído ou não (para impedir que cheguem à ilha). Mas a própria Krakoa dá sua opinião e, por um motivo que fica claro mais pra frente, ela não fechará o portal, obrigando-os a um plano B. Apocalipse reúne um time de mutantes e vão para o Extramundo verificar de perto o que está acontecendo e se deparam com o Cavaleiros, dando início à uma batalha. Descobrimos que o Invocador, neto do Apocalipse, estava infiltrado na ilha esse tempo todo, sendo um traidor e estando do lado inimigo. As baixas da batalha são fortes, com o Pedreira sendo morto.

Saturnyne, a Majestrix do Extramundo, surge para apaziguar os dois lados e demonstra todo o seu poder, exigindo respeito e ordem no lugar. Ela propõe um Torneio entre os dois lados, dando tempo para que cada lado se prepare e reúna suas 10 Espadas. A Saturnyne é uma personagem interessante e poderosa, lembrando um pouco a Emma Frost (no visual e na personalidade) e, além de telepata, também consegue manipular a realidade e é a líder da Tropa dos Capitães Britânia. Também atua como uma feiticeira e cartomante, lendo o futuro e distribuindo cartas (com referência ao Tarô) para definir as regras e escolhidos do Torneio.

De volta à Krakoa, começamos a ver as baixas do lado dos X-Men. Eles tentam reviver o Pedreira e percebem que o que nasceu não é “o” Pedreira que morreu, mas sim uma versão dele entre milhares de possibilidades. Por segurança, os Protocolos de Ressurreição são cancelados, com a morte de um mutante no Extramundo representando, de fato, sua morte. Apocalipse também está bastante machucado, sendo assessorado pelos curandeiros. A Polaris utiliza dos restos do Pedreira para construir uma espécie de chão/ portal para que os mutantes escolhidos cravem suas Espadas. A primeira mutante dos enigmas é a Magia, que já se prontifica para a batalha.

Esse início, apesar de um pouco confuso (principalmente em relação à história de Arakko e Amenth), é muito empogante. A cena que encerra essas duas primeiras edições, com a Magia fincando sua espada no chão, é incrível. A gente fica querendo saber quem serão os outros escolhidos. Destaque também para a Monet, que participa da primeira batalha no Extramundo, e também para o visual dos Cavaleiros do Apocalipse.

AS 10 ESPADAS

Essa saga lembra um pouco as dos anos 1990, no quesito exagero. Tudo é bastante grandioso, envolvendo muitos (muitos, mesmo) personagens, locais, armas, sub-histórias e por aí vai. Mas de uma maneira mais elegante que àquelas noventistas, digamos assim. Após a Magia ser a primeira participante oficial do Torneio, temos o Wolverine indo atrás da espada Muramasa numa trama que se estende por algumas edições. A partir daqui também vamos sendo apresentados aos guerreiros de Arakko. No caso do Wolverine, ele precisa lidar com o Solen, que também está em busca da Muramasa. A trama traz antigos amores e intrigas do Logan à tona, o Tentáculo e a própria Besta num encontro engraçado, pra dizer o mínimo, no Inferno. Destaque para os desenhos de Viktor Bogdanovic (Aquaman: Mãe Tubarão), que possui um estilo de traço fino e delicado que gosto muito, passando uma imagem clean e moderna.

A Tempestade fica encarregada de portar a sagrada espada wakandiana Tormenta dos Céus, que é passada de geração em geração entre os Panteras. Ela chega a ir até Wakanda pedir a espada à rainha Ramona, mas ela só pode ser passada pelo Pantera Negra (que não está na cidade). Como a Tempestade não pode esperar, ela acaba roubando. Num dado momento a Deusa dos Raios se depara com o Pantera e precisa explicar a situação, o que chega a ser meio bizarro, já que tudo fica com uma cara de Mortal Kombat, de que “estamos indo para a Exoterra num torneio mortal em defesa da Terra“. E, realmente, esse é o espírito da coisa. Um ponto citado e que é interessante é o de que Wakanda não assinou e reconheceu à independência de Krakoa como nação.

