Arcos Principais: União (Union).
Publicação Original/ Brasil: Gotham City Sirens #1-7 (DC, 2009)/ A Sombra do Batman #1-7 (Panini, 2010).
Roteiro/ Arte: Paul Dini / Guillem March.
A DC começou a publicar em 2009, como parte do evento Batman Renascido, uma série super divertida trazendo três das principais vilãs do Universo do Morcego como protagonistas: Arlequina (Harleen Quinzel), Mulher-Gato (Selina Kyle) e a minha preferida, Hera Venenosa (Pamela Isley); formando o trio Sereias de Gotham. A série explorou e desenvolveu a história, habilidades e traumas de cada uma delas e durou 26 edições, quando foi cancelada junto de todas as outras revistas devido ao reboot Novos 52. Estou relendo (já havia citado ela no blog), que é bastante descomprometida e traz muito Girl Power, recomendada pra quem deseja conhecer melhor as personagens, principalmente a Hera, que nunca teve muito destaque como a Mulher-Gato, e pra quem gosta de muita ação e da galeria de vilões do Batman, pois não há tanto engajamento ou críticas como as séries femininas mais atuais (como a Thor: Deusa do Trovão). Nesse review especial comento o Vol. 1 de Gotham City Sirens (edições #1-7), com alguns spoilers.
UNIÃO FEMININA
A primeira edição explica o contexto em que a série ocorre e reúne as três vilãs. Em Batman Renasce (que zerou as mensais relacionadas ao Morcego), o Batman foi dado como morto e Dick Grayson (o Asa Noturna) passou a usar seu manto; o Silêncio havia arrancado o coração da Selina, que conseguiu recuperar graças ao Bruce, se vingando do vilão e roubando sua fortuna, distribuindo entre ela, Arlequina, Hera e sua ex-parceira Holly Robinson. A série se passa justamente após esses eventos, com Selina se sentindo fraca e sendo salva por Hera Venenosa durante uma missão. Percebendo que não é a mesma gata de antes, decide convidar a amiga ruiva para formar uma equipe e se garantirem em Gotham, já que ela está dividindo o apartamento do Charada (em transe eterno pelas suas flores) com a Arlequina. Assim nascem as Sereias de Gotham: as três largam Ed Nigma pra trás e vão para uma abrigo comprado por Selina, que irá servir de QG.
Sim, o início é meio genérico e funciona para o desenrolar da trama. Mesmo assim, o roteirista Paul Dini (LJA – Liberdade e Justiça) consegue criar diversos ótimos momentos: num deles, Hera precisa saber se Selina realmente está do lado delas, se seu coração está perfeito; pra isso, tomba a amiga e a amarra com seus cipós, fazendo uma ligação direta para a Zatanna, perguntando se a cirurgia foi bem sucedida. É uma sequência sensacional, mostrando a extensão de seus poderes. Além de uma série mais descontraída, ela é também uma homenagem aos vilões do Batman, que de longe são os mais icônicos dos quadrinhos. Então tudo é bastante colorido, trazendo aquele gostinho de caricato e o que é melhor, sem a reformulação que viria mais tarde com os Novos 52 (e que estragou diversos uniformes). Hera Venenosa ainda está verde e bonita, ao contrário da versão trash que ganhou nas Aves de Rapina; Arlequina ainda usa seu uniforme tradicional de arlequim e não o shorts do Esquadrão Suicida.
Não há uma trama única nessas primeiras 7 edições, mas sim pequenos casos que funcionam para estruturá-las como equipe, enfatizando o lado Girl Power, como Selina convidando a Jenna Duffy (ex-vilã e parceira dos irmãos Tweedle-Dum e Tweedle-Dee) para reformar todo o abrigo. A edição #3, por exemplo, é centrada na reabilitação do Charada, que agora ajuda a polícia a resolver crimes enigmáticos. Ele e o “novo” Batman ajudam a desmascarar um serial killer que colocava a pista de seu próximo alvo dentro das vítimas. É a única história não escrita por Paul Dini, tendo roteiro do Scott Lobdell (Novos Titãs & Superboy). O fio condutor da trama é o sequestro de Arlequina pelo Silêncio disfarçado de Bruce Wayne e, logo em seguida, um Coringa insano a sequestrando mais uma vez e movimentando as Sereias de Gotham. Esse Coringa surge com dirigível colorido, capangas e carros-palhaço, ou seja, tudo bastante caricato e uma ode à galeria de vilões do Batman. Arlequina, como de costume, acredita que o Sr. C ainda a ama, por isso a trata assim. Não há grandes mudanças no temperamento ou status quo das personagens, o que é bom, tendo em vista a proposta da série.
