Arcos Principais: Vingadores Vs. X-Men (Avengers Vs. X-Men).
Publicação Original/ Brasil: Wolverine and The X-Men #9-18 (Marvel, 2012)/ Wolverine #103-106 (Panini, 2013).
Roteiro/ Arte: Jason Aaron/ Chris Bachalo, Nick Bradshaw e Jorge Molina.
O evento Vingadores Vs. X-Men ganhou uma série própria em 2012, se arrastando em 13 edições, mostrando o conflito entre ambas as equipes em torno do que fazer com a Esperança Summers e a vinda da Fênix. Enquanto os Vingadores queriam prender a garota e evitar uma possível chacina da Fênix, Ciclope acreditava que isso era um sinal de renascimento, que ajudaria a tirar a raça mutante do limbo. Muita porradaria depois, a Força Fênix acaba se dividindo em 5, dominando o Ciclope, Emma, Colossus, Magia e Namor. Eles reformularam Utopia e trouxeram um breve momento de paz ao mundo, porém o poder corrompe e, um a um, as cinco Fênix foram sendo derrubadas. Restando Ciclope, que matou o Professor X antes de ser detido e, como esperava, novos mutantes começaram a ressurgir. A saga se desdobrou em quase todas as revistas da editora, como em Wolverine e os X-Men, mostrando como os alunos da Escola Jean Grey lidaram com o evento em ótimas edições, aproveitando pra contextualizar diversos personagens coadjuvantes. Review especial com spoilers.
VINGADORES VS. X-MEN
Enquanto Kieron Gillen recontou algumas cenas de VvsX na série Fabulosos, Jason Aaron (Poderosa Thor) soube aproveitar muito melhor essa necessidade de intercalar os eventos. E de maneira bem mais carismática. Logo no início, na edição #9, alguns alienígenas estão observando a rota da Fênix pelo espaço, apostando em quais planetas ela irá pousar e destruir. Uma sacada hilária. Claro que temos o Capitão América chegando na Escola e pedindo a ajuda do Wolverine, a briga em Utopia e depois o Ciclope tentando uma última vez convencer o Wolverine de que está ajudando os caras errados. Mas o pano de fundo em cada edição acaba ganhando destaque, com o autor aproveitando esse evento pra poder explorar outros personagens. A Escalpo, por exemplo, vem saindo de uma depressão, sempre trocando de pele pra não lidar com seus sentimentos. Nesse início, ela começa a ter um relacionamento com ninguém menos que o Groxo, o zelador da Escola.
O pequeno Gênese e o Anjo desmemoriado também se destacam. Enquanto o Kid Apocalipse procura saber sua origem e afirmar a si mesmo que não é ou se transformará em nenhum vilão, Warren tenta se convencer de que é um anjo de verdade, mas falhando. Há uma conversa entre os dois, com Gênese perguntando se ele será uma boa pessoa. O Anjo, ao olhar pra ele, só enxerga o Apocalipse, mas não conta a verdade. Percebe, então, que não é um anjo de verdade, pois mentiu. E se tratando de Fênix, não podemos deixar os Shiars de lado. O Gladiador não gostou nada que a entidade está chegando na Terra, onde seu filho se encontra. Ele acaba por enviar o Comando da Morte com a missão de resgate, não importa o que precisa fazer.
ESPERANÇA VS. COMANDO DA MORTE
A partir da terceira edição, Jason Aaron apostou num formato que fez toda a diferença: focar em algum personagem e sua origem ou contexto. Na #11 ainda há os resquícios da saga principal, com o Homem de Gelo enfrentando o Hulk Vermelho, utilizando suas novas habilidades de se multiplicar. Já o Comando da Morte encontra o Wolverine e a Esperança, sendo destroçados por ela sob a influência da Fênix. Aqui temos outro ponto interessante: na série dos Vingados Vs. X-Men, fica a impressão de que o Wolverine levou a garota pra Lua já com o plano de entregá-la aos Vingadores em mente; mas nessa história descobrimos que não foi bem assim. Wolverine iria levá-la pra, realmente, matá-la se o plano dela não desse certo. Mas ele percebeu que não seria capaz, não quer ser um assassino de crianças. Então chamou os Vingadores. Com o Comando fora da jogada, Kid Gladiador se rebela contra a Warbird e resolve ficar na Escola e lutar, enquanto seu próprio pai está a caminho.
