Arcos Principais: Crentes (Believers) e Hospedeiros (Hosts).
Publicação Original/ Brasil: X-Files – Season 10 #1 ao #10 (IDW, 2013)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Joe Harris e Chris Carter/ Michael Walsh, Elena Casagrande & Silvia Califano, Greg Scott, menton3 & Tony Moy.
Arquivo X foi um fenômeno na década de 1990 e permanece até hoje como uma das melhores e mais icônicas séries de Ficção Científica, que inovou o gênero e inspirou tantas outras. Eu mesmo sou viciado, tenho tatuagem, amo os casos e toda a mitologia UFO me inspira na Central dos Sonhos e nas colagens. Criada por Chris Carter, foi ao ar entre 1993 e 2002 com seus 202 episódios em 9 temporadas. Estrelada por Gillian Anderson (Agente Dana Scully, a cética) e David Duchovny (Agente Fox Mulder, o crente), a dupla de Agentes Especiais do FBI que comandavam os Arquivos X, casos inexplicáveis e/ ou diferenciados que chegavam ao Bureau. Recentemente, a série retornou para a sua 10ª temporada especial agora em 2016. Para mais infos sobre a série, leia este Dossiê Arquivo X: A Verdade Continua Lá Fora.
Apesar da série na TV, Arquivo X sempre flertou com os quadrinhos. Em 1995, a Topps Comics começou a publicar uma mensal com histórias inéditas que durou 41 edições (1998), entre outros especiais. Aqui no Brasil a Mythos publicou bem toscamente algumas dessas edições, que já comentei aqui, e mais recentemente a New Order lançou um álbum de luxo com as 9 primeiras edições. E mesmo antes de qualquer um acreditar na possibilidade de uma décima temporada, a editora IDW (especializada em terror e séries licenciadas) começou a publicar em 2013 a mensal Arquivo X – Temporada 10, ocorrendo logo após o longa Eu Quero Acreditar (2008), trazendo a dupla de volta ao Bureau de Investigações, com uma nova trama alienígena, velhos personagens e continuações à monstros da semana icônicos em suas 25 edições mais alguns anuais e especiais. A IDW curtiu a ideia e ainda lançou em 2015 a “Temporada 11” e agora em 2016 uma outra mensal especial pegando carona no retorno da série à TV. Este review comenta as 10 primeiras edições de X-Files Season 10.
CRENTES
Após os eventos de Eu Quero Acreditar, Scully e Mulder tentam viver longe do FBI mas são surpreendidos com a chegada de Skinner, que agora é Diretor (e não mais Diretor Assistente) do Bureau. Ele informa que invadiram o sistema governamental e estão indo atrás de pessoas envolvidas com os Arquivos X. Este grupo atende pelo nome de Acólitos. Nesse arco em 5 partes temos um início arrastado que vai tomando fôlego somente perto do final. O roteiro é de Joe Harris (A Busca por Ciclope) que assina quase todas as edições, com o apoio do próprio Chris Carter. É o famoso primeiro contato com o leitor, precisando contextualizar alguns pontos pra culminar no retorno da dupla ao FBI e, consequentemente, à reabertura do Arquivo X.
Os Acólitos sequestram Scully e Mulder apela aos antigos amigos para ajudar na investigação, onde novas (e velhas) conspirações vão surgindo. Dentre os pontos mais interessantes temos os Pistoleiros Solitários, que “morreram” na série mas que aqui estão vivos, com a desculpa de que “fingiram a própria morte”, trabalhando atualmente para o FBI. Os Acólitos são alienígenas e retoma várias coisas da mitologia que quem é fã irá adorar. Aliás, um dos pontos positivos dessa Season 10 é o fã service, detalhes que fãs não deixam passar batido. Em contra partida, o leitor de primeira viagem pode se sentir um pouco perdido.
Coisas como o pingente de cruz que a Scully sempre utiliza ou um flashback de como ela teve seu bebê (William, que foi entregue à adoção para que ninguém descubra seu paradeiro) confirma sua ligação com a série. Os Acólitos não chegam a ser tão carismáticos, mas mantém uma das bases da mitologia: continuam com o sangue verde tóxico e são mortos com a faca especial na nuca. O Canceroso, antagonista da dupla, também dá o ar da graça como só ele consegue fazer: através de fumaça misteriosa. Tanto o Agente Dogget como a Agente Monica também fazem uma ponta. A impressão que fica é de que a história segue o roteiro de um filme. Inclusive as cenas finais trazem o combo “nave alienígena + amnésia” que já foi utilizado no primeiro filme de 1998. A arte é de Michael Walsh (Vigadores Secretos) e segue um estilo clean típico da IDW, que não surpreende mas também não desaponta, com destaque para a fidelidade nos rostos das personagens aos atores que interpretaram na série.
HOSPEDEIROS
Com a poeira abaixada, Scully e Mulder largam suas identidades secretas e voltam ao Bureau, reabrindo os Arquivos X. O Diretor Skinner elege a nova Diretora Assistente Morales para auxiliar nos novos casos. Neste arco em 2 partes temos o retorno de Flukeman (S02E02), uma das criaturas mais icônicas da série. Pessoas estão desaparecendo numa cidade e apenas uma foi encontrada, com marcas que remetem às deixadas por Flukeman anos antes. Devido a semelhança, a dupla é chamada para investigar, voltando à ativa como antigamente: Scully examinando uma mostra deixada na vítima; enquanto Mulder faz o trabalho de campo, descobrindo o que seria o covil desses parasitas humanos.