Destaque para Novos Mutantes #13 (o capitulo 7) com os desenhos do Rod Reis (Novos Mutantes: Contra o Império Shiar), que possui um estilo muito bonito de arte, com diversos efeitos interessantes, algo mais pintado e que dá toda uma nova cara à trama. Nessa edição sabemos que o Cifra foi escolhido para guerrear usando o Warlock como espada. E como ele não é um lutador (dirá espadachim), acaba ficando com receio de ser um peso morto, tentando correr atrás do tempo perdido treinando com a Magia, ao mesmo tempo em que a própria Krakoa não quer que ele vá.

Entre os outros escolhidos temos o jovem Cable, que descobre um tipo de vírus alienígena em Zênite. Brian e Betsy Braddock, que protagonizam uma edição bastante bizarra (Excalibur #13) envolvendo versões “Britânia” da Vampira, Gambit e Jubileu que, são pra dizer o mínimo, toscas. Também descobrimos aqui que a Saturnyne está despeitada pelo Brian, que acaba negando suas iniciativas. Enquanto isso, o Sr. Sinistro propõe ao Conselho um plano para impedir o Torneio antes mesmo dele começar: lider os Satânicos até Arakko a fim de roubar as espadas do lado de lá. Sempre é muito bom ver o Sinistro em ação, os autores fazem jus ao seu lado cínico: claro que tudo não passa de alguma cortina de fumaça em prol dos seus clones.

X-Men #10 foca no Apocalipse que, estando de repouso na sala de cura, vai lembrando da guerra de Arakko e sua esposa Gênese. A dualidade óbvia entre Gênese (o início) e Apocalipse (o fim) é utilizada de maneira interessante, principalmente porque coloca o Apocalipse como o guerreiro que foi deixado para trás, enquanto sua esposa e filhos continuaram a guerra por serem mais fortes e aptos. Nesse contexto, Apocalipse foi considerado fraco para a guerra, ficando com a missão de julgar o mundo. Com sua iminente recuperação, ele vai em busca de sua espada Caravalho e entra para o torneio.

No capítulo 11 da megassaga (Estase), conhecemos o outro lado da moeda: os 10 guerreiros de Arakko. Temos o Morte e a Guerra dos Cavaleiros do Apocalipse originais; o traidor e neto do Apoca, Invocador; a própria Gênese e sua irmã, a Isca (cujo poder é o de nunca perder, inclusive há uma piada comparando-a com a Dominó); o jacaré monstruoso Pogg Ur-Pogg; a amazona Bei, a Lua de Sangue; Solem com a Muramasa; o guerreiro Espada Branca; e a contra-parte de Cifra em Arakko, o comunicador Raiz Vermelha. Destaque para este último, que possui um design muito interessante e é legal de vermos que essa outra ilha também possui uma “face” que se comunica.

PREPARATIVOS PARA O TORNEIO

Os capítulos #12-14 (publicados em X-Men #14 e Carrascos #14-15) da saga mostra os preparativos para o Torneio. Temos o esperado encontro entre Apocalipse e sua esposa, a Gênese, trazendo todo um flashback com o contexto em que eles se separaram e como ela sucumbiu à máscara Aniquilação, uma espécie de divindade do povo de Amenth, que controla e corrompe aquele que a utiliza. Um ponto negativo em torno dessa saga é que há muita enrolação, podemos dizer assim. Há capítulos inteiros que parecem mais com um “recapitulando”. Essa trama envolvendo o passado do Apocalipse e a guerra entre Arakko e Amenth (que é um tanto confusa, pra não falar outra coisa) acaba se repetindo demais.

As outras duas edições tratam, literalmente, dos preparativos para o Torneio: Saturnyne monta um super jantar para os guerreiros de ambas as ilhas. Todo mundo fica se provocando, rola envenenamento, questões de honra, Magia passa a sondar os demais competidores a fim de descobrir seus pontos fracos e temos até um affair entre a Tempestade e o Morte (dançando com a Morte…). Wolverine, num surto, tenta matar a Saturnyne pra cancelar todo o torneio, mas ela gera uma visão em sua cabeça, demonstrando todas as consequências trágicas que sua morte traria. São duas edições que poderiam ser uma só, com muitas discussões que não vão muito longe. Ao final, o anúncio da primeira disputa: Betsy VS Isca.

