Arcos Principais: Espécie em Extinção (Endangered Species), Cegos Pela Luz (Blind by the Ligh) e Os Extremistas (The Extremists).
Publicação Original/ Brasil: X-Men: Endangered Species One-Shot (e as 17 partes), X-Men #200 à #204 e Uncanny X-Men #487 à #491 (Marvel, 2007)/ X-Men #79 à #84 (Panini, 2008).
Roteiro/ Arte: Mike Carey (+Christos Gage, Christopher Yost e Craig Kyle); Ed Brubaker/ Scot Eaton, Andrew Hennessy, Mike Perkins, Mark Bagley e Andrea DiVito. Chris Bachallo e Humberto Ramos. Salvador Larroca.
Espécie em Extinção foi um evento mutante especial que tomou conta de quatro revistas da Marvel em 2007: X-Men, Fabulosos X-Men, Novos X-Men e X-Factor. Cada uma, durante quatro meses, publicava um capitulo de 8 páginas do evento, totalizando 17 partes no total, mais uma one-shot especial, mostrando o drama do Fera em não encontrar uma solução para a dizimação, frustrado com as próprias ideias e chegando ao limite: pedindo ajuda aos vilões. Além deste evento, neste especial tem os arcos de X-Men (Cegos Pela Luz) e Fabulosos X-Men (Os Extremistas) em que as partes foram publicadas, explorando como outros grupos de mutantes e inimigos estavam lidando com a Dizimação. É o grande prelúdio para o mega evento Complexo de Messias, comandado pelo Mike Carey (que havia começado sua fase em X-Men: Supernovas e Infecção Primária), mas co-roteirizado por diversos outros autores, assim como a equipe de desenhistas é bem diversificada. Pode conter spoilers pra quem não leu.
ESPÉCIE EM EXTINÇÃO
A one-shot é ilustrada pelo Scot Eaton (Homem de Ferro/ Thor e Gavião Negro), muito bonita e com feições expressivas, com uma Mercury lindona. Mostra alguns X-Men no enterro de um mutante, conversando e refletindo sobre a dizimação dos mutantes: quando a Feiticeira Escarlate, enlouquecida, alterou a realidade e aniquilou o Gene X de quase todos os mutantes na Terra, sobrando poucas centenas. Com ninguém recuperando os poderes, nenhum mutante nascendo ou sendo despertado, parece que os homo superior se tornaram uma raça em extinção. Interessante ver como alguns personagens estão lidando com isso e como toda a comunidade X está conectada. A Dinastia M foi um dos arcos mais importantes da Marvel nos últimos tempos.
Fera chega em seu limite e, sem conseguir nenhum avanço científico tanto por conta própria quanto com os maiores cientistas do mundo, como o Sr. Fantástico, resolve apelar para a última alternativa, que provavelmente fará se arrepender mais tarde: pedir ajuda aos vilões. Numa espécie de conferência virtual, Fera reúne alguns dos maiores inimigos dos X-Men, como Sinistro, Alto Evolucionário, Homem Doce, Pandemia e Espiral, informando a situação mutante e pedindo apoio. Claro que acaba sendo ridicularizado por quase todos. Não contente com a conferência, o Fera resolve ir pessoalmente ao Alto Evolucionário, confrontando-o e pedindo um caminho, pelo menos. Acaba recebendo frases vazias, mas descobre que não é o único que está procurando por uma solução, além de que está no caminho errado. Fera agradece a pequena informação, mas ainda se enfurece por perceber que estava conversando com um holograma, quer dizer… o assunto nem merece a atenção do Alto Evolucionário. Os mutantes nunca possuem apoio, mesmo.
Fera tenta alguma coisa com a Dra. Kavita Rao, que havia ressuscitado o corpo de Colossus e criado a “Cura” tempos antes. Sem sucesso, também, apesar de conseguir amostras de DNA de todos os mutantes que passaram pelo programa. Percebe que até mesmo nas mostras, o Gene X foi aniquilado. O legal é perceber até onde Hank está indo ou pode ser capaz de ir. Numa frase, depois de ser esculhambada, Rao diz “pelo menos não tenho o número de Arnim Zola“. Vrá. Apesar de tudo, ele continuou firme e forte em sua busca, chegando na Terra do Nunca (campo de concentração mutante, desativado) através dos relatórios da Dra, onde encontra o Fera Negro. Há um embate entre os dois, mas logo resolvem fazer uma trégua, já que ambos estão procurando a mesma coisa. Hank ainda consegue acessar a mente de sua versão alternativa, conhecendo todas as atrocidades que ele fez no futuro.
