Desde o início esse mix já podia ser tratado como compra certa pela maioria dos leitores da DC, afinal de contas, ele reuni algumas das séries mais cult da editora e que todo fan quer suas respectivas fases clássicas lançadas por aqui: Monstro do Pântano e Homem-Animal. As críticas positivas que tais séries receberam lá fora também ajudam. Com a Liga da Justiça Dark não é diferente, entre seus membros estão John Constantine, Zatanna, Madame Xanadu, Desafiador, Shade, o Homem Mutável entre outros. E, no geral, ela não decepciona.
Liga da Justiça Dark: Madame Xanadu prevê que algo de ruim está prestes a acontecer e decide tentar reunir outros “heróis” místicos para combater a ameaça. Uma misteriosa bruxa, conhecida simplesmente por Feiticeira, está alterando a realidade mesmo estando aprisionada numa casa. Superman, Cyborg e Mulher-Maravilha vão até a fonte do poder tentar impedi-la, mas sem sucesso. Zatanna, heroína conhecida pelos seus poderes mágicos, é enviada logo em seguida.
O roteiro é de Peter Milligan, conhecido por diversos trabalhos com o selo Vertigo na década de 1990, entre eles os já citados Homem-Animal, Shade e trabalhos mais autorais, como Enigma e O Extremista; na Marvel, também criou os X-Statix. Seu surrealismo é bastante típico e um dos roteiristas que mais gosto ^^. Esse primeiro momento de LJD segue os padrões de séries com equipes cheia de membros, apresentando um a um em situações distintas, em paralelo com o “mal-comum” e o líder os reunindo. Felizmente, ficou uma narrativa legal, a inclusão do pessoal da Liga da Justiça deixa bem claro que agora esses personagens “sobrenaturais” pertencem ao Universo DC tradicional, a sequencia da chuva de dentes ficou boa, também. Mas, particularmente, esperava algo mais inusitado da parte do Milligan. O ilustrador Mikel Janin assina os desenhos, com uma arte bastante “digital” em alguns momentos e acompanha bem o roteiro, com destaque para a última cena, quando Xanadu literalmente “vê” o futuro. Com tantos personagens interessantes reunidos, fica a expectativa do que irá ocorrer na próxima edição.
Homem-Animal: o melhor momento do mix. A série do Homem-Animal ficou conhecida por sua fase criada pelo Grant Morrison (Os Invisíveis) no final dos anos 1980 e começo dos 1990. Buddy Baker possui o poder de “acessar” algumas habilidades animais através da teia da vida, como a força de um elefante, velocidade de um leopardo, resistência de um rinoceronte ou, até mesmo, a facilidade de cair no sono de um gato. A história começa com uma entrevista entre Baker e um repórter que o encontra por acaso, perguntando sobre o porque dele ter abandonado o manto do Homem-Animal e de sua atual carreira como ator. Foi uma boa sacada do roteirista Jeff Lemire (Sweet Tooth) que, numa só página, consegue resumir bastante a vida do personagem.
O Homem-Animal é um herói fora do comum: sua identidade não é secreta, é ator, ativista e pai de família. Seu núcleo familiar será bastante explorado, o que fica bem claro nas últimas cenas, assim como a temática social pela qual a série ficou conhecida, como os direitos dos animais. Os desenhos são de Travel Foreman (O Imortal Punho de Ferro) e cores de Lovern Kindzierski (Sandman: Os Caçadores de Sonhos) e estão ótimos. Num primeiro momento a arte é bastante “Vertigo 90’s”, com várias cenas de destaque como quando Baker acessa a teia da vida e a sequencia do sonho. Um ótimo começo para a série.
Ressurreição: o ponto fraco do mix. Mitch Shelley possui o estranho poder de, toda vez que morrer, voltar a vida com um poder e objetivo diferentes, o que pode render momentos interessantes. Logo no início, Shelley acorda numa mesa de autopsia e percebe possuir poder sobre os metais (estilo Magneto). Algo lhe diz que precisa pegar um voo para Portland e é isso que ele acaba fazendo. No entanto, dentro do avião, recebe uma estranha visita.
O roteiro é da dupla Dan Abnett e Andy Lanning (Nova), não apresenta nada de interessante ou inovador e aposta num certo carisma que o protagonista possa ter. A narrativa é um pouco confusa e apresenta vários clichês do gênero, como um anjo/ demônio caçador de recompensas. Os desenhos são de Fernando Dagnino Guerra (Liga da Justiça: Geração Perdida) e salvam a história, com diagramação bem fluída (como a sequencia do avião). A série original do Ressurreição (1997-1999) foi criada pela mesma dupla e o final faz um possível gancho com a Liga da Justiça Dark.
Eu, o Vampiro: Andrew e Mary são dois vampiros que possuem visões diferentes para própria espécie. A narrativa mostra o casal em várias épocas diferentes e de como encaram o fato de serem vampiros e dependerem de sangue. Mary é a favor da caçada e da soberania sobre os humanos, enquanto Andrew defende a convivência e meios alternativos para saciar a sede. Série bastante elogiada nos EUA e mescla um pouco de Blade – Caçador de Vampiros com séries e filmes do gênero mais recentes.
O roteiro é de Joshua Hale Fialkov (Echoes) e, numa primeira leitura, é um tanto confuso. Não sou muito fan de vampiros, mas a narrativa é interessante, principalmente os conflitos entre os protagonistas. A arte é muito bonita, um dos destaques da edição, com os desenhos de Andrea Sorrentino (God of War) e cores de Marcelo Maiolo (Savage Tales), com páginas inteiras no mesmo tom. Possui bastante potencial e pega o embalo do sucesso que vampiros e zumbis estão fazendo no momento.
Monstro do Pântano: o melhor momento do mix². A série do Monstro do Pântano fez enorme sucesso nas décadas de 1970 e 1980 e se tornou uma das mais aclamadas entre os fans. A famosa fase escrita pelo Alan Moore (V de Vingança) é um dos títulos que os fans brasileiros mais pedem à Panini para republicar. Com o passar do tempo a série foi ganhando novas roupagens, porém sem o sucesso e qualidade de antes. Esse novo recomeço marca a entrada do Monstro para o Universo DC tradicional e não desaponta. Dr. Holland é um botânico que possui memórias de uma vida que nunca viveu, numa realidade onde sofreu um acidente em seu laboratório e se transformou numa criatura do Pântano cujos dons estão o poder total sobre as plantas. Em Metrópolis, Gotham e na morada de Aquaman algo está matando os animais e intrigando a mídia, fazendo com que o Superman visite Holland para pedir ajuda (mesmo ele sendo um botânico e não zoólogo).
A narração cita alguns acontecimentos passados e pode parecer confuso para o novo leitor, mas não deixa de ser interessante, deixando no ar se o que houve à Holland é mesmo real ou não. O roteiro é de Scott Snyder (Vampiro Americano) e desenhos de Yanick Paquette (Corporação Batman), bastante detalhados e com ótima caracterização dos personagens, principalmente o visual clássico de Clark Kent e Louis Lane.
No geral, uma das melhores revistas dessa leva “Novos 52”, com séries acima da média. Homem-Animal e Monstro do Pântano valem a edição, enquanto Liga da Justiça e Eu, O Vampiro mantêm a qualidade. Ressurreição é o ponto fraco, mas fica a expectativa para a próxima edição. O acabamento segue o modelo da revista Vertigo: capa couché, miolo pisa brite e lombada redonda. Infelizmente, a Panini não incluiu as capas originais em página inteira (como nos outros títulos já avaliados aqui), preferindo publica-los de maneira reduzida ao final (dois por página).
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.