Arcos Principais: Vingadores Vs. X-Men (Avengers Vs. X-Men).
Publicação Original/ Brasil: Avengers Vs. X-Men #0-12 (Marvel, 2012)/ Vingadores Vs. X-Men #0-6 (Panini, 2013).
Roteiro/ Arte: Brian Michael Bendis, Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman, Matt Fraction, Jeph Loeb/ John Romita Jr., Olivier Coipel, Adam Kubert, Frank Cho, Ed McGuinness.
Vingadores Vs. X-Men foi um mega evento da Marvel que se estendeu por diversas revistas, quase como o ponto final de tudo que veio acontecendo desde A Queda dos Vingadores, culminando na Extinção dos Mutantes. Como todo evento do gênero, houve uma série própria homônima com 13 edições (#0-12) onde ocorre, digamos, todo o conteúdo principal, dando um começo e um fim. Essa é a revista comentada nesse review especial, com spoilers. Mas, como de costume, muitos detalhes acabam passando despercebidos (ou pulados) por ocorrerem em outras revistas (como Wolverine e os X-Men, X-Men Legado…), que lerei depois, mas que acaba prejudicando um pouco a leitura por si só, sempre exigindo um esforço enorme do leitor para poder compreender tudo (e as vezes nem vale a pena) em vez de ser algo auto-contido. Apesar dessa saga ser escorraçada por muitos, principalmente por colocar os X-Men num papel quase que de vilões, admito que há pontos interessantes.
PRÓLOGO
Ler HQs de heróis, mais precisamente Marvel e DC, muitas vezes é um processo cansativo. São inúmeras séries mensais ou quinzenais, incontáveis personagens e histórias que ultrapassam 50, 70 anos. Isso faz com que as editoras criem estratégias pra sempre manterem seus leitores e atrair tantos outros. Vingadores Vs. X-Men, de certa maneira, serviu pra isso. O evento trouxe duas das maiores equipes da Marvel, lutando entre si e culminando num relançamento das revistas da casa em 2012 com a NOW, algo semelhante ao que a DC fez com suas séries em 2011 com Os Novos 52. E digo cansativo porque VvX exige que o leitor esteja por dentro de muitas coisas, além da série principal (esta comentada) se desdobrar em inúmeras outras edições, fazendo parecer que há furos na história. E olha que estamos falando de 13 edições! Tempo mais que suficiente pra terem feito algo mais contido. E também são diversos roteiristas e desenhistas mexendo na história. Sabe aquele ditado de que duas pessoas não podem mexer no mesmo doce, senão azeda? É isso. Causa contrastes, como a Esperança aparecer como criança num momento, como adolescente em outro e quase como adulta numa terceira versão. Mas passado a contextualização, bora pro que interessa!
A edição #0 marca o Prólogo e funciona pra apresentar a Feiticeira Escarlate e a Esperança. A Wanda, por exemplo, tenta impedir o MODOK de um atentado, mas ela não está tão em forma quanto antes. Ms. Marvel e a Mulher-Aranha surgem para ajudá-la e dizem que está tudo bem, que irão perdoá-la pelo que fez, que pode voltar pra mansão. Só que não. O Visão a recebe com uma raiva enorme, a mandando embora. Já a Esperança está irritada com toda a situação de Utopia, saindo as escondidas pra combater o crime de maneira violenta, recebendo uma bronca do Ciclope e, pra mostrar sua fúria, acaba dando uma rajada nele. Ela admite que tá esperando a própria Força Fênix.
ROUND 1
A partir da edição #1 começa os “Rounds“. Um Nova cai do céu e diz que algo está vindo. O Capitão América e o Homem de Ferro, investigando, descobrem que a Força Fênix está passeando pelo cosmos e vindo direto pra Terra. Eles contam ao Governo e sabem que a responsável por isso é a Esperança, que ela precisa ser capturada e estudada a fim de prevenir que a Fênix destrua o mundo. Chegando em Utopia, claro que o Ciclope não concorda com isso e não deixará que a levem, pois acredita que a Fênix está vindo para salvar a raça mutante, que será a responsável pelo ressurgimento da espécie. Dois embates ideológicos, um com fé em salvar sua raça e o outro com medo de ter a Terra destruída. É o gatilho pra saga e o conflito das equipes. O próprio Capitão já esperava isso e estava com o Aeroporta-Aviões da SHIELD invisível no céu, dando ordem para que os Vingadores surgissem e tirassem Esperança à força.
ROUND 2
O que se segue é uma brigaiada danada, algo que é explorado à exaustão em toda a saga. Mas nesse início até que funciona. Particularmente, gostei bastante de como o Ciclope vinha sendo representado até aqui, como um líder que quer, acima de tudo, a segurança da raça mutante. E é o que ele faz, incluindo chamar o Wolverine de traidor por estar ajudando os Vingadores. Mas o próprio Logan, desde a Cruzada das Crianças, já estava nem aí pro Ciclope e só quer dar um fim nisso de uma vez por todas (nem que signifique matar a Wanda ou a Esperança, nesse caso). Ele tenta fugir do Ciclope e se infiltra em Utopia, mas quando chega na menina acaba sendo surpreendido, levando uma explosão-Fênix na cara. A cada movimento da ave pelo cosmos, se aproximando da Terra, ela fica mais instável.
