Como todos já sabem, a DC Comics zerou sua cronologia e relançou todos os seus títulos a partir do número #1, recontando origens, criando outras novas etc. O evento que ocasionou o “reboot” foi chamado Ponto de Ignição, uma saga em 5 partes envolvendo o Flash e mudanças na realidade. A Panini anunciou que iria publicar os 52 títulos da DC em seus mixes e em edições especiais, algo que os leitores não colocavam muita fé. Leia este post para conhecer as novas revistas e as séries que irão compor o mix de cada uma, além das que acompanharei ^^
A Sombra do Batman é um título que já existia desde 2010 composto por séries relacionadas ao morcego (Batgirl, Detective Comics, Robin Vermelho) e foi zerado para acompanhar Os Novos 52. A revista mantém a proposta e agora é composta pelas séries: Batman & Robin, Batwing, Batgirl, Mulher-Gato, Capuz Vermelho e os Foragidos, Asa Noturna e Batwoman. Já falei por aqui que os únicos heróis que gosto de acompanhar são os X-Men e que, com esse reboot da DC, eu poderia começar a ler outros. Particularmente, não simpatizo muito com o Batman, porém gosto de sua galeria de vilões e heróis adjacentes, por isso escolhi ler A Sombra do Batman, por conter séries como a da Mulher-Gato e da Batwoman, além de Capuz Vermelho, que tem a Estelar dos Novos Mutantes (que simpatizo). Lembrando que dentre todos os títulos relançados, a séries ligadas ao Batman sofreram poucas mudanças.
É interessante notar as diferentes opiniões em torno das séries, caso lêem outros reviews. Há vários fatores que ajudam o leitor a gostar de determinados títulos, como simpatia com o personagem, nostalgia, conhecimento pré-reboot, mudanças cronológicas etc, o que não difere aqui. Citando Batgirl como exemplo: muitos não gostaram, pois sua antiga identidade como Oráculo foi deixada de lado. Eu gostei, mas também não conhecia sua história. Minha queda por títulos protagonizados por mulheres também colabora.
Batman & Robin: escrita por Peter Tomasi (Tropa dos Lanternas Verdes) e desenhada por Patrick Gleason (O Dia Mais Claro), não apresenta grandes novidades ao leitor. Bruce Wayne volta a ser o único Batman e Damian Wayne, seu filho, como Robin. O menino é encrenqueiro e, pré-reboot, chegou a participar dos Novos Titãs e era parceiro de Dick Grayson. Tomasi foca no convívio entre os dois, já que Damian tem pouca afinidade ao pai, além de Bruce o proteger nas missões. Há um inimigo invisível matando heróis ao redor do mundo que, a princípio, fazem parte da Corporação Batman e, ao mesmo tempo, uma gangue tenta roubar um ácido em Gotham. A arte de Gleason segue o padrão do gênero e não traz novidades, porém é competente e agradável.
Batwing:David Zavimbe é Batwing, integrante da Corporação Batman e atuante na Africa. Entre uma investigação e outra, divide espaço com sua carreira de policial, um dos poucos honestos do lugar, por vezes ajudando seus parceiros na forma do morcego. Um crime o deixa intrigado: uma facção de criminosos é brutalmente assassinada, aparentemente, por outra facção. Os demais policiais querem deixar o assunto de lado, já que parece se tratar de intriga entre gangues, mas o próprio Batman se dirige ao local para auxiliar na solução. Isso é narrado em flashback e, no presente, Batwing enfrenta o vilão Massacre, um dos envolvidos no crime.
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O roteiro é do Judd Winick, o mesmo de Exilados (publicado em X-MenExtra) e arte de Ben Oliver (Young X-Men). Os fans dizem que Batwing é um dos títulos criado para preencher as “cotas” da DC, neste caso à de negros. Acho uma besteira rotular tais séries, assim como ocorre em Batwoman (que é lésbica). Claro que é sempre bom explorar a diversidade nos quadrinhos, mas se torna um assunto complicado, já que os próprios leitores gostam de segmentar os gêneros. A arte pintada de Oliver é interessante e, em alguns momentos, lembram fotografias, com boas sequencias e destaque para as cenas sangrentas. Mantêm o ritmo de Batman & Robin.
