Arcos Principais: Era X (Age of X).
Publicação Original/ Brasil: Age of X: Alpha, X-Men Legacy #245-249, New Mutants #22-24 e Age of X: Universe #1-2 (Marvel, 2011)/ X-Men Especial: A Era X e X-Men Extra #126 (Panini, 2012).
Roteiro/ Arte: Mike Carey/ Clay Mann e Steve Kurth.
A Era X foi um crossover entre as revistas X-Men Legado e Novos Mutantes publicado durante 6 edições em 2011, lançada por aqui no volume único X-Men Especial: A Era X, junto de um prelúdio. Na história, vemos uma realidade onde os X-Men nunca existiram e os mutantes são perseguidos pela humanidade, se refugiando na Fortaleza X, onde são atacados diariamente e nunca conseguem sair de seu perímetro de segurança. É a velha fórmula de realidade alternativa que já vimos mil vezes. Só que ela tem um bônus, uma pegada de suspense, porque alguns mutantes percebem que não estão na realidade “certa” e querem descobrir o que aconteceu. Review especial com spoilers desse arco!
A ERA X
Eu fiquei com os dois pés atrás pra ler essa história, porque não gosto de realidades alternativas. Elas até podem ser legais, mas no geral são uma porcaria que funcionam como filler: ou seja, não acrescentam em nada para a cronologia da série. Mas até que me surpreendi com A Era X! Ela funciona de maneira independente, já começando (no prelúdio) nesta realidade alternativa, nos mostrando como estão os mutantes, apresentando os principais e desenrolando a narrativa nos capítulos, mas ela está ligada com a realidade “oficial” e não termina como um simples filler, ela tem suas consequências. Nessa nova realidade, os X-Men nunca existiram mas os mutantes continuam sendo perseguidos por todo mundo (como de costume). Os sobreviventes se reuniram num edifício no meio do nada que eles chamam de Fortaleza X, comandada por Magneto. Vários X-Men estão com visual ou nomes diferentes, como Ciclope fazendo cosplay de Shao Khan, usando uma viseira de caveira e conhecido por Basilisco. No prelúdio temos algumas histórias curtinhas e a melhor é a dele, desenhada pelo incrível Gabriel Walta (de O Visão, que por um momento pensei ser o Bill Sienkiewicz), com Scott preso numa maca (estilo Hannibal), com as pálpebras arrancadas e sendo obrigado a assassinar detentos mutantes! Uma mini história muito boa! Outra que mudou consideravelmente é a Vampira, que agora atende por Ceifadora/ Legado, responsável por pegar as memórias dos mortos em batalha.
Logo de início percebemos que não há nenhum telepata na Fortaleza X, assim como a própria “telepatia” é um tipo de poder desconhecido entre todos. Temos também 5 telecinéticos, entre eles Legião, Rachel e Psylocke, que são os Guerreiros da Força, responsáveis por levantar um escudo telecinético em volta da Fortaleza e por mantê-lo de pé. Mesmo assim, todos os dias soldados conseguem perfurar a barreira. Vivem numa guerra sem fim. As coisas passam a animar quando Kitty vem do lado de fora e desmaia, sendo presa por Magneto, mas deixando pra trás uma câmera fotográfica. Vampira, quer dizer, a Ceifadora encontra a câmera e resolve investigar, querendo saber o que tem do lado de fora, o que Kitty viu. Isso a leva pro subsolo do lugar, onde os telepatas estão sedados e Olhos Vendados aparece, presa, dizendo que essa realidade está errada. Aqui já começamos a suspeitar das coisas. Isso seria uma ilusão coletiva? Uma telepatia poderosa? Manipulação da realidade? Dinastia M tudo de novo?
Ao saber que Vampira está agindo fora da lei, manipulando a segurança e enganando a Perigo, ela é declarada traidora e todos passam a perseguí-la. Nesse meio tempo vemos melhor como ficaram outros X-Men, como o grupo da Daniella Moonstar e Logan, que foi soterrado com a Cura e seus poderes entraram em colapso. Num determinado momento a Ceifadora encontra o Professor X dopado e pega suas memórias, suspeitando também dessa realidade. Apesar de comandar o ataque contra ela, Magneto fez isso como uma distração, pois ele quer saber o que está acontecendo e resolve ajudar a Ceifadora, que se une ao Gambit, e vão investigar uma sala que não fazia parte da planta original da Fortaleza. Nesse lugar, eles encontram uma caixa que contém o Universo. E as coisas começam a se resolver de uma maneira que eu não esperava e realmente me surpreendeu!
