Publicação Original/ Brasil: Wytches #1-6 (Image, 2014)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Scott Snyder/ Jock.
“Wytches” é uma série escrita pelo Scott Snyder (Vampiro Americano) e publicada pela Image Comics em 2014, possuindo apenas 6 edições até o momento, compiladas num único volume em 2015 (Wytches Vol. 1). A edição #7 ainda não foi publicada e não há previsão de quando será, mas o autor já garantiu que irá continuar, que a série encontra-se em hiato. Apesar de ainda inédita no Brasil, ela foi bastante elogiada pela crítica especializada e, inclusive, teve os direitos de adaptação para o cinema comprados antes mesmo de ser finalizada. Este review comenta o Vol. 1 de Wytches (#1-6), sem spoilers.
Snyder reformula a ideia de “bruxa” e nos apresenta uma história sombria e pesada, abusando do horror e sangue, mas sem fugir muito dos clichês do gênero. A família Rook se muda para uma cidadezinha no interior dos EUA, após a filha do casal, Sail, ter visto uma valentona da escola ser sugada violentamente por uma árvore, ficando traumatizada e acusada de tê-la matado. As bruxas são criaturas que vivem dentro de árvores, com o rosto deformado e dedos compridos, que devoram pessoas que foram “prometidas”: oferecidas por alguém, em troca de favores como juventude eterna.
O pai é um desenhista e escritor alcoólatra, que tenta ajudar a filha a superar o trauma de maneira mais lúdica e, não raramente, mais agressiva também. A mãe é uma médica que, após um estranho acidente na estrada, perdeu o movimento das pernas. Já a filha, uma adolescente reservada, tenta lidar com a situação e se adaptar à nova cidade, à escola e a suspeitas dos alunos em torno dela. A situação começa a complicar quando um caroço surge no pescoço de Sail e as bruxas voltam para atormentá-la.
Scott Snyder intercala a narrativa do presente com flashbacks da relação de Sail e seu pai, geralmente conflituosa. A história tem ótimos momentos, principalmente nos que ajudam a criar a “mitologia” dessas bruxas, para que o leitor possa entrar na atmosfera sombria. Há algumas cenas aterrorizantes, como quando uma agulha é enfiada no umbigo de uma personagem. As próprias criaturas chamadas de “bruxas” são bem feias, também.
Claro que também há alguns clichês, que estamos cansados de ver em filmes do gênero: a cidade pacata e aparentemente inofensível, a casa escondida e longe de tudo, a vizinhança estranha, aquela sensação de que toda a população esconde algo. Mas os pontos positivos se sobressaem, com um final interessante e pouco previsível, reforçando a ideia de pessoas “prometidas” às bruxas, fechando o arco mas dando espaço para mais histórias.
Os desenhos são do Jock com cores de Matt Hollingsworth, parceria impossível de dar errado: Jock é conhecido pelas capas da série Escalpo, por um estilo mais alternativo e solto; enquanto Hollingsworth é um colorista bastante versátil, que vai de algo mais tradicional e com ótimos sombreamentos em Hell Eternal, até às propostas diferentes em Wytches. Algumas edições mostram o processo de desenho e coloração da série, focando principalmente nas cores: Hollingsworth, além de pintar as regiões dos desenhos de Jock, aplica uma textura quadricular sobre toda a página e uma transparência de “splashes” aquarelados. O efeito é visualmente muito bonito e distinto, sem contar nas capas mais conceituais e minimalistas.
Talvez Wytches acabe se sobressaindo mais pela sua arte que pelo roteiro, que possui alguns momentos bastante didáticos e forçados (como uma personagem que surge como Deus Ex Machina com um monte de armas contra as bruxas), mas é uma série com um ótimo começo e que promete para as próxima edições. Infelizmente não é tão aterrorizante quanto foi vendida, então o melhor é não criar expectativa. Apesar da arte me agradar muito, há quem não goste do estilo do Jock ou se sinta enjoado com a coloração de Hollingsworth, que as vezes não faz sentido (como os “splashes” em regiões aleatórias). Mas aos que gostam de algo mais alternativo, a arte é sensacional! Já que Scott Snyder ainda não confirmou quando sairá a edição #7, Wytches também pode ser lida como uma boa minissérie. Atualmente ele escreve a All-Star Batman para a DC, então fiquemos na expectativa de uma continuação. Não há previsão de lançamento no Brasil, mas pode ser encontrada traduzida por fãs na internet.
Wytches me lembrou de um episódio de Arquivo X (S08E11), onde um “monstro” cura pessoas ao comê-las e depois regurgitá-las, mas contraindo suas doenças.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.