Arcos Principais: Caos (Chaos).
Publicação Original/ Brasil: Avengers #500 ao #503, Avengers Finale (Marvel, 2004)/ Vingadores: A Queda (Panini, 2008), Coleção de Graphic Novels Marvel #34 – Vingadores: A Queda (Salvat, 2013), Poderosos Vingadores #21 ao #24 (Panini, 2005).
Roteiro/ Arte: Brian Michael Bendis / David Finch.
“A Queda” foi um dos maiores eventos na história recente dos Vingadores, que mudou a equipe pra sempre. Iniciando em sua edição #500, nos mostrou como um péssimo dia pode se tornar algo muito, mas muito pior. Brian Michael Bendis, um dos responsáveis pela linha Ultimate da Marvel, teve a missão de finalizar a série “Avengers” e reformular toda a equipe, resultando neste arco em 4 partes que é tão rápido e mortal, que demora pro leitor captar tudo, ainda com a ótima arte de David Finch (Vingadores: Motim), que torna tudo muito épico. Depois de A Queda, a revista foi cancelada e surgiu no lugar os Novos Vingadores, do #0.
Não sou um profundo conhecedor dos Maiores Heróis da Terra, meu foco é o Universo X, mas consegui aproveitar a leitura e me sentir impactado por ela. Isso, por si só, já é um ponto positivo: conseguir ser acessível ao novo leitor, enquanto agrada o velho. A Queda foi, também, o evento que deu origem ao Dia M em Dinastia M. Também é o precursor da Guerra Civil. Depois de ler os três, posso dizer que curti ler mais este arco que Dinastia M (que também é ótimo). Sendo bem superior a Guerra Civil, que acho superestimada. Este especial pode conter spoilers.
A história começa com os Vingadores recebendo a visita de um Valete de Copas zumbi, já que estava morto. O Homem Formiga sai da mansão pra verificar, conversar com o antigo membro, que explode e destrói boa parte do lugar, matando o Homem Formiga. Enquanto isso, o ex-alcoólatra Tony Stark, o Homem de Ferro, está discursando nas Nações Unidas e de repente passa a ter uma atitude agressiva contra um líder da Latveria, a nação do Doutor Destino. Atitude que fez a ONU retirar a parceria com os Vingadores.
Na Mansão, enquanto os outros Vingadores (Capitão América, Vespa, Gavião Arqueiro, Coração de Leão, Mulher-Hulk, Falcão Negro e Jarvis) tentam encontrar o corpo de Scott Lang, são surpreendidos pela nave de Visão caindo em toda velocidade sobre eles. Dos destroços, Visão surge dizendo estar ali para atacar a equipe: ele se dissolve e se transforma em cinco Ultrons. É uma investida após a outra! A Mulher-Hulk, irritada, parte o Visão ao meio e começa a perder o controle, atacando todos.
Ninguém na equipe consegue detê-la, afinal ela é um Hulk também. A SHIELD é obrigada a chegar no lugar e enviar o Esquadrão Anti-Hulk, colocando-a pra dormir. Coração de Leão e Vespa são gravemente feridas pelos Ultrons, fazendo com que o Jaqueta Amarela (antigo Homem Formiga e ex-marido da Vespa) apareça na Mansão, levando-as ao hospital.
Tudo indica que este seria o pior dia na vida dos Vingadores, com a morte de dois membros de uma vez: Visão e Homem Formiga. Homem de Ferro se reúne com o Capitão, Gavião e Falcão para decidirem o que irão fazer, além de avisar sobre a ruptura com a ONU. Com exceção do Capitão, todos suspeitam que Tony tenha voltado a beber. Ele, irritado por ninguém acreditar em sua história, dá o fora.
Uma cena muito boa e comovente é quando praticamente todo herói que já fez parte dos Vingadores algum dia, aparece em frente à Mansão. Temos desde Pantera Negra ao Fera. Eles receberam o chamado de urgência, mas chegaram tarde. Mas mal dá tempo de se recuperarem dos Ultrons e da Mulher Hulk, uma nave Kree paira sobre a mansão e libera diversos soldados alienígenas para aniquilar todos os heróis.
