Nome Original: Civil War #1 ao #7
Editora/Ano: Panini, 2015 (Marvel, 2006)
Preço/ Páginas: R$60,00/ 214 páginas
Gênero: Ação/ Super-Herói
Roteiro: Mark Millar
Arte: Steve McNiven
Sinopse: A ação precipitada de um grupo de jovens super-heróis acarreta uma tragédia sem precedentes, deixando um saldo de centenas de mortos. Diante da pressão popular, o governo sanciona uma lei determinando que todos os superseres sejam registrados. A iniciativa divide a comunidade heroica como nunca antes. De um lado, a facção pró-registro, liderada pelo Homem de Ferro; do outro, os contrários à medida, tendo à frente o Capitão América.
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“Guerra Civil” se tornou um nome de peso para as HQs de super-heróis, por colocar os principais heróis da Marvel frente a frente e remexer em todo seu universo. Com o lançamento do filme Capitão América: Guerra Civil chegando, o status da HQ fica cada vez mais alto. Se vale todo o burburinho, tenho minhas dúvidas…
Publicada originalmente em 7 partes em 2006, a Guerra Civil foi a maior saga da Marvel na época, logo após a Dinastia M, que mexeu com todos os mutantes. Foi compilada num encadernado de luxo em 2010, mas esgotando rapidamente. Não era raro encontrá-la no Mercado Livre, por exemplo, custando R$200! Finalmente a Panini abriu os olhos e relançou esse material em 2015, aproveitando a onda do filme. A Salvat também publicou a minissérie em sua coleção de Graphic Novels.
Na história, o grupo de jovens super-humanos Novos Guerreiros estão filmando suas ações heroicas num formado de reality show, com direito a melhores tomadas, maquiagem e frases de efeito. Mas numa dessas missões, que seria o principal episódio de sua 2ª temporada, acabam causando um enorme acidente: o vilão Nitro gera uma explosão, atingindo uma escola próxima e matando centenas de crianças.
A repercussão na mídia é grande e a atitude dos super-heróis, de maneira geral, é questionada. Até quando vamos aguentar adolescentes tentando salvar o dia? Pessoas mascaradas pensando que estão acima da lei? Patrimônio público e privado sendo destruídos a todo instante? Tudo isso culmina no projeto de lei de Registro de Super-Humanos, na intenção de registrar e controlar todo e qualquer super-humano nos EUA. Aqueles ditos super-heróis seriam, então, contratados pelo Governo e receberiam treinamento especial, principalmente os adolescentes, para o combate ao crime.
O projeto divide opiniões. O Homem de Ferro se torna a favor, pois acredita que é preciso parar de “brincar” com os poderes por aí, causando o menor dano possível às pessoas; enquanto o Capitão América é contra, pois acredita que super-heróis não devem se misturar à política ou revelar sua identidade secreta. O embate se torna caótico quando o Governo determina que quem for contra o projeto de lei será caçado e mandado à Prisão Nº 42, na Zona Negativa. O Homem de Ferro consegue o apoio de gigantes como o Henry Pym, Sr. Fantástico, Mulher-Hulk e Homem-Aranha; enquanto Capitão América passa a atuar na clandestinidade com o apoio de heróis como Manto e Adaga, Golias, Demolidor e Falcão Negro.
O roteiro é do consagrado Mark Millar, autor de obras como Kick-Ass, Authority, Os Supremos e X-Men Ultimate, conhecido por sua pegada realista e violenta. Ele consegue apresentar a Lei, os dois lados, os combates e ideias num curto espaço de tempo, com direito a algumas subtramas muito boas (como o jejum do Dr. Estranho e o relacionamento entre Namor e Sue). A ideia de registro de super-heróis não é nova, Watchmen do Alan Moore já falava disso em 1986. Os próprios mutantes já passaram diversas vezes por tentativas de registro e catalogação. Mas foi a primeira vez, num quadrinho mainstream, que vimos algo grandioso, dividindo de forma tão marcante os próprios heróis.
