Arcos Principais: Mini-série.
Publicação Original/ Brasil: Incógnito #1-6 (Icon, 2008)/ Inédito.
Roteiro/ Arte: Ed Brubaker / Sean Phillips.
Poucas pessoas sabem, mas a Marvel possui um selo próprio chamado “Icon“, onde os autores possuem total liberdade de criação e podem trabalhar em projetos pessoais, não ligados ao Universo Marvel tradicional. Um esquema semelhante à Vertigo da DC ou à Image. O selo surgiu em 2004 e já lançou algumas séries e minis bastante conceituadas como Kick-Ass, Powers e Casanova. O roteirista Ed Brubaker (Fabulosos X-Men: Ascensão e Queda do Império Shiar) e o desenhista Sean Phillips (Hell Eternal) chegaram a criar a série Criminal em 2006, explorando o universo dos policiais e dos “pulps”. Boa parte desses títulos da Icon saíram aqui pela Panini, mas muitos foram abandonados e ficaram incompletos. “Incognito” foi uma mini em 6 edições, também da dupla Brubaker/ Phillips, que pegou carona no estilo de Criminal, mostrando um universo noir-caricato, com anti-heróis barra-pesadas. Publicada em 2008, permanece inédita no Brasil. Review sem spoilers!
INCOGNITO
Essa mini é uma mistura de diversos gêneros, seguindo um clima noir e apresentando heróis e super-humanos mais “reais”, semelhante a Watchmen. Os gêmeos Zack e Xander Overkill foram resultado de um experimento, ganhando força e virando “supers”. Eram a principal arma do Morte Negra, um dos principais criminosos da cidade, até serem mortos em combate. Aliás, parcialmente mortos. Zack sobrevive por um triz e é pego pela Companhia que caça o Morte Negra, sendo preso e drogado, para “cortar” seus poderes. Zack é dado como morto pela mídia, mas entra num programa de proteção à vítima, entregando seu antigo chefe e passando a viver uma vida normal, como arquivista. Ou uma “vida normal de merda“, como ele mesmo comenta. E pra quem já provou do perigo, é difícil se manter longe, não é? Assim a história de Incognito começa a se desenrolar. Zack tenta fugir da mesmice usando algumas drogas, que acabam prejudicando as outras drogas que inibem seus poderes, voltando ao que era antes. Mas ao invés de continuar com o crime, passa a agir como um herói mais casca grossa. Claro que isso não passaria despercebido pelo Morte Negra, que está trancafiado numa prisão de segurança máxima.
A narrativa é carregada de cenas de ação sangrentas. Os desenhos de Sean Phillips me lembraram muito histórias mais antigas, talvez por tentar passar esse clima noir. As cores de Val Staples (Wolverine/ Deadpool) também ajudaram, se mantendo mais sombria e sóbria. Um ponto interessante de comentar é que, apesar do realismo das situações, há muitos momentos extremamente caricatos e exagerados, mas que funcionam dentro da história. Há uma criminosa, a Ava Destruction (os nomes são ótimos!) que lembra a Arlequina no modo de ser, por exemplo. Outros pontos de destaque são a maneira como Brubaker tratou esses super-poderes. O Morte Negra é poderosíssimo e custa caro mantê-lo numa prisão, com tecnologia de ponta para inibir seus poderes. A questão do dinheiro, apesar de um detalhe, serve pra deixar a história mais palpável. Eles também falam que a energia gasta para mantê-lo lá seria suficiente pra iluminar uma outra cidade. O que nos faz pensar: até onde vale a pena manter um vilão desses vivo?
Perto do final a trama passa a ser mais de ficção científica, numa pegada Arquivo X de ser. Envolvendo experimentos militares, clones, instalações abandonadas, força alienígena e tudo o mais. Incógnito é uma mini bastante interessante, cheia de ação do começo ao fim, ótima para os fãs do gênero, divertida e com uma iluminação muito boa. Traz um clima de investigação e suspense bem agradável, como o advogado do Morte, que se comunica com ele por telepatia, enquanto os soldados da prisão pensam que estão tratando de negócios. Um problema, talvez, está nela se parecer muito com outras histórias do tipo, como RED ou Arma X, dando a impressão de “já li isso antes“. O final fica um pouco didático, também, meio que explicando tudo o que aconteceu e acabando de maneira previsível. A mini permanece inédita no Brasil, porém tem tradução feita por fãs pela internet.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.