Arcos Principais: Sem título.
Publicação Original: Marauders #1-6 (Marvel, 2020)
Roteiro/ Arte: Gerry Duggan/ Matteo Lolli, Michele Bandini, Lucas Werneck, Mario del Pennino.
Após os eventos de Dinastia X/ Potências de X, quando Charles Xavier anunciou ao mundo a nova ilha nação mutante Krakoa, a Marvel reformulou todas as revistas X. O carro chefe continuou sendo a X-Men, com roteiro do próprio Jonathan Hickman (e que já fiz o review do primeiro arco aqui!), enquanto as demais revistas abordam outros núcleos de personagens. Carrascos (Marauders no original) foca em Kitty Pryde e o Clube do Inferno, com roteiro do Gerry Duggan, trazendo nesse primeiro arco diversas mudanças e um clima de piratas em alto mar! Review especial com spoilers!
A NOVA RAINHA VERMELHA DO CLUBE DO INFERNO
Um ponto interessante em relação a revista X-Men, é que essas 6 edições da Carrascos são mais coerentes entre si, focando num mesmo núcleo de personagens e desenvolvendo uma só trama. Enquanto a dos X-Men foram edições mais individuais. E apesar de não ser um arco propriamente dito, as 6 edições funcionam muito bem, inclusive foram compiladas nos EUA num único volume (Carrascos por Gerry Duggan Vol. 1). A história aborda a realidade dos muitos portais de Krakoa que estão localizados em territórios hostis, como o de países que não aceitaram a soberania da nova nação mutante (o Brasil está entre eles, inclusive!). Alguns portais chegam a cer cercados de soldados, impedindo a entrada ou saída de mutantes através deles.
Para lidar com esse conflito, a Emma Frost cria um super navio e convida a Kitty Pryde para chefiá-lo em missões de resgate. Um ponto legal, logo nesse início da trama, é que a Kitty não consegue passar pelos portais de Krakoa! O que coloca em cheque seus poderes, se são realmente de origem mutante ou se haveria outro motivo para a ilha bloquear seu acesso. Indo mais longe, fica a dúvida se ela até mesmo entraria nos protocolos de ressurreição. Tempestade e o Homem de Gelo, dois ômegas (como é deixado bastante claro) entram para o time do navio e alguns desconfiam que seja para proteger a Kitty, com medo dela morrer e não poder ser ressuscitada. Até porque esse lance de vida e morte virou festa, né?
E como comentei lá no início, uma das grandes mudanças que o Gerry Duggan trouxe é uma evolução na própria Kitty Pryde. Vale comentar que a Kitty, nossa eterna Lince Negra, era apenas uma criança quando foi recrutada pela primeira vez, lá em 1980. E por muito tempo ficou com o estigma de “jovem X-Men“, mesmo sendo a Diretora do Instituto nos últimos anos. E nesse ponto, a Emma dá uma certa cutucada, questionando porque ela ainda aceita ser chamada de “Kitty” (que seria um apelido mais infantil), em vez de seu verdadeiro nome ou de uma forma mais formal. E é assim que nossa Lince Negra, mudando de postura e após bater em alguns anti-mutantes, decide que só será chamada de Kate Pryde de agora em diante! Achei um desenvolvimento de personagem muito bom!
Além da Tempestade e o Homem de Gelo, também entram para a equipe o Pyro (ressucitado) e o Bishop, com a Emma servindo de ponte entre as missões e os negócios. Aliás, esse é outro tema bastante importante na trama. A Emma, cujas motivações são um tanto questionáveis as vezes, está junto do Charles e tentando fazer a coisa certa, inclusive comprando uma briga com o Sebastian Shaw, que vem desviando os remédios que saem de Krakoa, deixando de ir para nações que estão precisando e indo direto para as mãos de ricaços em troca de dinheiro. Os dois inclusive ensaiam uma pequena briga. E para apimentar mais as coisas, a Emma declara que o lugar vago na mesa Clube do Inferno no Conselho Silencioso será da Kate Pryde e não da indicação do Sebastian. Kate, sendo assim, se torna a nova Rainha Vermelha!