RACHEL GREY, A RASTREADORA
Na edição #12, ocorrendo já com as 5 Fênix, temos Rachel Grey precisando ser, mais uma vez, a rastreadora. Ela veio de um futuro caótico, onde era obrigada a rastrear outros mutantes para o lado inimigo. Ela jurou nunca mais fazer isso, preferia morrer a ter que trair sua raça mais uma vez. Mas, com o clima tão tenso, foi obrigada a localizar Esperança, que estava sob os cuidados dos Vingadores. E ela realmente a localiza! O que se segue é uma cena muito boa. A própria Rachel, na série da saga, teve um papel importante, sendo umas das principais mutantes a “trair” o Wolverine, vazando informações pro Ciclope. E aqui ela deixa a Esperança fugir, não quer ser a responsável pelo destino de mais ninguém. Mesmo com o Ciclope questionando o que aconteceu, ela mente. Muito bom.
WARBIRD, DE ASSASSINA À ARTISTA
Já na edição #13, o foco está na guarda-costas Shiar Warbird. Ela sempre se coloca como uma assassina fria e fiel ao Gladiador. Mas nem sempre foi assim. Voltamos no tempo, quando era uma garotinha, sonhando em ser soldado. Apesar da infância dolorosa, ela não se comporta como uma vítima das circunstâncias, até porque acho que isso não existe lá pelas bandas dos Shiars. O grande diferencial que o Aaron coloca é a paixão dela por desenhar, enxergado quase como um pecado, queimando todos os seus desenhos antes que alguém possa ver. Eventualmente ela se tornou uma soldado, sendo temida e elogiada por sua eficiência, mas que teve seu momento de falha: não conseguiu matar uma criança, que também gostava de desenhar. O legal é que não vira uma grande lição de moral ou algo super fofo e transformador. A Warbird continua badass e prometeu nunca mais falhar, incluindo deu umas pancadas no Kid Gladiador, tudo em nome da missão. Em seu íntimo, ela recorda os tempos em que desenhava, mas percebe que já não sabe mais fazer isso. Que dureza!
MEU JANTAR COM A FÊNIX
Colossus se transformou numa das 5 Fênix e foi um dos mais modificados, por assim dizer. Tanto o Namor, quanto a Magia e a Emma sempre tiveram um pé na vilania, enquanto o Ciclope já estava fanático. Já o Colossus era aquele brutamontes com alma de artista, que por trás dos músculos escondia uma alma caridosa. Mas tudo mudou com a influência do Cyttorak e da Fênix, mesmo assim, foi até a Escola convidar sua paixão, Kitty Pryde, pra um jantar em meio ao mar. Essa edição #14 foca no relacionamento dos dois, extremamente conflituoso. Ela percebe que ele já não é o Colossus de antes e dá uma chega pra lá. O interessante é que ele fica furioso, ameaça destruir a Escola, é detido pela própria Kitty e, depois de ver o que estava prestes a concluir, some. E ela, que já tem tanta coisa na cabeça, prefere nem comentar os assuntos, pega uma pá e começa a limpar a bagunça, recomendando todos a fazerem o mesmo. Isso demonstra o quanto já está cansada de toda essa situação, sem forças até pra discutir, mas reconhece que não pode parar.
