Arcos Principais: O Contrato de Lázaro (The Lazarus Contract).
Publicação Original/ Brasil: Titans #11, Teen Titans #8, Deathstroke #19 e Teen Titans: The Lazarus Contract Special #1 (Marvel, 2017)/ Titãs: O Contrato de Lázaro (Panini, 2018).
Roteiro/ Arte: Dan Abnett, Benjamin Percy e Christopher Priest/ Brett Booth, Koi Pham, Carlo Pagulayan e Paul Pelletier.
O Contrato de Judas (1984) é um dos maiores clássicos da DC, foi uma saga dos Titãs responsável por lançar o Asa Noturna e colocar o Exterminador como um vilão de primeira linha, consolidando-o como o eterno rival da equipe. Em 2017 a DC resolveu lançar o crossover Contrato de Lázaro, trazendo novamente o Exterminador contra os Titãs e os Jovens Titãs, numa trama envolvendo viagem no tempo e velocistas, na tentativa de emular o que o Contrato de Judas fez em sua época. Bom, a tentativa passa longe de acertar isso, mas rende bons momentos e cria um atrito interessante entre as equipes. Review especial com spoilers.
O CONTRATO DE LÁZARO
Em histórias de super-heróis há um tipo de trama bastante comum que é a de viagem no tempo/ realidade alternativa, utilizada à exaustão pelos escritores. Seja pra mostrar algum “o que aconteceria se…“, ou reviver personagens, consertar furos de roteiro, alinhar séries ou simplesmente pra apagar alguma cagada e fingir que nada do que ocorreu foi verdade. Está entre as coisas que mais detesto nas HQs. E em Contrato de Lázaro temos este tipo de trama, dessa vez envolvendo os velocistas Flash e Kid Flash (ambos Wally West), já que seus poderes conseguem distorcer o tempo. O crossover começa com um flashback onde os Titãs (do passado) lutam contra o Grant Wilson, o Devastador, até que os venenos da COLMEIA, presentes no corpo de Grant, começam a dar ruim e ele morre nas mãos do Exterminador, o seu pai. É uma cena tocante e que evidencia o heroísmo das personagens, mas de uma maneira caricata, como o Grant querendo matar os Titãs (o Exterminador também), mas quando ele começa a morrer, os Titãs são os primeiros a tentar reanimá-lo, já que mesmo um vilão não merece a morte. Só que o Exterminado, furioso, ameaça matar os Titãs por ter matado o filho dele, que queria matar os Titãs. Quer dizer…
Esse é o gatilho para o desenrolar da trama. O Exterminador fica rancoroso e amargurado, pensando ter errado como pai (já que seus filhos ficaram insanos e/ou vilões) e pensa em como poderia consertar isso. E como comentei no início, sua ideia é a de utilizar os poderes do Flash para voltar ao passado e salvar o filho. Ele chega a sequestrar o Kid Flash e o Flash, ambos Wally West (que ficam cara a cara e se questionam o porque deles serem o mesmo Flash). Os Jovens Titãs se encontram com os Titãs para bolarem um plano de resgate, mas claro que com uma pequena intriga e bate boca antes. O Robin do Damian Wayne continua insuportável e prepotente como sempre, então é super engraçado quando a Donna Troy o puxa pela capa e nos lembramos que ele é apenas uma criança. O título se deve a um acordo que o Slade fez com o Asa Noturna, no passado, envolvendo ele parar de ser um vilão.
Entre os pontos interessantes de se comentar é o fato do Slade conseguir mimetizar os poderes do Flash e começar a percorrer o espaço-tempo, indo ao seu falecido filho Grant, uma tentativa atrás da outra, a fim de fazê-lo mudar de ideia e salvá-lo. O Kid Flash também é super escorraçado pelo Robin, por ter caído na lábia do Exterminado e se deixado levar. Interessante porque o Kid Flash, cujo pai era o Flash Reverso, vê a figura paterna que nunca teve no Exterminador. O Flash chega a correr lado a lado com o Slade, mas acaba desistindo de confrontá-lo frente a frente, com medo de perder e do que poderia acontecer. Um ponto curioso é quando o Robin reúne os Jovens Titãs e parte, junto dos Titãs, para onde o Flash (e o Exterminador) estaria. Ele deixa o Kid Flash para trás, pelo ocorrido, mas também esquece o Aqualad, que acabou de entrar na equipe. Coincidentemente, são os dois membros negros do time, deixados pra trás. Não há algum diálogo específico sobre isso, mas foi impossível não perceber.
Uma das melhores cenas é quando o Robin, quando o fluxo do tempo começa a ficar bagunçado, vê a equipe dos Titãs do passado e, sem avisar ninguém, dá um golpe no peito do Flash do passado, fazendo seu coração parar por alguns segundos. Isso afeta diretamente os poderes do Exterminador, que provinha do Flash, numa espécie de efeito dominó. Depois o Flash é reanimado, mas o estrago já havia sido feito e o Damian passa a ser visto, mais uma vez, como o garoto problemático (porém prático) que é. Perto do final do crossover as coisas vão se alinhando mais e deixando de ser tão confusas, até mesmo o Contrato de Lázaro que comentam fica meio de coadjuvante. Uma sensação que tenho, quando há esse tipo de trama, é que vale tudo. O começo é meio confuso, muitas brechas no fluxo do tempo, como se a história não saísse do lugar. E é uma sensação que costumo ter com essas histórias envolvendo tempo, a de que não sei se estou compreendendo tudo que tá ali ou se realmente é confusa.
Pra finalizar, o Exterminador acaba preso no fluxo do tempo. O Kid Flash traz aquele discurso inflamado sobre heroísmo e os times acabam tentando puxá-lo de lá, utilizando a Ravena como elo. E o Damian, pra mostrar que não é esse monstro todo também, chega a ter um momento mais amigável nessa cena, ajudando a Ravena a não colapsar. O mais interessante de Contrato de Lázaro, e não sei se isso é um ponto positivo ou não, é quando a trama principal termina e vemos o que pode acontecer aos Titãs, como consequência. O Exterminador, num momento de clareza, desiste de ser o vilão que é. O Flash percebe que possui um marca-passo no peito e é desencorajado de utilizar seus poderes (já que o Robin mexeu no tempo). E o próprio Kid Flash é expulso dos Jovens Titãs pelo Damian. O Contrato de Lázaro pode funcionar como uma homenagem ao clássico Contrato de Judas, mas mesmo com grandes consequências (como a saída do Slade e o novo problema do Flash), não possui o mesmo impacto e apresenta uma trama cheia de clichês que estamos cansados de ver nas histórias do tipo, de quererem voltar ao passado pra evitarem a morte de alguém, algo que está encrustado na mitologia do Flash. Mas ainda possui boas cenas e entretém.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.