Um outro personagem bastante interessante que surge (começo de SPOILER) é o palhaço Gaggy, que trabalhava no mesmo circo do Dick Grayson e que foi resgatado pelo Coringa (enquanto Grayson, pelo Batman). Ele foi o parceiro do Sr. C por diversos anos, até o momento em que foram separados na prisão: Coringa enlouqueceu (mais) e foi pro Arkham, enquanto ele terminou sua pena e, ao ser livre, descobre que seu antigo chefe não só está solto e o esqueceu, como também possui uma nova parceira: Arlequina. Sua história é muito boa e triste, o leitor consegue simpatizar com ele, apesar de ficar com o papel de antagonista. É o famigerado retcon, já que foi um personagem novo, mas sem muito impacto na cronologia. (fim do SPOILER).
Este primeiro “arco” de Sereias de Gotham é muito divertido e, apesar de não trazer grandes reviravoltas e críticas, te prende na leitura e traz ótimas sequências tanto de ação quanto de bom humor que valem cada página. Os desenhos das 6 primeiras edições é do Guillem March, que tem um traço bastante dinâmico, com cenas rápidas e frenéticas e mais contido (e melhor) que sua passada pela mensal da Mulher-Gato nos Novos 52. Todas as personagens estão lindas em seu traço. Em alguns reviews há comentários sobre a sexualização das protagonistas; seus uniformes continuam fechados, mas há sim um close aqui e ali. Como comentei no início, é uma boa revista para conhecer melhor todas elas: a edição #7 é uma história especial de Natal que explora o lado pessoal de cada uma. Enquanto a Mulher-Gato é mal-vista por alguns membros da Bat-Família e prefere algo mais discreto e sensual, visitando Dick; Arlequina continua pirada, mas ainda assim com momentos de lucidez, valendo seu diploma de psicóloga, visitando sua família que é tão desestruturada quanto ela.
Hera Venenosa é a que mais se destaca (e não to dizendo por ser fã, mas também), tanto por trazer o conflito entre seu lado planta e seu lado humano, não sendo unilateral, quanto por explorar seus poderes: ela é a mais poderosa das três e faz coisas incríveis, sendo ótimo poder acompanhá-la, já que infelizmente nunca teve grandes histórias. Ela consegue se comunicar com o Verde e acessar todas as plantas próximas, consegue se comunicar através de uma planta (como fez com a Zatanna), metabolizar qualquer vegetal (como na cena acima), é imune a qualquer tipo de veneno, manipula toxinas, entre tantas outras coisas. Além de ser ecoterrorista, linda e ativista ambiental. Na próxima edição ainda irão mostrar como seu corpo funciona. Ou seja, Sereias de Gotham é uma leitura quase obrigatória para fãs desse trio, é divertida e possui ótimos momentos e cenas de ação, apesar de ainda não trazer (nesse primeiro volume) um momento “WOW”.
A série foi publicada pela Panini na mensal A Sombra do Batman, porém suas últimas edições continuam inéditas. É praticamente impossível a editora reeditar e publicar em encadernado, a não ser que haja um filme delas.
Confira outros reviews de Sereias de Gotham que fiz aqui no site:
Sereias de Gotham (2009 – 2011; #01-26):
Sereias de Gotham Vol. 1: União Feminina (#1-7)
Sereias de Gotham Vol. 2: Contra o Dr. Esopo e Irmã Zero (#8-13)
Sereias de Gotham Vol. 3: Fruto Estranho (#14-19)
Sereias de Gotham Vol. 4: Divididas (#20-26)
Ou acesse o Índice de Reviews para conferir outros títulos!
Confira outros reviews de Hera Venenosa que fiz aqui no site:
Especiais e one-shots:
Um Conto de Batman: Estufa (1994; 2 edições)
Batman: Hera Venenosa (1997)
Arlequina e Hera Venenosa: Paixões Violentas (2001)
Batman & Hera Venenosa: Nas Sombras (2004)
Minisséries:
Hera Venenosa: Ciclo de Vida e Morte (2016; 6 edições)
Sereias de Gotham (2009 – 2011; #01-26):
Sereias de Gotham Vol. 1: União Feminina (#1-7)
Sereias de Gotham Vol. 2: Contra o Dr. Esopo e Irmã Zero (#8-13)
Sereias de Gotham Vol. 3: Fruto Estranho (#14-19)
Sereias de Gotham Vol. 4: Divididas (#20-26)
Participação importante em arcos:
Batman: Todos Amam Hera (2018; Batman #41-43)
Trindade: Melhor Juntos (2016; Trinity #1-6)
Ou acesse o Índice de Reviews para conferir outros títulos!
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.