E nesse formato, de uma coisa levando à outra, os dois Feras vasculham o projeto Útero Negro em Alamogordo, suspeitam que Sinistro possa saber de algo que eles desconhecem, chegam em Genosha e descobrem que até os mortos perderam o Gene X, mas algumas características mutantes permaneceram (como asas) e iniciam experimentos com os corpos, mas sem sucesso. Pulam pro Distrito X e, com ajuda de Bishop, encontram um traficante de HCM (Hormônio de Crescimento Mutante), no intuito de ter acesso às mostras de mutação que usam para fabricar a droga. Mas, adivinhem só? A Wanda também estragou. Até mesmo Forge tenta ajudar, mas diz que as possíveis realidades que conseguiu ler não possuem mutantes. Por um momento pensam que os mutantes de outras realidades não foram atingidos (como Bishop, Rachel e Cable), mas é apenas coincidência.
Quando tudo parece perdido, Fera tem uma grande sacada: a maioria dos mutantes surgem de pais humanos, então quer dizer que os humanos ainda possam ter algum tipo de gene que desperta o Gene X. E ninguém menos para experimentar essa tese que Lucinda Guthrie, mãe humana de 5 filhos mutantes, dentre eles o Míssil, Escalpo e o falecido Ícaro. Ao saber que Fera quer seus genes, ela o manda pra PQP, dizendo que pela primeira vez vai ter paz e que foi uma benção o Dia M, acabando com a luta entre as raças. Pra complicar, o Fera Negro pega um de seus filhos que perdeu os poderes e utiliza uma vacina experimental, deixando-o entre a vida e a morte. Lucinda, furiosa, logo faz a MC Carol e pega a 12 para matá-lo.
Com tudo indo de mal a pior, com nem mesmo o Dr. Estranho conseguindo ajudar, Fera resolve viajar para Transia e desistir oficialmente. Após o surto, a Feiticeira Escarlate não só dizimou os mutantes, como também anulou os próprios poderes, perdeu a memória e foi viver na Transia, como uma humana comum e com uma tutora aparentemente gerada por sua mente. O Fera conversa com ela, informando sobre ter um “problema”. Essa Wanda desmemoriada e sorridente conta uma fábula, meio que tentando dizer que quando se tenta concertar algo já quebrado, pode acabar piorando.
X-MEN: CEGOS PELA LUZ
Enquanto o Fera estava em sua busca pra tentar reverter o Dia M, os X-Men tiveram que lidar com uma traição já esperada: Mística leva Vampira, Ciclope, Emma e cia. até sua antiga casa, na tentativa de tentar melhorar a mente de sua filha, mas quando todos se distraem os Carrascos atacam a residência e Raven atira à queima roupa em Vampira, pegando seu corpo e deixando todos os X-Men pra trás, pra explodirem junto da casa. Sobrou até pra Sentinela Ômega, que tem seu corpo possuído pela Maligna.
Já os Acólitos estão atacando a Mansão, procurando por Olhos Vendados e neutralizando os telepatas. Felizmente (e por ver o futuro), Olhos toca ambas as partes dourada e negra de Elixir, entrando num estado avançado de coma, conseguindo se passar por morta pelos Acólitos, que a deixam lá. Eles estão procurando por um dos diários da Sina (de novo, não…) mas encontram um volume falso, mas que todos na escola pensam ser real. Colossus e Kitty conseguem vencê-los e descobrem que Emma havia bloqueado a mente de todos quanto ao diário, assim ninguém conseguiria entregar o verdadeiro em casos como esse.
