Arcos Principais: Ciclo de Vida e Morte (Cycle of Life and Death).
Publicação Original/ Brasil: Poison Ivy: Cycle of Life and Death #1-6 (DC, 2016)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Amy Chu/ Clay Mann.
Vamos falar de Hera Venenosa? Uma das minhas personagens preferidas da DC ganhou em 2016 uma mini em 6 partes chamada Ciclo de Vida e Morte (ainda inédita por aqui), fechando a era Novos 52. É a primeira grande série escrita por Amy Chu, um nova roteirista da DC, que já trabalhou em algumas histórias curtas antes, principalmente com a Mulher-Maravilha. E ela traz uma história ousada, com um excelente começo e algumas ótimas mudanças para a mitologia da Hera! Porém… nem tudo são flores. Este review comenta sem spoilers essa mini.
HERA VENENOSA: CICLO DE VIDA E MORTE
A história começa muito bem. Hera Venenosa largou sua carreira como vilã e foi contratada pelo Instituto de Botânica de Gotham, assumindo seu nome verdadeiro: Pamela Isley. Mergulhada no trabalho, está desenvolvendo um híbrido entre planta e animal, agradecendo por estar longe de confusão. A Arlequina chega a discutir com ela, já que não sai mais com as amigas, mas a Hera não entende essa necessidade dos humanos em se relacionarem. Um ponto interessante, já que ela nunca se encaixou totalmente na sociedade, porém sempre viu a Harley como sua única amiga. A calmaria é interrompida quando uma série de assassinatos começam a ocorrer no Instituto, além de sua pesquisa ser roubada, exigindo que Pamela volte a ser Hera para investigar e ter seu legado salvo.
As primeiras quatro edições da mini são excelentes. Ela já havia criado monstros de planta com seus poderes (como em Paixões Violentas), mas em Ciclo de Vida e Morte ela eleva suas criações a outro nível: ela tem duas flores gigantes que estão “grávidas” de dois híbridos/ esporos. O momento do “parto” é incrível! Como se elas sangrassem. Não dá pra falar mais se não será spoiler e vai estragar a surpresa. Mas é uma inclusão muito inusitada à mitologia da Hera. Outro ponto positivo é que ela continua uma vilã e pouco se importando com os humanos. Na busca por descobrir quem roubou sua pesquisa, acaba matando algumas, sem medo de virar a página 2. Há duas cenas muito boas: a primeira, quando se vinga de uma senhora que maltrata cães (aproximando também de animais não-humanos) e quando dá seu beijo venenoso e deixa plantas carnívoras terminam de fazer o trabalho. É isso que queremos ver! Sem a pieguice de vilão arrependido, que não mata e cia.
Continuando sua missão, ela pede a ajuda da Mulher-Gato (afinal, as Sereias de Gotham sempre andam juntas). O que não é ruim, pois não deixa a história muito solitária de outros personagens do Universo do Batman. Aliás, um outro ponto positivo é que o Morcego nas faz suas típicas participações especiais. Num outro momento, ela se conecta ao Verde para tentar descobrir o que tá rolando, trazendo aquela sutileza da Hera. Apesar dela ser quase um caminhão desgovernando quando tá brava, ela é delicada e é sempre bom ver quando trabalham esse lado mais emotivo dela. Nessas horas nos perguntamos porque ainda não teve uma série mensal própria, já que material interessante pra se trabalhar não vai faltar?
A arte, até aqui (edição #4), se mantém boa, também: Clay Mann (X-Men Legado: Necrosha) é o desenhista principal, com destaque para a beleza das personagens e das inúmeras flores e violência que vão surgindo. Mas as duas últimas partes da mini afundam numa velocidade, que é difícil de entender. A impressão que fica é que Amy Chu tinha toda uma história para desenvolver os híbridos da Hera, mas aí a DC chegou e falou “só tem 6 edições”, aí lasca uma correria danada no final. Ou não tinham muito tempo pra fazer e chutaram o balde no fim. Rendendo algumas personagens sem muito carisma e/ou tempo para que o leitor simpatize; situações trash que saem totalmente do curso que a série estava indo (como uma cena na BALADA); e monstros típicos com seus monólogos. Mesmo uma participação final mega especial não conseguiu segurar o tranco. E não somente no roteiro, as últimas edições são desenhadas e arte-finalizadas por vários artistas (como Clay Mann, Stephen Segovia, Seth Mann, Sandu Florea e Art Thibert numa só edição), gerando uma inconsistência enorme, com cenas boas e outras bem ruins, sem contar personagens com proporções diferentes.
Hera Venenosa: Ciclo de Vida e Morte talvez seja um vislumbre do que seria uma mensal da personagem, que até hoje nunca teve (ao contrário das suas amigas Arlequina e Mulher-Gato). Uma mini que começa excelente e traz grandes adições em sua mitologia. Como a fase Rebirth iniciou logo após seu término, não se sabe ainda se essas mudanças vão permanecer ou não. Apesar disso, o fim é um pouco frustrante. Os híbridos de Hera (que a colocam num papel quase de mãe/ babá) surgem de supetão e acabam não cativando. Esses híbridos, que tem um crescimento super acelerado, poderiam funcionar para justificar o título (Vida e Morte), culminando no seu retorno ao Verde, mas todas as propostas vão sendo descartadas na correria. Como fã da Hera, gostei da mini na maior parte do tempo e faço meu papel de fã em defendê-la! Mas, para não fãs, é uma mini que não segura o tranco que cria.
Continua inédita no Brasil. Não sei se há grandes chances de sair pela Panini, já que não faz parte do Rebirth. Mas é possível encontrá-la traduzida por fãs na internet.
Confira outros reviews de Hera Venenosa que fiz aqui no site:
Especiais e one-shots:
Um Conto de Batman: Estufa (1994; 2 edições)
Batman: Hera Venenosa (1997)
Arlequina e Hera Venenosa: Paixões Violentas (2001)
Batman & Hera Venenosa: Nas Sombras (2004)
Minisséries:
Hera Venenosa: Ciclo de Vida e Morte (2016; 6 edições)
Sereias de Gotham (2009 – 2011; #01-26):
Sereias de Gotham Vol. 1: União Feminina (#1-7)
Sereias de Gotham Vol. 2: Contra o Dr. Esopo e Irmã Zero (#8-13)
Sereias de Gotham Vol. 3: Fruto Estranho (#14-19)
Sereias de Gotham Vol. 4: Divididas (#20-26)
Participação importante em arcos:
Batman: Todos Amam Hera (2018; Batman #41-43)
Trindade: Melhor Juntos (2016; Trinity #1-6)
Ou acesse o Índice de Reviews para conferir outros títulos!
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.