Batgirl:uma série que divide opiniões. Barbara Gordon, filha do Comissário Gordon, foi a Batgirl durante os anos 1970 e 1980, quando leva um tiro do Coringa (na famosa A Piada Mortal) e fica paraplégica, impedida de usar o uniforme e combater o crime. Desde então, ela assume a identidade de Oráculo, graças à sua inteligência, memória fotográfica e conhecimentos como hacker, fundando o grupo Aves de Rapina. Com o reboot a sua história não foi esquecida, porém ela volta a andar e tenta se tornar a Batgirl novamente. Como ela se recuperou, é um mistério.
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Para quem acompanhava suas histórias, a mudança foi um choque; e em contra partida, a personagem é uma novidade para mim. Os roteiros são de Gail Simone (Aves de Rapina, Mulher-Maravilha), uma das poucas mulheres na equipe criativa dos Novos 52, que concedeu ao título um ar bastante “feminista”. Barbara está enferrujada, suas pernas não estão 100% e o trauma causado por Coringa persiste. Os flashbacks de quando levou o tiro ficaram interessantes e servem para mostrar ao leitor que pouco mudou de seus passado. Ainda insegura, sai da casa do pai e decide morar sozinha, enfrentando o medo de se relacionar com novas pessoas. Em paralelo, um vilão chamado Espelho está matando pessoas que sobreviveram de algum acidente cuja morte era certa, dentre elas a própria Barbara consta na lista. Os desenhos de Ardian Syaf (Superman/ Batman) são bons e dinâmicos, as cores de Ulises Arreola (Arqueiro Verde) são claras e, no geral, a arte da história está acima da média. Se comparado às duas primeiras séries, Batgirl me agradou mais.
Mulher-Gato: outro título que divide opiniões e que, inclusive, gerou polêmica em seu lançamento. O roteirista é o mesmo de Batwing (Judd Winick) e aposta na sensualidade de Selina Kyle e seu relacionamento com Batman, sem pudores. De início, vemos a gata tentando vestir seu uniforme, guardar seus gatos numa gaiola e fugir de um atentado em seu apartamento ao mesmo tempo. Os terroristas querem mata-la e não medem esforços, explodindo todo o andar. O motivo do ataque nem Selina sabe. Sem teto e sem dinheiro, ela pede ajuda à uma amiga, que lhe indica um terraço cujos moradores estarão ausentes e a coloca para trabalhar numa casa noturna freqüentada pela máfia russa de Gotham. Lembranças de seu passado surgem quando escuta uma voz familiar, deixando-a furiosa e arruinando seu disfarce.
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Chegando ao final, fica a impressão de que tudo isso não passou de uma desculpa para o roteirista colocá-la cara à cara com Batman. Com o reboot, Selina não sabe a real identidade do morcego e possui um caso com o mesmo. As últimas cenas são picantes e remete ao título da história (Sem Tirar Todo o Uniforme), com doses caprichadas de fetichismo e voyeurismo para os leitores de plantão. Tais momentos foram os responsáveis por colocar a Mulher-Gato entre as várias polêmicas envolvendo o tratamento que a DC deu à algumas personagens (como Estelar, da próxima história). Os desenhos de Guillem March (Sereias de Gotham) são inconsistentes, variando entre ótimas cenas (como na luta entre Selina e o russo) e proporções impossíveis, erros anatômicos, momentos forçados. O destaque fica para as cores de Tomeu Morey (Azrael) nas cenas em que ela usa peruca ruiva. No geral, é uma história sem novidades, que não agrada, mas também não decepciona.
Capuz Vermelho e Os Foragidos: a história mais criticada do mix. Escrita pelo Scott Lobdell (Geração X) e apresentando os heróis Capuz Vermelho, Arsenal e Estelar, foi levado a sério o termo “reboot”. Roy Harper (Arsenal) está preso e recebe a ajuda de Jason Todd (Capuz) para escapar da prisão. Eis que surge Estelar, a princesa alienígena, para dar cobertura à fuga. A leitura é rápida e a narrativa se assemelha à um filme de ação lotado de clichês e com toques de comédia. Os desenhos são de Kenneth Rocafort (Madame Mirage), exaltando as curvas dos personagens e não desaponta. Porém é na história e, principalmente, na nova caracterização dos personagens que Capuz Vermelho e os Foragidos desaponta.