AS BATALHAS (BOAS E RUINS)

Apesar de algumas edições enchendo linguiça, a saga até aqui consegue prender a atenção e deixar o leitor ansioso pelas disputas, esperando ver grandes batalhas. Principalmente porque se algum mutante de Krakoa morrer no Extramundo, significa também sua morte “definitiva” (apesar disso não funcionar muito bem nos quadrinhos de heróis, né?), o que só aumenta as apostas. O capítulo #15 da saga (publicado em Excalibur #14) marca o início das batalhas e o que se segue é, pra dizer o mínimo, estranho. Betsy Braddock Vs Isca é a primeira disputa e ela dura três páginas! Literalmente, é tão rápido que a gente nem consegue entender direito o que aconteceu. A Isca tem o poder de nunca perder e a Betsy é estilhaçada como vidro. Tudo muito corrido.

A “disputa” seguinte é entre Cifra Vs Bei. E eles lutam? Não, eles se casam. Cifra fica fascinado na Bei, porque ele não consegue entendê-la (e o seu dom é justamente entender e se comunicar com qualquer coisa). A disputa termina no casamento entre os dois. Quê? Num dado momento a Jubileu chega com o dragão-filho Shogo, cuja chama pode desfazer o tecido da realidade no Extramundo, e aí tudo fica meio bagunçado. Saturnyne domina e aprisiona o dragão-bebê.

O nível e o tipo das batalhas chegam a ser absurdos e cômicos. Temos queda de braço entre Magia e Pugg. Disputa de bebida entre Wolverine e Tempestade. Corrida em meio a um mercadão. E por aí vai. Uma vez que você entra na magia e aceita o tom das coisas, até que fica divertido ver como a Saturnyne vai manipulando o Torneio com essas disputas. Mas não deixa de ser um balde de água fria.

Mas nem todas as batalhas são trash. Algumas são muito boas. O Wolverine luta contra o Invocador numa disputa que percorre diversas realidades no melhor estilo Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, ótima. Numa outra, Wolverine e Espada Branca precisam enxergar num espelho todos aqueles que já mataram, terminando com uma lagrima escorrendo pelo rosto do Logan. Ótima, também! Tempestade relembra os velhos tempos e vence o Morte numa batalha em que ela está sem poderes, como fez em 1985 quando lutou contra o Ciclope pra ver quem lideraria os X-Men (e ela venceu, sem poderes).

Outra batalha que merece destaque é do jovem Cable contra a Bei. Ele chega a dominar a luta e, por não querer matá-la, acaba sendo rendido e salvo graças ao apelo do Cifra (agora marido da Bei?). Cable fica desolado, se sentindo humilhado e chega a pedir socorro aos seus pais, Jean e Ciclope. Gorgon Vs Espada Branca é uma das últimas lutas e também se destaca. Apesar do Gorgon perder, ele consegue derrotar 13 guerreiros do Espada, empatando o placar que estava favorecendo Arakko (graças às partidas bizarras).

Em paralelo, lembram do plano do Sr. Sinistro de invadir o Extramundo? A gente vê o que realmente aconteceu no capitulo #18 (publicado em Satânicos #6), uma edição muito boa e divertida. O Sinistro não estava interessado em roubar espada nenhuma, mas sim em adquirir DNA de mutantes de Arakko, aumentando sua coleção! Mas ele não contava cruzar com a equipe barra pesada de Tarn, o Indiferente, quase uma contra-parte do Sinistro em Arakko, já que Tarn também é um geneticista e sua equipe é formada por mutantes geneticamente modificados. O que se segue é uma super carnificina, com metade dos Satânicos morrendo tragicamente em batalha. A outra metade conseguiu fugir e chega em Krakoa, mas é pega de surpresa e também morta pelo Sinistro que a aguardava (provavelmente o que morreu deveria ser um clone). Uma edição explosiva, cheia de momentos WOW!

