Arcos Principais: As Cinco Luzes (The Five Lights) e Quarentena (Quarantine).
Publicação Original/ Brasil: Uncanny X-Men #526-534 (Marvel, 2010)/ X-Men #119-120, #122-123 (Panini, 2011).
Roteiro/ Arte: Matt Fraction/ Whilce Portacio e Greg Land.
Chegamos ao fim da fase escrita pelo Matt Fraction! 34 edições em 2 anos e meio, Fraction fez um pequeno rebuliço com os Fabulosos X-Men, colocando-os em São Francisco e depois na ilha Utopia. Muitos gostaram, outros odiaram esse período. Particularmente, achei uma passagem morna, mas com seus pontos altos. O desenhista Greg Land com certeza não é um deles. Seu estilo pasteurizou toda a fase, deixando ela com a mesma cara em cada edição em que desenhou. Nesses dois últimos arcos, o autor ainda inclui novos mutantes e novas subtramas a serem desenvolvidas. Review especial com spoilers de As Cinco Luzes e Quarentena!
AS CINCO LUZES/ NASCIMENTO DA GERAÇÃO ESPERANÇA
Com o final do Segundo Advento, um milagre pairou sobre os X-Men: a Cérebra localizou o que seriam 5 novos mutantes surgindo, algo que não acontecia há anos desde Dinastia M. Ciclope amou a notícia, pois poderia significar que a raça mutante já não estaria mais em extinção. Ele envia Esperança e outros membros, então, para entrarem em contato e recrutar essas “cinco luzes” (a Cérebra identifica os mutantes com um ponto de luz no mapa). O que seria o grande renascimento dos X-Men foi, na verdade, cinco mutantes bem aleatórios. Esperança, por algum motivo desconhecido, consegue liberar e ao mesmo tempo controlar os poderes dessas pessoas ao tocá-las. Uma verdadeira Messias! Assim, de mutante em mutante, ela e sua equipe reúnem os… 4.
Um pouco antes de começar a missão, porém, ela visita o túmulo de sua mãe verdadeira, morta no incidente em Complexo de Messias. Uma maneira do Fraction finalizar essa história de uma vez por todas. A primeira recruta é Laurie (Transônica), que queria se suicidar mas é salva por Esperança durante a queda, despertando seus poderes: pele azul aerodinâmica e voo. O segundo mutante é Gabriel (Velocidad), que altera a percepção do tempo. O mais bizarro do resgate dele é a Psylocke entrando na casa da família com seu uniforme super extravagante. A terceira mutante é Idie (Oya) numa igrejinha em meio à África, com habilidades de fogo/ gelo. E como qualquer história X nesse continente, temos Tempestade fazendo o recrutamento. O quarto mutante é Teon (Primal), um rapaz estranho com habilidades primitivas. O quinto é esquecido no churrasco. Eles serão a “Geração Esperança“, mas nesse momento não possuem carisma algum. Como esse arco tem uma outra situação acontecendo ao mesmo tempo com a Emma, acaba que ninguém se importa se a Esperança tá recrutando alguém ou não. Principalmente mutantes com poderes genéricos. Quer dizer, voo e super instintos? Really?
O que realmente é interessante no arco é Emma Frost tentando se livrar de Sebastian Shaw, que está preso numa cela especial em Utopia. Namor pensa que Shaw está morto, já que Emma o enganou telepaticamente. A estadia dele na Ilha é um segredo e apenas Perigo sabe, já que é a guarda. Emma teme que Namor descubra a verdade ou que Shaw fuja ou que outros X-Men saibam, então ela precisa tomar uma decisão. Pra piorar, Colossus pede que ela se comunique com a Kitty, que virou quase um fantasma, e durante a conversa a menina também acaba sabendo do Shaw. Antes que tudo dê mal, Emma chama Fantomex pra ajudá-la nessa missão. A edição #529, mais especificamente, é uma das mais legais de toda a fase Fraction. Madison Jeffries, que gosta e manipula máquinas, convida Perigo para um piquenique numa cena super fofinha. Fantomex, Emma e Kitty aproveitam a deixa e levam Shaw até o fim do mundo, pra darem um jeito nele. Só que Perigo, que é uma das melhores personagens, não e burra: ela sabe de tudo. Apesar da Kitty vestir uma espécie de traje espacial que não entendi onde isso ocorreu, é uma ótima edição. A arte de Whilce Portacio (Tropa Alfa, Wetworks), um dos fundadores da Image, é meio rústica e não é das minhas preferidas, mas a cena em que Emma vai conversar com Fantomex na banheira e ele sai todo molhado, é ótima! Isso que queremos ver, Marvel!