O Sebastian também tem um bom desenvolvimento. Ele pede para ressuscitarem o seu filho, Shinobi Shaw (que havia se suicidado em Fabulosos X-Men: Sempre Fomos) e planejava dar à ele a cadeira vaga no Conselho, mas como não foi possível, Shinobi se torna o Bispo Negro (assim como o Christian Frost é o Bispo Branco da Emma). O Bishop é convidado a se tornar o Bispo Vermelho da Kate. Aliás, o pessoal do Clube do Inferno é cheio de formalização, né? Mas o que interessa nesse plot do Sebastian é que ele conta ao filho uma outra versão de sua morte: não diz que Shinobi se suicidou, mas sim que a Emma e a Kate tramaram a sua morte. Ou seja, já começa a fazer uma tramoia interna, outro fator bastante característico do Clube.
Retomando a questão dos portais em locais hostis, outra mudança que tivemos após a revelação de Krakoa está nos novos grupos de adoradores de mutantes. Sim, adoradores! Muitas pessoas, após ouvirem a voz do Xavier em suas cabeças, acabaram surtando e acreditando que os mutantes são divindades. Na edição #4 a Kate e o Bishop resgatam um desses adoradores, cuja esposa (que é anti-mutante) tramou seu sumiço e estava culpando Krakoa. O roteiro do Gerry Duggan, que já escreveu o Deadpool, é bastante intrincado e não deixa muitas pontas soltas, ponto positivo pra ele! Temos o retorno, por exemplo, dos membros mirins do Clubinho do Inferno, lembram? Kade Kilgore, Manuel Enduque, Maximilian Frankenstein e Wilhelmina Kensington, que agora adotam o nome de Homines Verendi e continuam dispostos a eliminar os mutantes. Apesar da Tempestade, Homem de Gelo e o Pyro não serem tão explorados quanto os demais, ainda conseguem certo destaque. O Bob, que sempre foi o alívio cômico nos X-Men originais, está com a sexualidade bastante transparente e um humor muito irônico.
A última edição se passa em Madripoor, com a Kate indo salvar o Shinobi e acabando por cair numa cilada do Sebastian, sendo jogada no fundo do mar junto do Lockheed, deixando no ar se ela sobreviverá. Um primeiro arco muito divertido de se ler, mostrando a capacidade do Gerry Duggan em lidar com a vasta mitologia dos mutantes, abordando questões interessantes como os portais de Krakoa hostilizados ao redor do mundo, além de trazer a estética dos piratas à história, já que a Kate não consegue atravessar os portais e utiliza do navio para chegar nos locais da missão, com direito a hastear uma bandeira preta. Entre a equipe de desenhistas temos Matteo Lolli, Michele Bandini, Lucas Werneck e Mario del Pennino. Vale lembrar também que não é a primeira vez que a Kitty se comporta toda rebelde, me lembrei até da fase lá no início dos anos 2000, quando ela teve todo um rolo envolvendo os Neos e decidiu desistir da vida de heroína. A questão aqui, apesar de deixá-la mais madura, é que é meio bizarro vê-la como uma mini Logan: bebendo pra caramba, sempre com uma garrafa na mão e pagando de fodinh@. Combina com o lado pirata da história, mas não sei se com ela.
Confira outros reviews de Carrascos que fiz aqui no site:
Volume 1 (2020-2022): Fase Gerry Duggan (#1-22)
Carrascos: A Nova Rainha Vermelha do Clube do Inferno (#1-6)
Carrascos: O Enterro de Kitty Pryde (#7-12)
X de Espadas: Megassaga em Defesa de Krakoa (#13-15)
Carrascos: Shaw Deve Pagar e o Retorno dos Morlocks (#16-20)
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.