Arcos Principais: A Loucura Corre na Família (Crazy Runs in the Family).
Publicação Original: Moon Knight #188-193 (Marvel, 2018).
Roteiro/ Arte: Max Bemis/ Jacen Burrows.
A Loucura Corre na Família é o primeiro arco do Cavaleiro da Lua no período Legacy da Marvel, quando a editora renumerou boa parte de suas revistas a partir do total de edições de determinado título. Sendo assim, esse arco compila as edições #188-193! O roteirista do arco é o Max Bemis (vocalista da banda Say Anything e autor de séries como Evil Empire), que ficou com a difícil tarefa de substituir o Jeff Lemire (Sweet Tooth, Inumanos vs. X-Men) e sua elogiada fase com o Cavaleiro da Lua, onde entramos numa viagem pela mente do Marc Spector. Confira o review especial, sem muitos spoilers!
A LOUCURA CORRE NA FAMÍLIA
O arco começa com a Doutora Emmet cuidando de um novo paciente em sua clínica, o misterioso Paciente 86, um homem louco que queimou pessoas e diz ter visto Deus. Ela acredita que o caso é semelhante ao caso do Spector, na questão da insanidade, então decide incluir a mitologia egípcia no tratamento, apresentando a história dos deuses Amon Ra (o deus sol) e do seu filho Khonshu (o deus da lua). Apesar das boas intenções, o Paciente 86 começa a ficar fissurado na figura do Ra e passa a enxergar o Cavaleiro da Lua, que carrega o manto de Khonshu, como o seu inimigo.
O início é interessante em alguns aspectos, primeiro por não trazer o próprio Cavaleiro da Lua como protagonista e segundo pela história ter os pés mais no chão, já que a fase do Lemire foi bastante psicodélica. E são pontos que tem seus prós e contras (que vou comentar mais pra frente). Já a segunda edição consegue contextualizar melhor o leitor, mostrando o tal do paciente misterioso (que é até apelidado do Jesus, pela aparência) encarnando o deus Rá e ganhando poderes de fogo, procurando pela cidade o Cavaleiro da Lua. E em paralelo, vemos um pouco da rotina do próprio Spector combatendo o crime como Cavaleiro da Lua, adotando meios pouco ortodoxos par outros heróis.
Pra quem não conhece, Marc Spector utiliza o manto do Cavaleiro da Lua, porém sofre de múltiplas personalidades e instabilidade mental, ora sendo Marc Spector (digamos, o principal), ora sendo o taxista barra pesada Jake Lockley ou o milionário Steven Grant. Nesse início do arco, por exemplo, a personalidade Jake toma conta do manto e passa a agir extremamente violento contra criminosos. O desenrolar do arco aborda justamente essa diferença entre Jake e Spector, inclusive trazendo Marlene Alraune, sua ex-namorada, na história de uma maneira bem interessante: sem Spector saber, Jake manteve contato com ela durante todo esse tempo.
As coisas começam a esquentar quando o Paciente 86, agora Rei Sol, se une ao Bushman e sequestra Marlene, obrigando o Cavaleiro da Lua a entrar numa corrida envolvendo vários criminosos sedentos por vingança, quase todos que tiveram algum membro decepado pelo próprio herói. Uma sequência interessante é quando vemos que o conflito entre Khonshu e Rá vem de centenas de anos, com seus pupilos sempre travando brigas sangrentas. E como comentei, esse modo do Bemis desenvolver o personagem tem seus prós e contras. Os prós são de aproximar mais à trama tradicional de heróis e vilões, mais fácil de se entender, mesmo quando utiliza suas múltiplas personalidades ou mexe com a mitologia egípcia. O lado negativo é perder justante a insanidade que o Lemire apresentou nos arcos anteriores, trazendo uma loucura e psicodelia que particularmente amei. Os desenhos do Jacen Burrows também acompanham esse raciocínio, mesmo com quadros mais soltos, ainda se mantém bastante fiel ao estilo herói tradicional, uma arte mais limpa e clean, que não deixa de ser boa e lembra aquelas séries mais violentas de editoras menores.
Como gostei muito da fase anterior, sinto que faltou aquele quê mais experimental, existencialista e nonsense que o Lemire apresentou (e que foi por onde conheci o herói e amei). O que é engraçado, já que o Max Bemis trabalhou numa mini série chamada Polarity em que abordava questões pessoais como bipolaridade e paranoia. Um arco que provavelmente agradará mais aos leitores que sentiam falta de uma boa porradaria entre herói e vilão, uma história mais centrada e sem grandes reviravoltas.
Confira outros reviews de Cavaleiro da Lua que fiz aqui no site:
– Vol. 8 (2016 – 2017): Fase Jeff Lemire (#01-14)
Cavaleiro da Lua: Bem-Vindo ao Novo Egito (#1-5)
Cavaleiro da Lua: Encarnações (#6-9)
Cavaleiro da Lua: Morte e Nascimento (#10-14)
– Vol. 8 (2016 – 2017): Fase Max Bemis (#188-200, numeração Legacy do Vol. 1)
Cavaleiro da Lua: a Loucura Corre na Família (#189-193)
Cavaleiro da Lua: Phases (#194-200, em breve)
Ou acesse o Índice de Reviews para conferir outros títulos!
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.
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