Começamos a pegar o esquema da revista, entendendo que podem haver arcos grandes como o primeiro, ou pequenos “monstros da semana”, assim como na série. Uma característica bem interessante é que cada edição inicia com algo impactante pra logo depois vir o logo e o título da história, como se fosse uma abertura. A arte de Hospedeiros é da Elena Casagrande (Angel, Hack/Slash), mais interessante e ágil que de Walsh. Toda a parte artística da série tenta apresentar um ar nostálgico, principalmente nas capas.
PELO BENEFÍCIO DO SR. X
As edições 8, 9 e 10 trazem histórias curtas. Pelo Benefício do Sr. X é a primeira, iniciando com uma espécie de flashback numa escola, onde crianças passaram por experiências (provavelmente governamentais) e muitas tiveram um comportamento agressivo, matando umas as outras. Enquanto isso, Mulder e Scully recebem uma dica anônima que os levam até a antiga residência de Mulder, onde agora moram um casal. Tudo parece normal, até verem no vidro da janela um X feito de fita crepe e uma ampola com sangue, que Scully acredita ser o óleo negro. Tanto o X na janela quanto o óleo são elementos clássicos da mitologia da série. Um ponto que se destaca nessa história é a dupla Sr. X e Garganta Profunda, que vazavam informações do Bureau para Mulder. Ambos estão mortos. Walsh retorna nos desenhos, com as cores de Jordie Bellaire (Cavaleiro da Lua) e se redime, com uma agilidade muito boa e estilização das cenas que merecem elogio. Principalmente a abertura com as mortes na escola.
ESTRIDULANTE
Estridulante é o nome de um grupo de insetos que estridulam (emitem um barulho estranho), como a cigarra. Nessa história que leva esse título, um homem obedece o Deus Estridulante, que se comunica com insetos e que precisa de “tributos”. A Diretora Assistente Morales chama Mulder e Scully para investigarem estranhos desaparecimentos que levam a este homem e à uma vila bastante suspeita. Impossível não lembrar do episódio A Guerra das Baratas (S03E12). Com arte de Greg Scott (Central Gothan), é um dos destaques dessas 10 edições. História aparentemente simples, com fã service, um caso tipicamente arquivo x para os novos leitores e uma nojeira sem fim com as baratas que comem pessoas.
MAIS DEVANEIOS DO CANCEROSO
A edição 10 traz o misterioso retorno do maior antagonista de todos: o Canceroso. No estilo dos episódios especiais onde Mulder e Scully não apareciam, nesta história o foco é C.G.B. Spender e suas inúmeras missões no Bureau. Em meio a flashbacks, vemos a relação que ele teve com a mãe de Mulder, deixando no ar o fato dele ser o verdadeiro pai do Fox, algo sempre recorrente na série. A arte é bastante estilizada, faz o leitor se perder um pouco, mas que é recompensado pelas incríveis cenas feitas pelo obscuro Menton3 (Silent Hill, Monocyte) e Tony Moy (Transfusion).
Arquivo X – Temporada 10 veio com a intenção de reviver o fenômeno Arquivo X, ocorrendo logo após os eventos da última temporada e do filme Eu Quero Acreditar, reapresentando a dupla de Agentes Scully e Mulder ao Bureau de Investigações. O começo traz alguns tropeços, mas aos poucos foi se encaixando e vendo o que funcionou ou não. Nessas 10 primeiras edições o saldo é positivo, mesmo com a primeira metade sendo bastante mediana. Por ser um grande fã da série, o principal destaque foi ver o retorno do Flukeman ou do clima mais trash em Estridulante, assim como os antigos personagens. Mas é um clima de nostalgia, que não pode perdurar pra sempre. Fica a expectativa de como Joe Harris trabalhou com a mitologia de Arquivo X, introduzindo novos elementos. A série continua inédita no Brasil e não tenho muitas esperanças que vá sair algum dia. Felizmente, é possível encontrá-la traduzida por fãs em sites de scans.
Confira outros reviews de Arquivo X que fiz aqui no site:
– Vol. 1 (1995 – 1998): Fase Clássica (#01-41)
Review das edições lançadas no Brasil entre 1997 e 1998:
Arquivo X – Edição 1 (#1-2)
Arquivo X – Edição 2 (#3-4)
Arquivo X – Edição 3 (#5-6)
Arquivo X – Edição 4 (#30 e #33)
– Vol. 2 (2013 – 2015): Temporada 10 (#01-25)
Arquivo X – Temporada 10: De Volta ao Bureau (#1-10)
Arquivo X – Temporada 10: Peregrinos e Imaculada (#11-18)
Arquivo X – Temporada 10: O Retorno do Sindicato (#19-25)
– Vol. 2 (2015): Temporada 11 (#01-8)
Arquivo X – Temporada 11: De Volta ao Lar (#1-5)
Arquivo X – Temporada 11: Fim de Jogo (#6-8)
– Vol. 3 (2016 – 2017): Revival (#01-17)
Arquivo X: Días de Los Muertos e Ismael (#1-5)
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.