DOOP, A ARMA SECRETA DO WOLVERINE
Pulando umas edições, antes de comentar sobre o final desses arcos, a edição #17 é totalmente voltada ao Doop, o estranho alienígena verde, que ninguém entende o que fala, que já participou da infame X-Táticos e agora é membro oficial da Escola. O que ele faz, além de comer e dormir? E pra ajudar a contar essa missão, Jason Aaron convidou Mike e Laura Allred (Art Ops) pra fazerem a arte, os co-criadores do personagem. Além do traço e das cores super característicos do casal, que dão um charme à parte, finalmente conhecemos um pouco mais sobre a criatura. Wolverine o convidou pra Escola pra lidar com ameaças obscuras. Assim, Doop enfrenta outros alienígenas que querem acabar com os X-Men; grupos extremistas que estão planejando uma invasão; e até freiras fanáticas escrevendo besteira. Tudo longe dos olhos da galera. Sem contar que, nas entrelinhas, Doop entra e sai do quarto de um monte de gente. Garanhão ele. Ou seja, muita coisa pra uma pessoa só! Por isso está sempre caindo e dormindo em qualquer canto. Alguns detalhes, como deixar a entender que é bem mais velho do que aparenta, também são contados. Dentes-de-Sabre e Howard, o Pato também fazem uma ponta especial. Ah, ele também tem uma habilidade que me lembrou do Mokona da CLAMP, de engolir as coisas.
O CLUBINHO DO INFERNO
Depois do embate entre o Gladiador e as 5 Fênix, a Escola Jean Grey fica um tanto tumultuada. Warbird é deixada na Terra, pra seguir seu coração (ela gosta do Bobby, mas também não nega o Doop). Aliás, todo mundo gosta do Bobby, inclusive a Kitty Pryde (que usa até maquiagem nas últimas edições) largou o Colossus e investiu no Homem de Gelo. Pena que ele tá em outra, né?! Falando em casais improváveis, não podemos esquecer da Escalpo com o Groxo e da Idie com o Nim, o mutante da raça Ninhada. O Anjo, que teve a mente apagada e vem evoluindo rapidamente, foi promovido e deixou de ser aluno, aproveitando pra tirar a roupa e voar pelado por ai. Engraçado que, mesmo com o amor no ar, não fica aquela coisa extremamente sexual que vimos nos Fabulosos X-Men do Kieron Gillen. Os desenhos ficaram por conta de Chris Bachalo, Nick Bradshaw e Jorge Molina, todos adotando um estilo mais cartunesco, com os personagens menores, meio “chibis“. Com destaque pro Bachalo e sua pegada exagerada.
Kade Killgore, o Rei Negro do Clube do Inferno e o líder de seu grupinho infantil, ganham destaque nas últimas edições (#16 e #18). As 5 Fênix estavam fazendo uma limpa na Terra e, claro, esses pivetes estavam no meio do caminho. Ciclope envia todos pra prisão, sendo os presos mais jovens, e aproveitamos pra conhecer a origem de Kade, de como foi sua infância, como planejou matar o pai, seus amigos e se tornar o novo Rei Negro. É algo bem pesado e sangrento! Essas crianças são do capiroto! A última edição, em especial, chega a ser triste. A Kitty monta um baile na Escola, pra aliviar a barra dos alunos, e o Nim vê sua crush, Idie, dançando com o Quentin Quire. Ele fica putaço e vai atrás da Igreja em que Idie se confessava, cortando a cabeça do Padre e descobrindo que se tratava de um robô do Clubinho, que armou tudo. Pobre Nim, acabou levando um tiro na cara do Kade! Pra ser sincero, achei mais forte a morte dele que a do próprio Professor, ao final de Vingadores Vs. X-Men. Esse Clubinho tá demais, hein! Wolverine e os X-Men se mostrou uma excelente série, com o roteirista Jason Aaron conseguindo se dar bem mesmo em meio à essa saga mequetrefe, destacando vários personagens secundários e nos fazendo se importar com eles. São histórias com teor forte, tratando infância perdida, perdas e mortes, mas ainda com um sinal de esperança. Com o sumiço da Força Fênix e vários mutantes surgindo, é bonito ver a Lince Negra se abraçando com as Cucos.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.