Controlados telepaticamente por Emma (que ficou estatelada, sem conseguir se mover), Homem de Gelo e Míssil conseguem escapar da explosão na casa da Mística (que ainda permite Bob viver, numa cena) e entram numa nova missão, sendo pegos de surpresa por Solaris (que havia “matado” o Cable, junto de Gambit). Tanto os Carniceiros quanto os Acólitos estão trabalhando para o Sr. Sinistro, tendo Mística como braço direito. Eles descobriram a presença de um nascimento mutante e estão planejando como conseguir o bebê, tentando matar todos que preveem o futuro, impedindo de ajudarem os X-Men.
Arco bem interessante, funcionando já como prévia de Complexo de Messias, trazendo finalmente nossa Mística vilã de novo, mas com o plus de sua dualidade, se mantendo fria e calculista, mas ainda com uma parte humana, que se importa com a Vampira (do seu jeito, mas se importa). Essa última parte tem arte do Mike Choi (Surpreendente Thor), que é algo totalmente diferente do estilo cartoon do Bachallo/ Ramos. Particularmente, não sou grande fã de X-Treme X-Men, a série escrita pelo Claremont no início dos anos 2000 que trazia uma equipe liderada por Bishop em busca dos diários perdidos da Sina. A história era legal, mas virou uma novela e os tais diários ficaram no limbo editorial até este momento.
FABULOSOS X-MEN: OS EXTREMISTAS
Depois da odisseia espacial, uma parte dos Fabulosos ficou no espaço, liderada por Destrutor a fim de vingar a morte do pai, enquanto Xavier, Apache, Hepzibah e Noturno voltaram pra Terra. O morlock Masque, junto de Skids, Erg e Torpor, atacaram Caliban e sequestraram Sanguessuga, voltando para os túneis. Eles acreditam numa profecia que encontraram na parede, escrita pela mutante Qwerty, que prevê a localização de Magneto para que a raça mutante volte a crescer. Tempestade, por seu relacionamento antigo com os morlocks, lidera Hepzibah, Caliban e Apache rumo aos túneis para resgatar Sanguessuga e impedir que Masque faça mais alguma merda, já que havia atacado um trem cheio de humanos, deformando seus rostos.
Uma coisa engraçada dessas profecias, diários e outras parafernálias, é que sempre elas estão “certas” até a página 2. Já é um clichê, o mocinho/ vilão olhando a tal previsão que previu que ele estaria ali naquele exato momento. E é isso que acontece quando Tempestade começa a ler os textos de QWERTY, a mutante com o mesmo nome do estilo de teclado que utilizamos no computador e celular. O grupo só não chegou a ler que seriam atacados e presos por Masque.
Já Charles e Noturno entram em outra jornada, tentando encontrar Magneto. O interessante é que o Professor, agora que recuperou os poderes, não está com muitos escrúpulos e moral. Se precisar usar sua telepatia, ele usará, apagando memórias, criando ilusões, o que for necessário para localizar Erik. São interrompidos pelo pedido de ajuda da Ororo, que consegue uma façanha inacreditável: convocar um raio que entra por canos até chegar no esgoto e estourar sua prisão, um caixão de madeira! Masque e seu grupo é derrotado, além de obrigado telepaticamente pelo Profº a reverter a deformação das pessoas no trem.
Um arco bacana, mas que não traz grandes desafios ou reviravoltas. Legal ver Skids de volta, trabalhando como agente dupla, infiltrada nos morlocks. Mas essa coisa de profecia é tão louca que também lhe subiu a cabeça: a moça realmente acreditou que Magneto é um salvador, conseguindo encontrá-lo para entregar o livro. Erik diz estar sem poderes depois do Dia M, mas a profecia diz que não. Ah, o corpo do Corsário mal esfriou e Hepzibah já se apaixonou pelo Apache.
“Espécie em Extinção”, estrelado pelo Fera, foi uma boa série retalhada em diversas partes pelas revistas X, conversando com essas outras tentativas pelo mundo de reverter o Dia M. Seja Sr. Sinistro e seus novos Carrascos/ Acólitos, ou os Morlocks com as profecias de Qwerty. Tudo culminando pro nascimento de um Messias. Fabulosos foi do espaço pro esgoto, mas ainda não engatou nessa fase de Ed Brubaker. A arte de Salvador Larroca, como de costume, é um deleite e torna a leitura muito mais agradável. De toda forma, esse aquecimento para uma saga ainda maior é bem interessante, conseguimos sentir essa crise existencial dos mutantes.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.