Arcos Principais: Conexão Elektra (Elektric Connection) e Blefe do Cego (Blind Man’s Bluff).
Publicação Original/ Brasil: Daredevil #6-9 (Marvel, 2016)/ Demolidor Vol. 13 (Panini, 2017).
Roteiro/ Arte: Charles Soule/ Matteo Buffagni e Goran Sudžuka.
O primeiro arco do Demolidor dessa nova fase da Marvel, a All New All Different, trouxe algumas mudanças bem significativas ao Homem Sem Medo. O roteirista Charles Soule (Fabulosos Inumanos) acrescentou um sidekick, Ponto Cego, que funciona como um aprendiz do Demolior. Aparentemente quase todo mundo esqueceu a verdadeira identidade do herói, recuperando sua identidade secreta, além dele atuar agora como promotor e não mais como advogado de defesa. Foi um começo bem morno, trazendo um vilão caricato e trash, o Dez Dedos. O segundo encadernado da revista compila as edições #6 à #9, que são dois arcos de duas partes cada: Conexão Elektra e o Blefe do Cego; com as participações especiais da Elektra e do Homem-Aranha, comentados nesse review sem (muitos) spoilers!
CONEXÃO ELEKTRA
Durante um julgamento, Matt Murdock percebe que Elektra está no local, sentada e o observando. Ele planeja passar despercebido por ela, já que é cego, que ninguém vai perceber. Mas ela o chama e os dois acabam conversando num restaurante. Como todo mundo esqueceu que Murdock é o Demolidor, misteriosamente, ela pergunta se ele ainda tem contato com o Homem Sem Medo, que precisa da ajuda dele. Assim, Murdock marca um encontro do Demolidor com a Elektra. Tem um coisa em HQs de heróis, aliás, nem só nas de heróis, mas em histórias de ação no geral, que é o típico encontro onde temos: primeiro muita porradaria, sem ninguém saber o que está acontecendo; pra só depois conversar e perceber algum engano. E é exatamente isso que acontece aqui. O encontro entre a Elektra e o Demolidor já começa com voadora e soco na cara. Ela o culpa por algo, mas não diz. Bate primeiro.
Elektra revela que teve uma filha anos atrás, que abandonou para que não seguisse a carreira da mãe. Temos um flashback/ retcon. E ela descobriu que essa filha está em apuros graças ao Demolidor. Claro que eles discutem mais um pouco, rolam pelos telhados no melhor estilo Batman e Mulher-Gato, até se entenderem. O Ponto Cego faz uma participação especial, entrando no combate pra proteger seu mestre. Essa história da gravidez da Elektra é super bizarra, com um desfecho que já imaginamos qual é. Há algumas sacadas interessantes, como quando ela mostra um celular pro Demolidor (ela não sabe que ele é cego) e mesmo com seus sentidos aguçados, que traçam uma espécie de sonar dos objetos próximos, ele não consegue ver o que tem na tela. Os desenhos são de Matteo Buffagni (Daken: Dark Wolverine), bem ágeis e entregando cenas muito boas, como as adagas voadoras da ninja assassina, ameaçando o herói de morte. Mas o trunfo mesmo fica por conta das cores de Matt Milla (X-Factor), que mesmo trocando de desenhista entre os arcos, mantém um mesmo tom. Seus preenchimentos, texturas, retículas, tudo é muito bonito de se ver.
O BLEFE DO CEGO
Saindo do lance da Elektra, o Demolidor vai até Macau na China, com um plano mirabolante. Ele se disfarça e passa a jogar num Cassino, não deixando claro que é cego. Mas como é um jogo que envolve blefes e afins (truco?!), ele sempre analisa o comportamento de todos na mesa, pra poder saber a hora de blefar, de apostar ou não. Outra sacada interessante, até porque ele não enxerga as cartas (assim como não enxergou o video). Seu plano é arrecadar uma boa quantia de dinheiro, poder ter acesso às suítes de luxo do topo, encontrar seu parceiro Homem-Aranha e poder invadir um outro quarto, pra recuperar uma maleta misteriosa. É uma história mais contida que a anterior e até mais legal, tem um momento que ele joga contra um telepata, que entra em sua mente pra tentar ver quais cartas tem nas mãos. Além do Demolidor proteger seus próprios pensamentos, para que não descubra sua identidade secreta, o trunfo está em nem ele mesmo saber as cartas!
O Homem-Aranha comenta que lembra deles serem velhos amigos de combate ao crime, mas não lembra de certas partes. É outro que também esqueceu. Aparentemente, Soule vai tratar sobre isso mais pra frente. Claro que o plano não ocorre assim tão simples e temos uma outra edição recheada de pancadaria. Os desenhos são de Goran Sudžuka (Ghosted), num traço um pouco mais fino e com detalhes que Buffagni, mas mais uma vez temos as cores de Milla padronizando a estética da série, o que é ótima. Continuo me impressionando pelas sacadas com a visão, bem interessantes, mas as histórias em si não impressionam tanto, sendo legais e bonitas de se verem, mas que não vão muito além disso, batendo em certas teclas já manjadas.
Confira a sequência dos reviews de Demolidor que fiz aqui no site:
Fase Frank Miller
Demolidor: Amor e Guerra
Fase Mark Waid
Demolidor: As Crianças Púrpuras
Fase Charles Soule
Demolidor: Dez Dedos em Chinatown
Demolidor: Conexão Elektra e o Blefe do Cego
Demolidor: Arte das Trevas
Demolidor: O Sétimo Selo e Púrpura
Demolidor: Supremo
Demolidor: Terra de Cego
Demolidor: Prefeito Fisk
Demolidor: Prefeito Murdock
Demolidor: A Morte do Demolidor
Ou acesse o Índice de Reviews para conferir outras séries!
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.