Fora do coma induzido, o Professor X percebe o que aconteceu e tenta explicar a todos: durante o tratamento do Legião, de organizar suas personas, uma nova foi criada; uma espécie de anticorpo com a forma da Moira McTaggert, querendo expulsar a influência do Dr. Nêmesis e preservar o próprio Legião. Essa “Moira” possui o poder de criar mundos, então meio que suga toda a Ilha Utopia e recria uma nova realidade, apagando e reescrevendo a memória de todos nela, com exceção dos telepatas que são poderosos demais, optando por isolá-los. Uma revelação e tanto. Não entendi direito se a mudança de fato foi “física” na Ilha ou se foi apenas menta, o fato é que os X-Men ficaram 7 dias assim, mas foi como toda uma vida pra cada um deles. Na Fortaleza X ninguém acredita, mas tudo vai fazendo sentido. É como se eles estivessem vivendo numa redoma, com um o mecanismo (e consequências) semelhantes com o que acontece na série Under The Dome (2013). O Legião percebe que tudo depende dele e absorve a Moira numa cena muito bonita: ela, desesperada, tenta provar que só queria protegê-lo, que seu único dom era o de criar mundos, que tentará fazer um melhor da próxima vez. Triste. Quando ele “conserta” as coisas, todos acordam em Utopia, mas ainda com as memórias da Era X. Surgem Emma e as Cucos, já metendo o esculhambo (como ela fez falta!) e dizendo que terão um trabalho e tanto pra restaurar as memórias da galera. Engraçado que a Frenesi era a namorada do Ciclope/ Basilisco e ela não aceita que tudo foi uma ilusão, insistindo no romance e levando um coice da esposa do dito cujo.
AS CONSEQUÊNCIAS
Com o fim da Era X, temos um pequeno arco em duas partes chamado Consequências que ocorre em X-Men Legado, pra mostrar que não foi só um filler qualquer. Todo mundo está lidando com seus próprios demônios, com medo do que foram capaz de fazer na outra realidade. A maioria prefere ter todas essas memórias apagadas. Enquanto outros estão lidando de maneira diferente. O destaque fica para o Legião, que ganhou um dispositivo feito pelo Dr. Nêmese, Madison e Sr. Fantástico, uma espécie de relógio, onde ele coloca um determinado número e ativa, por um instante, uma determinada persona. Uma maneira dele começar a controlar elas. O Câmara (que é um dos meus personagens preferidos) também foi bastante afetado: ele estava com seu corpo parcialmente recuperado, mas após a Era X ele volta a ter um rombo no peito e ficar na mesma situação de antes. Frenesi continua sem aceitar que tudo era uma ilusão e decide radicalizar, cortando os cabelos (adotando o visual que tinha lá), continuando casca grossa mas escolhendo ficar do lado dos mocinhos dessa vez. E Rachel perdeu o link com o seu corpo e agora permanece numa forma astral. A Era X ainda tem outras duas edições especiais que mostram outros heróis nessa realidade, como um grupo de Vingadores assassinos de mutantes, numa pegada mais violenta que lembra O Velho Logan, com direito a Hulk furioso e tudo.
Mike Carey (O Inescrito) fez um trabalho interessante nesse crossover, com vários pontos altos (como a história de fundo do Basilisco, o sistema de redoma, o mistério ou o próprio Legião), mas fica aquele gostinho de que poderia ter sido bem mais. A guerra eterna com soldados anti-mutantes poderia ter sido substituída por outro conflito que também funcionasse em looping e com o exterior, já que luta e mais luta cansa (e é o clichê máximo dos X-Men) e tira o foco de encontrar as falhas nessa realidade, ficando tudo uma bagunça. Clay Mann (Hera Venenosa – Ciclo de Vida e Morte) e Steve Kurth (G.I. Joe) fazem um bom trabalho nos desenhos, mas preferia que tudo fosse feito pelo Gabriel Hernandez Walta, que possui um traço mais limpo. Essa questão do “clean” é algo pra se comentar, porque além das lutas intermináveis, há tanto mutante nessa Era que dá pra tirar com pá. Aparece até alguns sumidos/ mortos como Larval e Medula. Acho que se fosse com um núcleo menor e com foco em entender e fugir do lugar, ficaria melhor.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.