QUARENTENA
Esse último arco é um pouco pior, com Greg Land voltando pra arte e dando o mesmo rosto/ sorriso pra todo mundo. Além do conflito entre Emma e Shaw, há MUITA coisa acontecendo ao mesmo tempo. Em Utopia, uma gripe mutante se torna uma epidemia e rapidamente todos os mutantes na ilha ficam contaminados. Os humanos, entretanto, não contraem o vírus. Ciclope declara estado de quarentena e ninguém entra ou sai do lugar. Enquanto isso, Anjo está em São Francisco e aproveita pra formar uma nova equipe de X-Men para agir durante a quarentena. Uma equipe bizarra que beira o cômico nas ações, com a Cristal, Estrela Polar, Tempestade e Fada. Lóbulo, o cabeçudo da organização Sublime que apareceu em Nação X, retorna com sua equipe igualmente aleatória com uma nova droga que promete dar poderes mutantes à pessoas comuns. De.novo.uma.droga.que.dá.poderes. O próprio cabeçudo fala que não é só mais uma, mas a gente sabe que é. Ele transforma 5 jovens ricos e fãs de X-Men numa versão dos X-Men originais. E se não bastasse, ainda temos o Homem Coletivo arrasando com um bairro de San Fran que é protegido pelo Wolverine, que está morrendo de gripe.
Como comentei em alguns reviews anteriores, Matt Fraction não acerta uma sem errar outras duas, três. A trama da cópia dos X-Men originais, que acabam vencendo o Homem Coletivo, é ridícula. Toda a coisa com o cabeçudo é ruim. Como sua equipe é incompetente, ele acaba entregando a droga (que é uma bombinha) pra toda uma coletiva de imprensa devassa e, de um minuto pro outro, todos já sabem usar seus poderes. Quer dizer… os X-Men treinam anos e essa galera aprende instantaneamente. Percebendo que a equipe liderada pelo Anjo também é incompetente, Ciclope e todo mundo de Utopia (sem poderes) sai do lugar e vão enfrentar a crise pessoalmente, com armas. Ver super-herói com arma (com exceção dos já típicos soldados, como Cable e Bishop) é muito trash. Ciclope com lança-chamas? Wolverine com duas facas? Não. Pelo menos é uma luta sangrenta. A única coisa que realmente empolga é a trama com a Emma tentando se livrar de Shaw. Lá nos confins do mundo, ela e Fantomex querem matar o vilão, enquanto Kitty faz a puritana e não quer ver sangue. Mas também não sugere nada. Eis que Fantomex, que é dito ser um dos mais inteligentes, solta Shaw das alturas enquanto as duas ficam discutindo. Igualzinho ele fez em A Solução Apocalíptica. Só que ele não fez a lição de casa: em vez de Shaw morrer na queda, ele simplesmente fica mega poderoso, já que ganha força através de impacto. Ou seGE, uma ideia muito estúpida! Mas vamos entrar na magia… Os três pousam a E.V.A. e partem pro pau. Kitty e o francês servem pra nada, mas a luta com a Emma é sensacional. Aliás, ela é quase sempre muito boa. Porrada pra todo quanto é canto, com uma cena WOW: quando Shaw arranca a cabeça de diamante dela! O leitor fica embasbacado. Pena que era uma ilusão e, aparentemente, Emma dá um reset na cabeça dele.
Matt Fraction possui trabalhos super bem criticados, como sua fase com o Gavião Arqueiro ou a série Casanova, mas sua passagem pelos Fabulosos X-Men foi cheia de altos e muitos baixos. Os mutantes se mudarem pra São Francisco, a cidade da diversidade, foi uma ideia muito boa, que dá mais profundidade às questões sociais que a série trata. A própria Ilha Utopia não achei tão ruim quanto dizem, pelo contrário, acho que deram uma nova direção aos X-Men, um novo lugar para morarem e protegerem, realmente se unirem como espécie. Ele também deu um ar de pop-star aos personagens. Mas as histórias forçadas, retornos duvidosos (como de Madelyne Prior) e vários personagens genéricos e sem carisma algum, como essa equipe do Lóbulo ou o grupo da Esperança, que ninguém se importa, e a arte de Greg Land, que enjoa na terceira edição, tornaram seu run bem mediano. Esses dois últimos arcos poderiam focar apenas em Emma e Shaw, que realmente curti, principalmente por saber sobre o passado sombrio da ex-vilã. Ou trazer novos mutante realmente bons, já que há anos não tinha. E não abarcar tudo e desenvolver sub-tramas que ninguém liga. Ah, mas uma coisa boa ficou: o provável relacionamento de Madison com Perigo. Amei e já crushei!
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.