ROUND 3
Aqui, na edição #3, já temos uma sensação de “pulo“. Ciclope percebe que está perdendo terreno e, com a ajuda da Magia, consegue enganar os Vingadores e fogem da Ilha. A sensação de pulo é porque já começa mostrando os X-Men se rendendo, mas não vimos quando. O Capitão também tem seus momentos, não gostando que o Wolverine tenha agido fora do plano e o arremessando avião abaixo. Chega a ser cômico ver os heróis resolvendo os problemas desse jeito. Já Scott se conecta com a Rachel e pede sua ajuda, para que fique junto a ele na batalha contra os Vingadores. Algo que, claro, ela aceita.
ROUND 4
O Wolverine acabou ficando no meio da neve, abandonado, quando a Esperança surge para salvá-lo. Ela pede uma chance, para que ele acredite nela, que ambos possam ir até a Lua e, assim, ela poder receber a Força Fênix sem que a Terra corra algum risco. E caso algo dê errado, ele pode dar a cartada final. Mas apesar dela ser uma expert como soldado, ela também foi bastante ingênua. Apesar que estamos falando do Wolverine, ele sempre foi o “tio” do rolê (como pra Kitty ou Jubileu), mas não foi o caso aqui. Ele a enganou, levando-a até à Lua numa armadilha, avisando os Vingadores (que tinham acabado de jogá-lo do avião!) para que eles possam aprisioná-la. Enquanto isso, a Emma protagoniza uma cena interessante, onde entra na mente do Groxo e o faz acessar a Cérebra, quase como uma ligação remota, descobrindo o plano dos adversários. Ficou bem semelhante ao que vimos no filme X-Men 2.
ROUND 5
Pegando a saga como um todo, acho que ela poderia ter acabado aqui (com um final diferente, claro). Não teríamos toda a pirotecnia das duas equipes se matando a todo momento, mas funcionaria do mesmo jeito. Afinal de contas, no final a Fênix domina a Esperança e é expurgada com a ajuda da Wanda. Então por que não fizeram logo aqui, cortando todo o restante? Mas a Marvel e os roteiristas optaram por seguir um caminho diferente: a Fênix realmente cai na Lua e domina a Esperança, ela percebe que não vai aguentar e pede pra ser morta; eis que surge o Homem de Ferro num Transformer e dá uma porrada suicida na Fênix, mas ao invés de matá-la, acaba sendo repartida e dominando outros cinco mutantes. Assim, temos Ciclope, Emma, Colossus, Magia e Namor como os novos X-Men-Fênix. Com direito a novos uniformes, vozes diferentes e tudo o mais. Se uma já era problema, imagina cinco!
ROUND 6
Outra sensação de pulo, dessa vez um pouco mais corrido. Os cinco novos X-Men (que ficaram bizarros) utilizam seus poderes ampliados para transformarem o mundo num lugar melhor, gerando energia limpa, água e comida para todos. Algo que foi melhor trabalhado e explicado nas séries periféricas, deixando aquele gostinho de “o que tá acontecendo?“. O Ciclope estava certo, então? Realmente a Fênix veio pra salvar, ressurgir, em vez de destruir? Até então sim, mas como ainda temos mais 6 edições pra encher linguiça, os Vingadores estão preocupados com o nível do poder dos cinco e ainda querem capturar a fucking Esperança! Chega a ser irritante ver a equipe, mais uma vez, invadindo Utopia (que agora virou uma versão mutante do Nosso Lar) pra pegá-la. É quando surge a Feiticeira Escarlate, mostrando ser a única cujo poder afugenta a Fênix.
ROUND 7
Namor briga com o Ciclope, diz que ele é um ótimo líder mas um péssimo governante. E estamos falando do Rei de Atlantis. E é aqui que percebemos o quanto o Ciclope está saindo dos trilhos, deixando de ser aquele líder destemido que estava prestes a fazer de tudo pela sua raça, para se tornar um lunático. A Emma, com direito a um beijo na boca do Namor, diz que não confia em mais ninguém e que descobriu pra onde os Vingadores levaram a Esperança: Wakanda. Alguns pontos aqui precisam de mais comentários, como a calça do Namor. Super cintura baixa, se é que me entendem! A Esperança parece como uma criança mesmo, mas já muda em outras edições. O Fera disse que não compactuava com os Vingadores, mas também não sai da equipe. Se decida, homem! O bom é que a Feiticeira Escarlate continua acusada de ser a responsável por tudo isso. Good.
ROUND 8
Em matéria de ação, não há muito do que reclamar, já que não falta. O Namor-Fênix chega furioso em Wakanda, mandando logo uma tsunami pra engolir a cidade e, inclusive, quebrando o braço do Hulk Vermelho. É preciso toda a força dos Vingadores, juntos, para derrubarem-no. A Feiticeira Escarlate consegue dar o golpe final e expulsa a entidade de seu corpo. Mas é a Fênix, não pode ser destruída, acabando por toda a energia voltar pros outros quatro. Ficando bem óbvio o que vai acontecer, que a resolução da saga vai cair em cima do “poder corrompe“. Que cedo ou tarde um ficará contra o outro, a fim de ganhar mais poder.
