Arcos Principais: O Primeiro Aliado (The First Ally).
Publicação Original/ Brasil: All-Star Batman #10-14 (DC, 2017)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Scott Snyder / Rafael Albuquerque.
Quando surgiu a fase Rebirth, uma das séries mais interessantes anunciadas foi All-Star Batman, que seria escrita pelo Scott Snyder (Wytches) e traria, a cada arco, um vilão e artista diferentes. Uma proposta pra uma revista quase antológica. A promessa se cumpriu em partes e a série foi, infelizmente, cancelada. O primeiro arco, Meu Pior Inimigo, foi desenhada pelo John Romita Jr. e trouxe o Duas-Caras. O segundo, Nos Confins da Terra, trouxe três artistas diferentes, com um Batman enfrentando diversos vilões durante uma missão. Já este terceiro e último, O Primeiro Aliado, Snyder focou no Alfred Pennyworth, eterno mordomo do Batman, recontando seu passado e estreitando o laço de amizade entre ele e o Bruce, tudo desenhado pelo Rafael Albuquerque (Batgirl Rebirth). Review sem muitos spoilers!
O PRIMEIRO ALIADO
A história é narrada pelo próprio Alfred, que ganha maior destaque, mostrando sua infância, de como se sentia abandonado pelo pai, que vivia trabalhando para os Wayne. Em seguida, sua adolescência rebelde, pixando os muros da cidade e se metendo nas maiores confusões com a polícia. Enquanto conhecemos o passado dele, no presente o Batman está investigando o Motor Gênese, algo que o Silêncio estava atrás e os Pretos e Brancos, como o trio de mafiosos Pinguim, Tubarão Branco e Máscara Negra estão se chamando, temem que caia em mãos erradas e meio que aceitam que até o Batman consiga por as mãos no misterioso Motor.
O destaque do arco fica por detalhar uma grande parte da vida do Alfred, explicando de onde vem todo o seu conhecimento. Ele foi um dos agentes secretos do MI5, o serviço de segurança britânico, comandado pelo enigmático Briar. E é curioso comentar que a narrativa tem um tom de 007, até. Além das cenas serem boa parte à luz do dia, algo que comentei nos reviews anteriores, tirando aquele peso mais sombrio que estamos acostumados a ver com o Batman, também tem essa carga de espionagem e cenas grandiosas a lá James Bond ou Missão Impossível. Alfred tem todo um treinamento militar e, em sua narração, comenta a paixão que possui pelas histórias de pirata. Esse é um ponto importante, pois todo o arco é em cima do formato utilizado dos piratas, inclusive com uma cena (muito boa, por sinal), onde ele, num avião, se aproxima de outro e saca uma metralhadora. Clara referência àquelas brigas de canhão, com um navio ao lado de outro.
Mas ao mesmo tempo em que vamos nos aprofundando na história, fica aquela sensação de “estamos falando do mesmo personagem?“, porque o Alfred está bem diferente do que estamos acostumados a ver ou imaginar, muito mais ativo e ágil, participando das brigas, colocando em prática tudo que sabe. Seu passado foi cheio de ação e ficamos pensando em que momento se deu a sua mudança, de ter largado tudo e virado mordomo. Isso, felizmente, não é deixado no ar, sendo explicado ao final. Outro ponto bacana é a relação dele com o Bruce, praticamente de pai e filho. Porém é um arco que se arrasta um pouco, com edições bem longas. Sem contar que, ao final da edição principal, há a sub-história paralela, que depois se mostra parte do arco como um todo.
Entre outras cenas que se destacam, principalmente pelo exagero, é o Batman dentro de um submarino-cassino, que está prestes a explodir, saindo da situação numa cena super WTF? de ser, bem forçada. Numa outra, o Pinguim sai disparando e solta uma wrecking ball num edifício onde o Batman está, só faltou a Miley Cyrus aparecer. O passado de Alfred volta pra perturbá-lo e o Motor Gênese se mostra mais perigoso do que se pensava, revelando novos inimigos. Apesar de cansativa, o final é ótimo e mostra como o Snyder sabe fechar as pontas e até emocionar, nos aproximando desse núcleo super problemático que é o Alfred e Bruce, mas o decorrer deixou a desejar em alguns momentos, com o clímax final cheio de clichês à beira-mar e cenas pra lá de Missão Impossível, forçando um pouco a barra. Os desenhos de Albuquerque continuam rápidos e sensacionais.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.