Arcos Principais: Sem título.
Publicação Original: X-Men #16-20 (Marvel, 2021)
Roteiro/ Arte: Jonathan Hickman/ Phil Noto, Brett Booth, Mahmud A. Asrar, Francesco Mobili.
Após um crossover gigantesco entre quase todas as revistas X (X de Espadas – Megassaga em Defesa de Krakoa), imaginei que teríamos e veríamos maiores consequências na revista principal dos mutantes. Nesse arco que ocorre exatamente após a saga e compila as edições X-Men #16-20, temos apenas uma discussão por cima sobre a união das ilhas de Krakoa e Arakko e só, mais nada. Jonathan Hickman, o arquiteto de toda essa fase krakoana (que está muito boa, não me entendam mal), preferiu nos levar numa aventura no espaço envolvendo a Majestrix Xandra (que poderíamos pular) e aprofunda na missão que a X-23, Sincro e Darwin foram realizar dentro da Câmara, que termina por ser o maior foco deste arco. Review especial com spoilers!
A UNIÃO DAS ILHAS
A edição #16 aborda as consequências do Torneio de Espadas, a vitória de Krakoa e a tentativa de anexar a ilha de Arakko à ela. União que não saiu como o planejado! As duas ilhas passaram eras separadas e, literalmente, não se entendem mais. Cada uma desenvolveu uma língua própria a partir de suas experiências. Arakko, por exemplo, cresceu em meio ao caos da guerra e só está acostumada a isso. Há uma cena em que as duas ilhas tomam formas humanoides para conversar (cada qual com seu intérprete) que chega a ser um pouco cômica. Porque, além de não se entenderem mais, elas possivelmente nem se gostam mais também.
Numa outra determinada cena, Magneto e Xavier vão até Arakko levar uma de suas flores como um sinal de paz. São recebidos pela Isca e o encontro entre eles rende um diálogo bastante interessante. Ela conta sobre como eles foram forjados, sobre o Governo que formaram (semelhante ao Conselho Silencioso) e também sobre a visão de cada um sobre paz e guerra. Mas a melhor parte é quando ela solta um veneno, dizendo que com eles não tem essa de levar flores aos inimigos. Muito bom! Um outro ponto interessante dessa edição é a saída oficial da Jean do Conselho. Ela e o Ciclope estão dispostos a recriar os X-Men. Sendo assim, duas cadeiras acabam vagando no Conselho: da Jean e do Apocalipse (que está preso em Arakko).
RESGATANDO XANDRA
A edição #17 parece um filler. A soberana Xandra é sequestrada por um dos povos que ela domina, rendendo uma discussão interessante sobre ditadura, monarquia e a visão para com o povo, mas que acaba não se apronfundando muito por motivos de: pancadaria. Ciclope, Jean e a Tempestade são chamados pelo Império Shiar para ajudar nessa situação, localizando e resgantando Xandra. Há muita pancadaria, bate primeiro e pergunta depois, sob um contexto de que está rolando alguns problemas na Galaxia (que podem vir a ser uma nova história?). Os desenhos dessa edição são de Brett Booth (Titãs: o Contrato de Lázaro), que seguem um estilo mais tradicional e old-school dos quadrinhos de herói, a Jean inclusive ganhou um novo penteado, um cabelo mais cheio e bonito. No geral, foi uma edição que não curti muito.
VIAGEM AO CENTRO DA CÂMARA
Os Filhos da Câmara surgiram lá em 2006 no arco X-Men: Supernovas, escrito pelo Mike Carey. Nele conhecemos um lugar chamado de a Câmara, onde humanos são gerados e acelerados artificialmente no tempo, ganhando poderes. Essas criações seguem determinados protocolos e são chamados de os Filhos da Câmara. Agora, na fase Krakoana, Hickman retomou os Filho em seu primeiríssimo arco X-Men: Aurora de X e o Aviso de Sina, onde descobrimos uma base da Câmara no Equador. Com medo de que seja uma nova ameaça, Charles encaminhou o Sincro, Darwin e a X-23 (agora chamada de Wolverine) para dentro da Câmara a fim de localizar e neutralizar qualquer ameaça.