ROUND 9
Outros mutantes começam a perceber o quanto Ciclope saiu de controle, seguindo a clássica ditadura de “me seguem ou estarão contra mim“. A sensação que fica é a de que os mutantes, em especial o Ciclope, foram transformados em vilões. Os Vingadores não possuem poder de fogo contra eles, ainda mais possuídos pela Fênix, então a Marvel deu um jeitinho de colocá-los como o lado ruim da história. Essa foi a sensação que tive. Tempestade é uma que sai, informando pros Vingadores que o Thor está preso num Vulcão demoníaco que a Magia criou. Inclusive a Magia e o Colossus viraram dois insanos, com ela matando pessoas que cometeram algum erro no passado, e ele brincando de criar novas espécies de bichos. Enquanto a própria Emma tá com ares de grandeza e fazendo seus alunos a venerarem. O que eles se tornaram? No vulcão, o Homem-Aranha consegue colocar os dois irmãos um contra o outro, se aniquilando e a Força Fênix se dirigindo pra Emma e Ciclope.
ROUND 10
O Homem de Ferro descobre que, por algum motivo, a Fênix não é compatível com a Energia do Caos da Wanda e nem com a energia do Punho de Ferro. Eles começaram a entrar e sair da K’un-Lun, a Cidade Mística do Kung-Fu. No passado, a própria Cidade já havia combatido a Fênix e talvez isso explicasse alguma coisa. Aqui já não resta dúvidas de como os X-Men foram postos como vilões. A Emma, enlouquecida pela adoração, descobre que a Esperança está treinando lá e o Ciclope invade a Cidade, lutando contra um Dragão. De fato a energia mística machuca a Fênix, mas esse Dragão ainda é jovem e fraco. A Esperança faz um discurso do quanto ele mudou, ficou lunático, e termina dando um super Punho do Caos (pegando emprestado os poderes da Wanda e do Punho de Ferro), o enviando de volta pra Utopia.
ROUND 11
Em comparação às outras, essa edição #11 até que ficou bacana. O Professor X finalmente mostra que não está fora da jogada e começa um duelo psíquico com o Ciclope, enfraquecendo-o. Aliás, todos estão contra o Scott, inclusive outros X-Men como o Homem de Gelo, Tempestade e afins. Ele mostra que perdeu a noção totalmente e explode a Emma Frost, tirando sua Força Fênix e, agora sim, sendo o único hospedeiro da entidade e se transformando na temida Fênix Negra! No passado foi sua falecida esposa, Jean Grey, e agora foi sua vez. Por ser já perto do final, não fica tanto com clima de enrolação. Um outro ponto muito importante é que ele contra-ataca o Professor X e o mata! É uma morte e tanto, porém perde um pouco do impacto graças a alguns eventos anteriores: em Complexo de Messias ele levou um tiro na cabeça e foi revivido depois, pelo Exodus em Pecados do Pai. E agora, novamente, ele é morto. Mas até quando?
ROUND 12
A última edição segue o estilo de “chefão”, com Ciclope super poderoso atirando pra todo lugar e transformando a Terra num inferno. Wanda e Esperança se unem e conseguem abatê-lo, finalmente! Mas como a Fênix não morre, ela volta pro corpo da Esperança, que era o plano original. Há todo um discurso entre ela e a Wanda, sobre como ela pode parar com tudo isso. É aí que pensei que tudo poderia ser finalizado na edição #5, porque a Feiticeira Escarlate e a Esperança dão as mãos e dizem “sem mais Fênix” e, magicamente, a entidade deixa o corpo da menina e some no cosmos. Marcando um recomeço, com as Cucos descobrindo que novos mutantes estão surgindo pelo globo, sendo o renascimento da espécie. O final coloca Capitão América e Ciclope, agora preso numa cela de quartzo-rubi, discutindo sobre o que tudo isso virou. O Cap assume que negligenciou a causa mutante por muito tempo, já que eles tiveram participação zero nos grandes conflitos que se resultaram nisso (Dinastia M, Complexo de Messias…), pegando a antipatia dos X-Men, que não participaram da Guerra Civil. Por outro lado, também diz que o Ciclope foi longe demais.
A saga principal de Vingadores Vs. X-Men tem seus pontos altos, com discussões interessantes e colocando um sinal de interrogação em cima do Ciclope, o grande líder da raça mutante: valeu a pena tudo isso, ele realmente estava certo? E se os Vingadores tivessem dado uma chance pros mutantes de resolverem seus próprios problemas, já que não se importaram com sua extinção, e ver se a Fênix realmente estava na Terra pra salvar a raça mutante? Eu tendo a crer que sim, nesse ponto da história. Mas com raiva pelos mutantes terem se transformado em grandes vilões, que estão sempre estragando os planos da humanidade. E como saga em si, deixou muito a desejar. Enrolou demais, pulou cenas e correu em outras. Fica aquela encheção de linguiça só pelo shock-value de vermos as duas equipes se matando.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.