Arcos Principais: Sem título.
Publicação Original: Marauders #7-12 (Marvel, 2020)
Roteiro: Gerry Duggan.
Arte: Stefano Caselli e Matteo Lolli.
Após os eventos de Dinastia X/ Potências de X, quando Charles Xavier anunciou ao mundo a nova ilha nação mutante Krakoa, a revista Carrascos (Marauders no original) trouxe Kitty Pryde e o Clube do Inferno liderando missões em alto mar, numa pegada “piratas” em que o grupo resgatava mutantes de outras nações para trazer à Krakoa. Enquanto o primeiro arco contextualizou toda a equipe e a dificuldade da Kitty em poder entrar na ilha, esse segundo arco trouxe sua morte e (estranho) renascimento. Review especial com spoilers!
O ENTERRO DE KITTY PRYDE
A morte nas HQs de heróis é algo que ninguém leva a sério já faz um tempo. Heróis morrem e renascem na velocidade da luz. Com a ascensão de Krakoa, os mutantes conseguiram criar um protocolo de “Ressurreição“: unindo o poder de cinco mutantes especiais, eles agora são capazes de recriar um mutante a partir de material genético e de um “backup” mental armazenados na ilha. Teoricamente, não há mais mortes em Krakoa. O que é interessante por um lado, mostrando todo o auge do mutantedom, mas que por outro acaba banalizando ainda mais algo que já não estava em seus melhores dias. E isso fica muito claro nesse arco.
Recapitulando os últimos eventos, Kitty Pryde foi pega numa emboscada armada pelo Sebastian Shawn, caindo ao mar e morrendo. Sua morte desencadeia diversos eventos entre as edições #7-10, já que ela não conseguia acessar a ilha e, agora, os Cinco não conseguem ressuscitá-la. Todas as tentativas de gerar uma nova Kitty a partir dos casulos acaba em fracasso e, pior, ninguém entende o porquê. A Tempestade, num surto, desconta sua raiva na Emma, com direito a tapa na cara, beijos e abraços. O Homem de Gelo descobre um navio com pessoas conectadas à morte da Kitty, congelando todos a bordo e arrancando braço, perna e tudo o que tem direito dos criminosos. Em paralelo, o Lockheed (que também havia sido jogado ao mar) é resgatado por uma família, recebendo cuidados e depois partindo rumo à Krakoa.
Antes de comentar o grande evento da edição #11, onde ocorre o enterro da Kitty, há alguns pontos interessantes, como o retorno da Callisto, que se torna uma espécie de braço direito da Emma, e também dos Morlocks, que estão num local seguro e longe da confusão de Krakoa, curtindo umas férias. Um dos momentos mais frenéticos é quando a Emma bola um plano para poder expulsar o Jaqueta Amarela do corpo do Pyro. Só relembrando, a Verendi (grupo formado pelas crianças do Clubinho do Inferno) está investigando Krakoa e preparando um meio de acabar com os mutantes. Como parte desse plano, eles encaminharam o Jaqueta Amarela, capaz de diminuir a nível telescópico, pro corpo do Pyro, vendo o que ele vê. A missão de tirá-lo de lá é perigosa, já que ele pode aumentar de tamanho a qualquer momento e simplesmente explodir o corpo do mutante. Toda essa sequência, que ocorre na edição #9, é muito boa.
A edição #10 é quando as coisas, pra mim, começam a ficar meio passadas. Primeiro que a morte da Kitty não parece ter tido o efeito que o roteirista Gerry Duggan (Deadpool) queria que tivesse. Existe até um troca de cartas entre o Noturno e a falecida, mas tudo fica muito perdido. A Emma possui uma nave alienígena (?) e enfrenta alguns criminosos russos que estavam desenvolvendo armas anti-mutantes, rendendo diversos momentos nonsenses e, o que é pior, em meio ao “luto”. Numa dessas cenas, a Emma desabotoa sua blusa para confundir (?) os inimigos. A Emma é uma das minhas personagens preferidas, mas convenhamos, estamos sofrendo a morte da Lince Negra! Isso, junto com abduções e toda uma parafernália, acaba deixando todo o plot em torno da Kitty como algo extremamente banal.
E o que já era visível, fica ainda mais na edição #11, cuja capa traz o enterro da Kitty (e que já é considerada uma das mais icônicas dessa fase). Existe toda a construção do enterro e da cultura de Krakoa, onde não há cemitérios: o corpo da Kitty é cremado e levado ao mar; rendendo um ritual muito bonito. Tudo isso para, em algumas páginas depois, eles finalmente conseguirem trazê-la de volta. Quer dizer… todo um drama pra nada. A Emma entendeu o que estava dando errado no protocolo e conseguiu fazer com que ela faseasse pelo casulo.
Um arco que aborda a morte e o renascimento de uma fan-favorite, que perde um pouco da emoção por deixar a questão da morte muito banal. Mas que funciona para colocar a Kitty num novo status quo: ela volta mais rebelde que nunca, fazendo tatuagens e bolando um plano contra o Shawn, além de adotar novamente o cabelo cacheado, lembrando sua era oitentista. No geral, achei esse arco menos interessante que o primeiro e um tanto perdido, em alguns momentos eu até me perguntei se o pessoal estava sabendo ou não da morte da Kitty, já que tava todo mundo tocando a vida e até planejando um baile. Mas apesar dos pesares, tivemos momentos muito bons, como o resgate do Pyro.
Confira outros reviews de Carrascos que fiz aqui no site:
Volume 1 (2020-2022): Fase Gerry Duggan (#1-22)
Carrascos: A Nova Rainha Vermelha do Clube do Inferno (#1-6)
Carrascos: O Enterro de Kitty Pryde (#7-12)
X de Espadas: Megassaga em Defesa de Krakoa (#13-15)
Carrascos: Shaw Deve Pagar e o Retorno dos Morlocks (#16-20)
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.