Arcos Principais: Peregrinos (Pilgrims) e Imaculada (Immaculate).
Publicação Original/ Brasil: X-Files – Season 10 #11-18 (IDW, 2014)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Joe Harris e Chris Carter/ Matthew Dow Smith e Colin Lorimer.
Antes mesmo da Temporada 10 ser uma realidade na TV, a editora IDW passou a publicar a série mensal X-Files – Season 10 em 2013, continuação direta das 9 temporadas anteriores e do filme de 2008, levando os Agentes Fox Mulder e Dana Scully novamente ao Bureau e aos Arquivos X. A série durou 25 edições, ganhou um outro especial (Season 11) e vem sendo publicada atualmente, com diversos especiais e spin-offs. Este review comenta, sem (muitos) spoilers, os dois arcos que ocorrem nas edições #11-18 de Season 10 (Peregrinos e Imaculada), um mitológico e outro de monstro da semana. Para saber um pouco mais sobre o histórico de Arquivo X nos quadrinhos, leia o especial Arquivo X – Temporada 10: De Volta ao Bureau, sobre as 10 primeiras edições. E para relembrar a série de TV, o especial Dossiê: A Verdade Continua Lá Fora.
PEREGRINOS
Como fã de Arquivo X, confesso que a expectativa por esta versão/ continuação em quadrinhos foi muito grande. Mas há algo na maneira de Joe Harris (A Busca por Ciclope) narrar a história que não me empolga tanto. No primeiro especial levantei todos os pontos altos que ele trouxe: a retomada da mitologia, de personagens e monstros clássicos, a ideia de intercalar arcos pequenos e grandes, o logo da série que surge depois de algumas páginas (como se fosse a abertura). Tudo muito legal e um prato cheio de nostalgia. Mas até onde a nostalgia pode sustentar uma revista mensal? Esse é o principal problema: começam a depender do passado. Em Peregrinos, Mulder e Scully são chamados para investigarem um caso de acidente numa petrolífera na Arábia Saudita envolvendo trabalhadores americanos. Como de costume, algo aparentemente normal, mas que se revela uma trama/ conspiração maior.
Harris traz de volta o óleo negro (um líquido alienígena que possui as pessoas) e a clássica “perda do tempo” que acontece quando há um contato imediato (o relógio para por alguns instantes). Investigando essa nova aparição do óleo, Mulder e Scully se arriscam para descobrirem até onde o Governo Americano e Saudita estão envolvidos no esquema. Até aí tudo bem. Mas eis que tiram do além Alex Krycek e sem nenhum motivo bom. Okay terem revivido o Canceroso, até na nova temporada da TV fizeram isso devido ser o mais icônico antagonista. Mas terem inventado uma desculpa esfarrapada pra trazerem os Pistoleiros (como comentei no primeiro review) e agora Krycek? Num momento, Scully também é teletransportada da Arábia para os EUA sem nenhuma grande explicação.
Perto do fim do arco, temos também o grupo visitando a Skyland Moutain, um lugar já conhecido na série: uma montanha com teleférico no interior dos EUA, onde as pessoas dizem avistar luzes coloridas e OVNIs. O fato de ter tanta referência à serie original é uma prova que Joe Harris conhece o material com que trabalha e quer nos dar um “fã-service“. Mas também acaba prejudicando, pois não há novidades. Inclusive, ele tira do limbo muitos dos chefões do “Sindicato“. Matthew Dow Smith (Doctor Who) é o desenhista e segue um estilo alternativo que não sou muito fã. Há um exagero na tentativa de cada personagem parecer o ator que o interpretou.
IMACULADA
O arco seguinte é um monstro da semana em duas partes. Numa cidadezinha, uma garota explode uma clínica de aborto, desencadeando uma série de histeria na população: pessoas ficam cegas, perdendo o globo ocular; enquanto outras passa a segui-la como uma Messias. O que seria a mão de Deus agindo sobre a cidade pode ser, muito bem, a mão do Diabo. Uma história mais divertida que a anterior e com os desenhos de Colin Lorimer, que se encaixam melhor, mais ágeis e obscuros, suas cores são ótimas também. O clima é nostálgico, mas não chega a incomodar; é como se estivéssemos vendo um episódio da série. Um menos impactante, mas ainda com seu charme.
Mas como Joe Harris vem fazendo, ele precisa trazer mais alguém do passado: agora é a vez de Frank Black, protagonista da série de investigação Millenium, também criada por Chris Carter. Curiosamente, Arquivo X já teve um episódio crossover com Millenium (S07E04). E a versão em quadrinhos dela também foi escrita pelo Harris e desenhada por Lorimer. Ou seja, todo mundo trabalhando com material que já conhece (ou reciclando?).
MONICA E JOHN
A edição #18 traz uma história curta, com o retorno dos Agentes John Dogget e Monica Reys, desaparecidos há um ano e meio (mas que ninguém sabia). A dupla ficou trancafiada no porão de um fanático que esperava a chegada de aliens superiores, mas que foi abandonado ou esquecido. Uma leitura agradável, que funciona para reapresentarem os personagens. Mas o curioso é que o leitor não estava a par desse desaparecimento. Ou seja. Poderia ter feito uma história de investigação com os dois.
Peregrinos e Imaculada são dois arcos medianos. Se por um lado são bons por trazerem de volta muito do que fez a fama de Arquivo X, como o óleo negro ou até os alienígenas rebeldes e sem rosto, que pegam fogo (super fã service), passando pelo clássico furo na nuca e sangue verde; o que agrada bastante, dando aquela sensação de continuar de onde a série parou. Por outro, o excesso de referências impede novas mitologias, se apoiando muito no passado. A quantidade de personagens revividos é enorme e, com exceção de poucos, sem motivo aparente e desnecessário. A arte também não chega a ser carismática como em algumas histórias das primeiras edições. Felizmente, a caracterização do Mulder e da Scully continuam ótimas, tanto o lado cômico dele quanto o cético dela. Sempre bom vê-la numa sala de cirurgia. “Temporada 10” continua inédita no Brasil, mas é possível encontrá-la traduzida por fãs na internet.
Confira outros reviews de Arquivo X que fiz aqui no site:
– Vol. 1 (1995 – 1998): Fase Clássica (#01-41)
Review das edições lançadas no Brasil entre 1997 e 1998:
Arquivo X – Edição 1 (#1-2)
Arquivo X – Edição 2 (#3-4)
Arquivo X – Edição 3 (#5-6)
Arquivo X – Edição 4 (#30 e #33)
– Vol. 2 (2013 – 2015): Temporada 10 (#01-25)
Arquivo X – Temporada 10: De Volta ao Bureau (#1-10)
Arquivo X – Temporada 10: Peregrinos e Imaculada (#11-18)
Arquivo X – Temporada 10: O Retorno do Sindicato (#19-25)
– Vol. 2 (2015): Temporada 11 (#01-8)
Arquivo X – Temporada 11: De Volta ao Lar (#1-5)
Arquivo X – Temporada 11: Fim de Jogo (#6-8)
– Vol. 3 (2016 – 2017): Revival (#01-17)
Arquivo X: Días de Los Muertos e Ismael (#1-5)
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.