Arcos Principais: Terra Afogada (Drowned World).
Publicação Original: Justice League/Aquaman: Drowned Earth #1, Justice League #10-12, Aquaman #40-41, Titans #28 e Aquaman/Justice League: Drowned Earth #1. (DC, 2018)
Roteiro/ Arte: Scott Snyder, Dan Abnett, James Tynion IV/ Francis Manapul, Lan Medina, Clayton Henri, Howard Porter, Frazer Irving, Bruno Redondo.
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Após um crossover mediano com o Esquadrão Suicida em Afundem Atlântida, em que a equipe da Amanda Waller invadiu a cidade para destruí-la, temos agora mais um crossover! Apesar de conseguirem aproximar os heróis e vilões de um mesmo universo, apresentando personagens de um grupo de leitores ao outro ou como manobra comercial, pra venderem mais revistas, quase sempre os crossovers ou mega-sagas são ruins. Seja pela discrepância de roteiro ou de arte, até a encheção de linguiça. Em Terra Afogada, unindo as séries do Aquaman e da Liga da Justiça e especiais (num tota de 8 edições), temos a fórmula básica de sagas do tipo: invasão alienígena, mundo ameaçado, raça humana em extinção e os heróis sucubindo; mas ainda consegue divertir. Review especial com poucos spoilers!
TERRA AFOGADA
Aquaman, Nuclear e Mulher-Maravilha investigam um navio fantasma e um cemitério de deuses para chegarem até Poseidon e desvendarem certos mitos de Atlântida. No processo, um Kraken cósmico surge e transporta Arthur para um Recife de Sangue, onde é confrontado por 3 deuses antigos de outro universo: Capitão Gall, Comandante Drogue e Almirante Tyyde. Um dos pontos positivos nos últimos anos da revista do Aquaman está em ampliar sua mitologia, e nessa primeira parte da saga conhecemos mais a fundo a lenda de Arion: um líder na era de ouro de Atlântida, que queria explorar os oceanos de outros planetas e universos, disparando um sinal para entrar em contato com outras raças. Esse sinal trouxe, justamente, esses três deuses tiranos lá no passado. Arion e Poseidon se uniram e venceram a trindade, trancafiando-os no submundo dos mares. Agora que eles conseguiram escapar, os três querem vingança. Querem afogar toda a Terra! Dan Abnett (Contrato de Lázaro) e Scott Snyder (Wytches) são os escritores à frente do cross, com desenhos do sempre ótimo Francis Manapul (Trindade: Espaço Morto) ao lado de artistas como Lan Medina (Fábulas: Terras Natais) e Frazer Irving (Fabulosos X-Men: No Inferno com Illyana).
O Kraken cósmico se instala num ponto do oceano e começa a emanar uma água venenosa, aumentando o nível dos mares e transformando todos que toca numa espécie de zumbi-peixe. A situação é extremamente megalomaníaca e, particularmente, não me convenceu muito. Afinal de contas, em poucos minutos o nível da água sobe tanto que chega a mergulhar cidades inteiras! A própria Atlântida, que já tem uma base submersa, tem seus habitantes transformados. Sei que estamos falando de uma história em quadrinhos, mas ver as cidades submersas e os carros boiando, lembram aquelas lutas estilo Ultraman e monstros gigantes que destroem toda a cidade e no dia seguinte parece que nada aconteceu. Vai sobrar o quê quando a água abaixar?
Uma cena interessante é a da Mera usando suas habilidades a fim de criar um escudo ao redor do palácio, tentando impedir que a água venenosa contamine todo o lugar. Uma frase se destaca, quando dizem que a cidade não foi feita para se defender de água, pelo contrário! O Batman, que está todo arrebentado e engessado, fica no QG da Liga para supervisionar as missões. Geralmente em crossovers longos tem algumas histórias paralelas que mostram o impacto da situação principal sobre outros heróis. Nesse caso, a revista dos Titãs retrata a equipe, liderada pelo Tempest (que tem origem atlanteana), tentando invadir a frota de navios aéreos dos deuses. É uma edição boa, com um roteiro interessante e saudosista escrito pelo Abnett, com Donna Troy relembrando várias situações do passado e como a equipe se transformou no decorrer dos anos.
A inundação na Terra continua e vemos como algumas cidades estão lidando com a situação. Gotham, por exemplo, é completamente mergulhada nas águas venenosas. Metrópolis ergue uma muralha em volta da cidade, mas ela acaba rompendo e também sucubindo. O Kraken cósmico é a própria Inundação. Superman e o Flash se unem para tentarem derrotá-la, mas são atingidos e ficam com danos colaterais. Vendo que Atlântida não tem mais jeito, Mera também se reúne aos heróis para pensarem numa solução.
Como o Aquaman é um dos protagonistas da história, ele tem bastante relevância no desenvolvimento da trama. Junto da Mulher-Maravilha, eles chegam a encontrar o antigo deus Poseidon. E é interessante como a Diana comenta sobre a fama dos deuses, que nunca é boa. Uma cena interessante é quando, após um embate com o próprio Poseidon, Aquaman começa a delirar, revivendo lembranças e lidando com o fantasma do seu pai num mar vermelho. Outros pontos da mitologia de Atlântida também vêm à tona, como a Lágrima da Extinção para ser utilizada contra os três deuses vilões. E os desenhos do Manapul deixam tudo muito mais bonito.
Tudo ocorre bastante rápido, no intervalo de um dia. Os três deuses antigos não chegam a ser tão carismáticos, mas exercem seu papel. Alguns vilões como Lex Luthor, Coringa e a Mulher Leopardo aparecem só pra fazer um volume. O Arraia Negra também surge, mas com um papel mais importante, apesar de ainda meio batido. Quem acompanha as histórias do Aquaman já conhece a richa clássica entre os dois, sempre presente. Um ponto que não curti tanto foi a mudança de foco nas duas últimas edições do crossover, quando uma nova criatura se torna a principal ameaça ao mundo. A criatura por si só é muito interessante e rende ótimos momentos, porém sai totalmente do foco principal que estava na vingança dos deuses antigos, até mesmo mudando a perspectiva de suas ações. Mesmo assim, o final é divertido e rende boas situações, como o Arraia fazendo piada com o poder de falar com peixes do Aquaman e sendo enganado por isso. Algumas frases, como enxergar as coisas (e o mundo) como ele poderia ser e não como é, são bem inspiradoras. E a terra inundada? Como comentei no início, colocar as cidades embaixo d’água é bem mais complexo de se resolver e fica meio exagerado, mas é solucionado da noite pro dia no final.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.