Nas edições #18-19 vemos o desenrolar dessa missão. Um ponto interessante, antes de comentar sobre a história em si, é que eles não criaram esse trio à toa. A combinação de seus poderes gera um grupo praticamente invencível: a X-23 é letal e capaz de se curar de, praticamente, tudo; Darwin tem o poder de se adaptar a qualquer coisa a fim de sobreviver; enquanto Sincro consegue replicar os poderes de quem está ao seu lado. Sendo assim, os três são capazes de resistir a tudo, levando em conta que o tempo dentro da Câmara ocorre de maneira diferente. Um outro ponto legal é que eles estão sob o Protocolo Force, ou seja, estão permitidos de usarem força letal e quebrar os códigos de Krakoa (principalmente o de não matar humanos).
O tempo dentro da Câmara passa muito rápido e vemos uma sequência de tentativa e erro. O trio mapeando toda a cidade, tentando entender as ondas de criação dos Filhos, seus protocolos e funcionamento. Sincro também está mais forte e consegue replicar tanto poderes mutantes, quanto de outros super-humanos. E acontece muita coisa nessas duas edições. Parte dela é narrada através dos desenhos e outra parte é narrada nos textos explicativos (característica forte dessa fase atual), que ajuda a contextualizar melhor o leitor sem precisar de inúmeras páginas desenhadas. O que também ajuda a não ficar repetitiva. Porque convenhamos, uma hora enche o saco a gente ver os três invandindo, perdendo, sobrevivendo, se adaptando e repetindo isso mais umas quarenta vezes isso, passando o equivalente a décadas.
Talvez a parte mais importante disso tudo é que, dentro da Câmara, Sincro e a X-23 acabam ficando muito próximos e apaixonados. Porém, na derradeira missão de saída do lugar, ela fica para traz e é morta. Sincro volta à Krakoa (com toda a sua memória do que aconteceu), mas quando a Laura é ressuscitada, ela não tem lembrança de nada. Então é como se eles nunca tivessem ficado e talvez seja um ponto interessante de ser tratado mais pra frente.
MÍSTICA DENTRO DA FORJA DA ORQUÍDEA
A edição #20 fecha esse “arco” e também ocorre de maneira isolada. Aliás, vale comentar que todo esse volume da revista X-Men soa como suporte para o que vem acontecendo nessa fase, pois não pega algo do início ao fim como geralmente fazem, com algo redondo em cada arco. Foram edições mais isoladas. Nessa aqui, a Mística é enviada à Forja da Orquídea para implantar uma bomba que, com sorte, irá derrubar o lugar e evitar que um novo Ninrod se conecte. Inclusive essa bomba foi feita pelo Forge a pedido da própria Mística, rendendo um ótimo diálogo sobre atitudes vilanescas.
Vale lembrar que a Mística está realizando algumas missões para o Magneto e o Charles em troca de que ressuscitem a Sina o mais rápido possível, sua antiga namorada. E eles, claro, estão enrolando. E pra piorar, algo dá errado no espaço, a bomba não funciona como deveria e o Ninrod acaba se conectando. Ele é um robô programado para matar mutantes, uma versão melhorada dos Sentinelas. Com o fracasso da missão, a Mística começa a ficar furiosa sobre essa demora em ressuscitarem a Sina, dando o prelúdio para a próxima saga: Inferno; quando ela decide colocar a Ilha abaixo, fazendo parte de uma profecia.
De maneira geral, esse “arco” da revista compila algumas edições que funcionam dentro da proposta de dar a perspectiva oficial da fase Krakoana, mas também traz algumas enchições de linguiça. Fiquei meio desapontado pelo Torneio de Espadas não ter tido tantas consequências, já que ele foi gigantesco. A história da Xandra também poderia facilmente ser pulada. O destaque no roteiro do Hickman fica para os diálogos, que ele sabe construir muito bem em diversos momentos, assim como auxilia dentro da trama maior, como o relacionamento surpresa entre a X-23 e o Sincro ou todo o contexto que vem se criando em torno da Mística (que é uma das minhas personagens preferidas). Isso faz com que toda a parafernalha espacial fique deslocada. Destaque também para os desenhistas.
Confira outros reviews desse volume de X-Men que fiz aqui no site:
Volume 6 (2019-2021): Fase Jonathan Hickman (#1-22)
X-Men: Aurora de X e o Aviso de Sina (#1-6)
X-Men: A Provação e Conflitos Espaciais (#7-11)
X de Espadas: Megassaga em Defesa de Krakoa (#12-15)
X-Men: Viagem ao Centro da Câmara (#16-20)
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.