Durante seus 7 capítulos, Guerra Civil traz cenas incríveis e tenta deixar o leitor em xeque, mostrando dois pontos de vista distintos, mas sem o “certo ou errado”. O melhor momento, pra mim, é quando há a chegada de Thor ao embate entre as duas equipes, e o deus nórdico acaba assassinando um herói e, prestes a matar mais, a Mulher Invísivel percebe a loucura que estão fazendo e defende o Capitão América. Chega a emocionar.
Outro momento marcante e que ficou icônico é a coletiva de imprensa do Homem-Aranha, quando ele tira a máscara e revela sua identidade. Interessante falar que os X-Men não tomam partido na Guerra, preferem não se misturar. O próprio Homem de Ferro convida a Emma Frost e, ao receber um não, comenta sobre como os mutantes estão sendo insensíveis. Então ela lembra do genocídio em Genosha e o quanto os Vingadores estiveram nem aí. Vrá!
Tudo muito bom, tudo muito bem, é legal pra caramba ver o Homem de Ferro quebrando a cara do Capitão América, depois assistir ao contrário… Mas, particularmente, a expectativa da GUERRA CIVIL foi maior do que o real resultado, frustrando um pouco a leitura. O realismo com que Mark Millar trata a trama é honrável, porém há alguns pontos a comentar. A história ocorre muito rápido: num momento há a explosão na escola, no outro o registro, então jã são formados os grupos, porradaria, troca heróis, mais porradaria e fim. A série foi publicada ao longo de 7 meses, expandindo para outras séries, aumentando a imersão para quem acompanhou na época, mas ao ler numa graphic novel, acaba perdendo o fôlego.
Isso impede que haja espaço para grandes questionamentos. E isso é um ponto importante: tanto Watchmen quanto os arcos de registro dos X-Men, como em Os 198 (um pouco antes de Guerra Civil), tem essa possibilidade de levar a história além. Já em Guerra Civil, além de ser extremamente super-heroica e americana, parece ter fim nela mesma.
A Guerra Civil deixou diversas cicatrizes no Universo Marvel, se desenrolando por inúmeras revistas. Não dá pra ter noção do impacto somente com esta Graphic Novel, o que não é erro dela, mas sim do formato em que foi publicado. Estamos falando de uma HQ de 200 páginas, formato luxuoso (capa dura com reserva em verniz, papel couche, R$60…) e como extras possui apenas uma introdução, galeria de capas e bio dos autores, que é o mínimo. Cadê uma contextualização, Marvel/ Panini?
Ao terminar de ler, fica a impressão de apenas uma história de super-herói, com MUITA pancadaria. Uma boa história, diga-se de passagem. Mas feita para fãs do gênero, não indo além, não sentimos o fenômeno que a Guerra Civil foi. Principalmente por ser uma edição de luxo e cara, talvez definitiva, esperamos que de fato representasse a Guerra Civil. Poderia ter como extra, só pra citar algumas coisas, um texto falando sobre o cenário de quadrinhos e como isso mudou com as enormes vendas da série; um guia de como a Guerra se alastrou por outras revistas; qual foi o seu legado, o que deixou para o Universo Marvel; algumas notas de rodapé ou ao final não seriam má ideia, principalmente para quem não lê super-heróis, como quem é o Vigia, porque o novo uniforme do Homem-Aranha, o que foi Genosha, entre outras coisas. Aposto que isso aumentaria a imersão no encadernado, valendo cada centavo e podendo ser lido por qualquer um.
A arte de Steve McNiven é ótima, consegue criar momentos épicos e impactantes, como a chegada do Thor. É o mesmo desenhista de Guardiões da Galaxia, Nêmesis e Novos Vingadores, seu trabalho merece destaque nos detalhes, principalmente das roupas: cada rasgo, risco, sujeira ou armadura quebrada são incríveis. É como assistir a um grande filme de ação, todas as sequências são de tirar o fôlego, como a fuga do Capitão do Aeroporta Aviões da Shield, sensacional. Guerra Civil é uma boa história e que merecia um encadernado mais completo. Até o Marvel Deluxe de Dinastia M traz mais coisas. E por ser apenas a mini isolada, ela acaba perdendo o fôlego e se tornando uma rinha de heróis, sem o aprofundamento que merecia.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.