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O trio já fez parte dos Novos Titãs e não fica claro se, com o reboot, o fato continua valendo. Se na série da Mulher-Gato ficou claro um fundo de sensualidade, aqui é só isso. Estelar é retratada como uma alienígena que não supre sentimentos pelos humanos e só deseja sexo, além de esquecer o que fez a cada meia hora. Lobdell transformou uma heroína meiga e cativante numa personagem vazia vinda de séries como SOS Malibu. Os Novos Titãs é um dos grupos que mais simpatizo na DC e a transformação da Estelar foi medonha! Algumas cenas, como ela saindo da água, parecem filmadas em câmara lenta. Nisso não se pode reclamar, Rocafort soube desenhar boas poses. Mas ao final, o leitor não sabe se leva a sério ou não a história, uma espécie de Sex and The City com explosões. Estelar dorme tanto com Roy quanto com Jason, e tudo é levado numa boa. Se a série fosse protagonizada por novos personagens, até seria divertida de ler, mas conseguiram destruir os ex-integrantes dos Novos Titãs. Rocafort poderia ter dado, pelo menos, o mesmo tratamento que deu à Princesa Koriand’r ao Arsenal e Capuz ^^
Asa Noturna: Dick Grayson, quando criança, trabalhava no Circo Haley como acrobata junto de sua família, formando “Os Graysons Voadores”, até a noite em que seus pais são assassinados. Órfão, Dick é adotado por Bruce Wayne e se torna o primeiro Robin. Anos mais tarde ele se une aos Novos Titãs, abandona o traje de ajudante mirim do Batman e se torna o Asa Noturna. Nesta edição, ele volta à Gotham e se surpreende ao descobrir que o Circo Haley está de passagem pela cidade. Em meio à lembranças de sua infância, ele decide visitar seus antigos amigos. Porém, um assassino surge para matar Dick Grayson e acaba enfrentando Asa Noturna.
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O roteiro é de Kyle Higgins (que também escreve a série do Exterminador) e une bem as cenas mais calmas, de reflexão e lembranças, com os momentos de ação. O personagem possui muitos fans e teve uma boa “volta”, tendo em vista que as séries ligadas ao universo do Batman pouco mudaram com o reboot. Os desenhos são do brasileiro Eddy Barrows (Novos Titãs) e são ótimos, ágeis e funciona muito bem com o estilo de movimentos do herói.
Batwoman: outra série que gerou polêmica. Ao contrário das demais, essa não faz parte do reboot, sendo lançada meses antes para reapresentar a personagem ao público. A decisão da Panini em publicar esta edição #0 em vez da primeira foi acertada. Com o roteiro de J. H. Williams e Haden Blackman (Star Wars), mostra uma Batwoman de volta à ação e perseguindo a Religião do Crime, enquanto um Batman misterioso à persegue tentando descobrir sua identidade secreta ou confirmar suas suspeitas. O fato de Kate Kane ser lésbica gerou algumas controvérsias, mesmo que isso tenha sido mostrado de forma muito suave.
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Mas o trunfo da série está em sua elogiada arte, fantástica. Os desenhos se dividem em dois momentos simultâneos: as cenas com Kate Kane e as cenas com a Batwoman, desenhadas por artistas diferentes. A diagramação é interessante e utiliza de muitas páginas duplas para dar sensação de movimento em ótimas sequencias e não se torna repetitivo ou apelativo, como costuma ocorrer. Amy Reeder Hadley (Madame Xanadu) criou as cenas com Kane à paisana e possui traços bonitos e agradáveis, enquanto as cenas em uniforme foram feitas pelo próprio J. H. Williams. O artista desenhou a série Promethea e é um dos principais nomes do momento, sendo escolhido para criar o especial de 25 anos de Sandman junto de Neil Gaiman. Seus traços são fortes e as cores de Dave Stewart (Daytripper) auxiliam na construção visual, principalmente por contrastar o branco e o vermelho. Uma ótima série, fechando com chave de ouro a edição.
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