Nome Original:JLA – Liberty And Justice
Editora/Ano:Panini, 2004 (DC, 2003)
Preço/ Páginas: R$24,90/ 96 páginas
Gênero:Ação/ Super-Herói
Roteiro: Paul Dini
Arte:Alex Ross
Sinopse: a maior superequipe do planeta enfrenta uma ameaça espacial diferente de tudo que já combateu antes. Este novo desafio chega ao nosso planeta na forma de um vírus alienígena – um composto celular único, letal a todas as formas de vida. A doença se propaga rapidamente, desencadeando uma onda de pavor e destruição pelo mundo. De repente, uma terrível suspeita envolve a Liga da Justiça: seriam eles os responsáveis pela morte que veio das estrelas?
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LJA – Liberdade e Justiça faz parte da coleção de álbuns gigantes lançados entre 1999 e 2003, criados por Alex Ross e Paul Dini, sendo este o último lançado. A coleção possui o intuito de mostrar a verdadeira natureza dos heróis da DC, sem se basear em décadas de cronologia. Os quatro primeiros títulos foram lançados pela editora Abril e os dois últimos pela Panini. Em 2008, a Panini lançou o luxuoso álbum “Os Maiores Super-Heróis do Mundo” compilando os 6 títulos pela bagatela de R$129,00, sendo uma das HQs mais visualmente belas disponíveis no Brasil.
Mas vamos nos focar em Liberdade e Justiça, lançado por aqui em 2004. Logo de cara ela chama atenção pelo tamanho (34 cm x 25 cm), maior que o formato magazine. Possui capa cartonada e o miolo em papel couché. Graficamente, a Panini realizou um trabalho excelente. A arte de Ross também chama atenção, mesmo daqueles que não conhecem o mundo dos super-heróis, por ser bem realista.
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A dupla Dini/ Ross conhecem a fundo o Universo DC e conseguiram tirar décadas de cronologia e mudanças de personalidade que os heróis sofreram com o passar do tempo, os deixando simples e concretos, do jeito que eram, utilizando apenas o essencial de cada um. E isso é ótimo, pois o trabalho fica accessível a todos, tanto para novos quanto antigos leitores, com os heróis representando seus respectivos arquétipos, como o senso de justiça do Super Homem e a descontração do Flash.
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O roteiro ficou por conta de Paul Dini, conhecido por ter participado na criação das séries animadas do Batman, Superman, Justice League e outros. Seu modo de conduzir a trama é único: calmo, interessante e grandioso, mas sem exageros. As qualidades e ressentimentos dos personagens saltam das páginas, mas sem serem explícitos. Os diálogos também ajudam a concretizar a tão correta política da Liga da Justiça.
O time da LJA é formado pelos integrantes originais: Mulher-Maravilha, Batman, Super Homem, Flash, Lanterna Verde, Aquaman e Caçador de Marte. Eles são convocados pelo Pentágono após o surgimento de uma epidemia num vilarejo da África. As autoridades receiam que a situação saia do controle e a população se aterrorize. Equipes médicas já foram enviadas ao local, porém perderam contato, restando apenas o apoio dos super-heróis. Lá, descobrem se tratar de um vírus alienígena capaz de se reproduzir rapidamente e que ataca somente os humanos, paralisando todo o corpo. Para impedir que o vírus se propague ainda mais, Hal Jordam cria um domo em volta do vilarejo, o que impede a entrada e saída de qualquer coisa. Com o vírus isolado, ele é enviado ao laboratório de Bruce Wayne, para encontrarem uma cura.
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O fato da Liga isolar um vilarejo e do vírus ser alienígena causa pânico na população mundial, ainda mais pelo fato do governo não passar uma informação concreta. Está aqui o grande diferencial e trunfo de Liberdade e Justiça. J’onn J’onzz, o Caçador de Marte, e Super Homem são alienígenas; e o fato de esconderem o incidente só aumenta ainda mais a desconfiança das pessoas da nova doença. Seria a Liga responsável por trazer esse vírus?
A mídia encontra o momento ideal de acabar com os heróis, criando as mais diversas teorias a respeito do assunto. Ao redor do mundo pessoas quebram e saqueiam mercados, fazem reféns, vão às ruas em protesto, enquanto outros sensacionalisam e tentam tirar proveito dos mais inocentes, com o mundo virado num caos, com o medo de uma ameaça iminente. Enquanto isso, o grupo original da Liga tenta encontrar uma cura para a doença. A atitude das pessoas é aceitável, afinal de contas, o que pensaríamos de um grupo de super seres, alguns alienígenas, que agem as escondidas num momento crucial, além de possuírem poder suficiente para destruir toda a Terra?
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A Liga da Justiça é politicamente correta, repleta de moral e bons costumes, e é assim que eles enfrentam esse inimigo invisível, mesmo que seja preciso convocar outros membros mais “mente aberta” do grupo para conter a população. Porém esses atos são mal vistos pelo povo. Ao final, não há reviravoltas ou super explicações para o vírus, e a história de Paul Dini é concisa e direta ao ponto.
A arte é de Alex Ross, autor que divide opiniões. Seus desenhos são foto-realísticos, sendo extremamente reais. Sem dúvida é um estilo feito para mini-séries e especiais, que não ficaria tão bem em mensais. Em Liberdade e Justiça a arte está praticamente perfeita, assim como o roteiro. O destaque fica para a forma narrativa, em grande parte realizada na diagonal, em páginas duplas. É um espetáculo visual.
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O olhar da Mulher-Maravilha é penetrante, assim como a expressão dos demais personagens. A sensação de movimento também foi muito bem trabalhada, como é possível ver na correria do Flash, principalmente na cena em que ele cai no mar.
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LJA – Liberdade e Justiça não é uma HQ excelente, daquelas que figuram listas de “melhores”, ou que possuem uma história de suma importância ao Universo DC. Mas é um daqueles títulos onde você não encontra defeitos, com história e arte caminhando lado a lado, com personagens bem construídos, sem exageros e destacando aquilo que realmente importa: a relação entre obra e leitor.
*Só uma observação: na sinopse é dito que o vírus é letal à todas as formas de vida, mas na realidade é apenas aos humanos, como é explicado na história.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.