Nome Original: Sweet Tooth #1 ao #5
Editora/Ano: Panini, 2012 (Vertigo, 2009)
Preço/ Páginas: R$15,90/ 132 páginas
Gênero: Alternativo
Roteiro/ Arte: Jeff Lemire
Sinopse: Há uma década, o Flagelo assolou a humanidade como um incêndio descontrolado em uma floresta seca e matou bilhões. As únicas crianças nascidas após o evento são híbridas, uma nova espécie que mescla características humanas e animais, e é perseguida. Gus é uma dessas crianças ameaçadas, um menino com uma alma dócil, uma queda por doces e traços de cervo. Mas garotos como ele têm a cabeça a prêmio. Quando seu lar é atacado por caçadores inescrupulosos, um homem misterioso e violento aparece para lhe salvar. O nome dele é Jepperd e ele promete levar o jovem até a mítica Reserva, um paraíso para crianças híbridas.
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Conheci Sweet Tooth no ano passado, quando ainda lia o mix da Vertigo e a edição #35 trouxe um preview da série. Na época, as séries Ex Machina e Y – O Último Homem estavam chegando ao fim e a Panini precisava trazer outras duas séries novas para substituí-las: Sweet Tooth e O Inescrito, ambas saíram como preview na Vertigo. De início, me pareceram muito boas.
Mas só agora vou começar a acompanhar Sweet Tooth – Depois do Apocalipse, que chegou ao fim nos EUA em 2013, com 40 edições. Aqui no Brasil, todas elas foram compiladas em 6 encadernados. A Panini optou por não traduzir o título, que é o apelido do protagonista (Bico Doce), o que foi uma boa. Vale comentar que a série não tem um primeiro volume impactante, além da temática batida e dos desenhos do Lemire (que uns amam e outros odeiam), mas mesmo assim vale a pena ler, pois possui bastante potencial.
Sweet Tooth se passa num futuro não muito distante, onde uma epidemia chamada Flagelo assolou a população, matando bilhões de pessoas e que ainda ronda por aí. As crianças nascidas após o incidente são híbridas (metade humanas, metade animais) e uma peça rara nesse mundo pós-apocalíptico, alvo de caçadores de recompensas. Poucas sobrevivem ou chegam a maioridade. Esses híbridos também podem ser a chave para a cura do Flagelo.
Gus é uma dessas crianças, nascida e criada em meio a floresta, isolado de todo o mundo. Sua mãe faleceu, vítima da doença, quando ainda era bem pequeno, seu pai foi o responsável por ensiná-lo a falar e escrever, a cozinhar, plantar e ter uma educação, alertando dos perigos fora da floresta. O início da HQ foca nesse convívio entre pai e filho, porém o velho logo vem a falecer, deixando Gus sozinho em sua cabana.
A primeira história do encadernado é, talvez, a mais interessante. Ela é forte, carregada de emoção. A sequência em que o pai morre coincide com a chegada da primavera e desgelo, muito bonita. Gus também é uma personagem cativante, pois é extremamente inocente: sua criação foi religiosa, ele não conheceu ninguém além do pai, nunca viu o “mundo lá fora”, se não pelas histórias que ouvia.
“Saindo da Mata” começa a desenrolar com a chegada de dois caçadores, procurando pelo menino, que foge desesperado. Quando tudo parece perdido, surge Jepperd, um homem com seus 40 anos, do tipo brutal e calado (quase que um Wolverine/ Cable), que salva Gus e o convida para a “Reserva“, uma espécie de santuário para crianças como ele, não muito longe dali. O menino-cervo esquiva, lembra dos conselhos do pai de nunca deixar a floresta, mas a curiosidade fala mais alto e resolve seguir o homem.
Na sequência conhecemos a situação das cidades, com pilhas de cadáveres e pessoas se matando e a lei do mais forte. Esse conceito de pós-apocalipse já é bem batido, só faltou os zumbis. Mas o que destaca é a relação que vai criando entre os dois protagonistas, o contraste entre a inocência de Gus e a vida calejada de Jepperd. Porém, os demais acontecimentos são um pouco genéricos, alguns mais e outros com menos emoção. O estilo narrativo lembra um pouco Mad Max.
O final traz um “plot twist” em relação aos dois, à Reserva e aos híbridos que, apesar de inesperado, também não foge muito do usual. De início, o mais interessante em Sweet Tooth está em Gus, que me cativou bastante, na realidade dos híbridos em ser a “cura” e por Gus ter nascido antes mesmo do Flagelo (que foi há mais ou menos 7 anos – ele tem 9 anos), o que me leva a suspeitar que talvez ele tenha alguma coisa a ver com a doença.
Jeff Lemire (Cavaleiro da Lua) é um roteirista conceituado do underground, ganhador do Eisner e autor da renomada graphic novel Essex County Trilogy, ainda inédita por aqui, e da recente reformulação do Homem Animal (excelente, por sinal, e que cheguei a comentar no mix Dark). Ele também assina a arte, caricata e experimental, típica das HQs alternativas. Muitos não gostam desse estilo, mas acho que funciona com Sweet Tooth. As cores são do José Villarrubia, que gosto muito (adoro seu trabalho na mini do Câmara, que saiu em X-Men Extra), vibrantes e contrastantes, apesar de aqui ele não utilizar tanto os preenchimentos psicodélicos. Aliás, Sweet Tooth lembra um pouco os X-Men, em relação á mutação e preconceito. Fico na expectativa do Vol. 2.
HQ gentilmente cedida pela loja Comix Book Shop.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.