As batalhas chegam ao fim no capitulo 20 da saga (publicado em X-Men #15). Apocalipse Vs Gênese: tudo ou nada; quem vencer leva o troféu (e a sobrevivência) à sua Ilha. Uma das lutas mais esperadas desde o momento em que eles se viram lá perto da edição do jantar. E a batalha não deixa a desejar, com muita ação, diálogos interessantes sobre o relacionamento de ambos, questões de honra e o inevitável fim: Apocalipse consegue golpeá-la e expulsa a máscara da Aniquilação, que precisa de um novo hospedeiro.

Em paralelo a tudo isso, temos uma cena muito boa onde Scott e Jean vão ao Conselho Silencioso informar que estão dispostos a ir ao Extramundo salvar seu filho, Cable, e todos os mutantes que estiverem em perigo. Rola toda uma discussão política excelente, principalmente porque Ciclope relembra que, antes deles serem cidadãos de Krakoa, eles são X-Men: são heróis. Uma porrada! Emma Frost, Noturno e a Lince Negra ficam do lado deles, enquanto os demais são contra e não apoiam a ideia.

KRAKOA VS ARAKKO

Pensaram que tudo acabou com a vitória de Apocalipse sobre Gênese? Errado! Os capítulos #21-22 marcam o fim dessa megassaga, trazendo uma reviravolta que se transforma numa grande confusão. Gênese não aceita a derrota, coloca a máscara Aniquilação de volta em seu rosto e convoca todos os guerreiros de Arakko: chega de torneio, hora de quebrar o pau e destruir o Extramundo. Espada Branca cai fora, pois considera um golpe baixo e desonroso. Aliás, ele foi um dos personagens novos que eu mais gostei, gostaria de ver mais sobre ele e seu exercito de 100 homens no futuro. A Bei também, no seu jeito, fica do lado do Cifra e Krakoa.

Tudo nesse final acaba sendo bastante grandioso, mas também exagerado e confuso. Temos a horda de guerreiros e demônios do lado de Arakko, Jubileu aparece com Shogo, Saturnyne encaminha suas amazonas e também monta o mosaico dos Capitães Britânica, convocando cada capitão de todas as realidades, chegando uma enxurrada deles pra batalha (com direito a Capitão Britânia ganso e tudo mais). E pra completar: Ciclope e Jean Grey caem do céu trazendo todos os mutantes da ilha para a batalha. Confesso que essa parte foi de arrepiar! Praticamente dizendo “os X-Men chegaram pra proteger os seus”.

Arakko finalmente cai e a máscara Aniquilação é transformada por Saturnyne numa nova arma, um cajado que pode conter a força maligna desse ser. Ela dá a vitória à Krakoa, mas também informa o preço a se pagar (a cada hora, uma nova regra nesse Torneio…): as duas ilhas precisam trocar prisioneiros. Enquanto Gênese escolhe Apocalipse para viver em Arakko; o Apocalipse escolhe a própria Arakko para viver anexada à Krakoa! Uma ótima reviravolta que fecha algumas pontas e também serve ao propósito da saga, unindo as duas ilhas novamente.

X de Espadas, como comentei lá no início, é uma super saga em 22 partes que empolga no início com a trama do Torneio e a busca pelas Espadas, acaba dando uma derrapada no meio com algumas batalhas rápidas e bizarras, mas que volta aos trilhos perto do final. Ela lembra um pouco os cross-overs dos anos 1990 no quesito exagero, já que tudo é bastante grandioso, envolvendo milhares de personagens, itens de batalha e reviravoltas, mas não cai tanto na cafonice (como muita coisa daquela década). Provavelmente nunca mais veremos certos personagens que foram criados aqui, mas particularmente acabei curtindo o Espada Branca e a Bei. E será interessante ver como algumas coisas se desdobrarão, entre elas a morte da Betsy, o casamento do Cifra, a partida do Apocalipse, a união de Arakko à Krakoa e a morte dos Satânicos, entre outras. No final, uma saga divertida com grandes momentos e que as vezes peca pelo excesso.

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