Mais uma morte na equipe: Gavião Arqueiro é atingido e faz um movimento suicida e heroico ao mesmo tempo, se jogando contra a nave, fazendo-a explodir. Outro ótimo momento, que ocorre com maestria. Esse é um ponto que me cativou no arco, Bendis consegue fisgar o leitor que não é tão conhecedor da equipe. Claro que conheço os personagens e suas ligações e/ ou traumas (como o alcoolismo do Homem de Ferro e do Jaqueta Amarela ter sido um marido violento), que ajuda. Mas acredito que o leitor comum também vá perceber a grandiosidade que Bendis tenta montar.
Após os Krees, Doutor Estranho pousa sobre todos os Vingadores, atuais e antigos, pra esclarecer esse dia sombrio. Tudo que aconteceu é fruto de magia do caos, que só seria possível com alguém que possui grande poder, mas também desequilibrada. Chegam na Feiticeira Escarlate, a única vingadora não presente no lugar. Boa parte custa a acreditar que ela tenha matado o próprio marido, o Visão, além dos amigos de equipe, Gavião Arqueiro e Homem Formiga. Mas acabam aceitando, já que Wanda passou pelo trauma recente de descobrir que seus dois filhos não eram reais.
Essa parte do Doutor Estranho foi didática demais e deu uma freada no ritmo frenético da história. Poderia ter sido mais enxuta e ele ter chegado já com tudo. É aqui o primeiro grande surto da Feiticeira Escarlate que, traumatizada e ressentida, se conecta à sua antiga mestra, Agatha Harkness, para conseguir um ombro amigo. Wanda é uma das mutantes mais poderosas do mundo, capaz de manipular a realidade, e assim ela recria seus dois filhos e uma pequena ilusão de paz, fazendo com que a realidade (seus amigos, seu marido), fossem destruídos.
Ela é descoberta por todos e inicia um ataque, sendo combatida pelo Doutor Estranho e seu Olho de Agamotto. Ela cai nos braços de amigos, totalmente confusa e fora de si. Eis que surge o Magneto, numa entrada triunfal! Ele pega a filha e se despede dos Vingadores, dizendo que irá levá-la ao único que pode curá-la: o Professor Xavier. O desenrolar desse caso se dá na série Excalibur, quando Magneto chega em Genosha com a Wanda.
Tudo parece ter sido resolvido com a saída da Feiticeira Escarlate, e agora os Vingadores precisam lidar com todas as perdas que sofreram. Interessante que a Marvel colocou, ao final desse último capitulo, a história original de quando a Wanda e seu irmão, Mercúrio, entraram para os Vingadores em 1963, escrita pelo Stan Lee e ilustrada por Jack Kirby, os dinossauros que praticamente criaram os heróis da editora. Percebemos como a linguagem dos quadrinhos, apesar de manter a mesma base, evoluiu bastante.
Fecha este arco, uma edição especial bastante interessante que ocorre meses depois do ataque. Tony Stark reúne os Vingadores remanescentes para informar que não mais financiará o grupo, já que perderam dinheiro com a ruptura da ONU, além da mansão estar destruída. A maioria até gosta da ideia e também parte, como a Mulher Hulk, traumatizada por ter matado Visão, mesmo ela estando provavelmente sobre o poder da Wanda. Os que ficam, acabam sentando à mesa e relembrando os melhores momentos que a equipe já teve. Além do fim de A Queda, também estamos lendo o fim da revista, então nada melhor que um final desses de série de TV, onde o elenco relembra os melhores episódios.
É muito interessante rever os grandes momentos, brigas, arcos e sagas dos Vingadores em páginas duplas, cada uma desenhada por um artista diferente. Não o bastante, o final é bem emocionante: quando todos vão apagar as luzes e fechar a porta, veem do lado de fora uma legião de cidadãos fãs da equipe, com vela e cartazes nas mãos, em homenagem aos que morreram. Muito bom mesmo, algo que os X-Men nunca vão ter (a homenagem). Pelo contrário, os mutantes são sempre recebidos com hostilidade pela população.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.