Arcos Principais: O Velho Logan (Old Man Logan).
Publicação Original/ Brasil: Wolverine #66-72 e Wolverine: Old Man Logan Giant-Size (Marvel, 2008)/ Wolverine #57-64 (Panini, 2009) e Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel #58 (Salvat, 2014).
Roteiro/ Arte: Mark Millar / Steve McNiven.
Todos os super-vilões se uniram e acabaram com os super-heróis da Terra. Após 50 anos, os EUA se transformou numa terra dividida e comandada por figurões como Rei do Crime e Dr. Destino. Não há mais heróis para salvar o dia. Quase todos estão mortos e os poucos que se salvaram estão velhos demais pra fazer qualquer coisa. A lei do mais forte prevalece, quem pode manda e quem não pode obedece ou é morto. Essa realidade distópica é o pano de fundo de O Velho Logan, arco em 8 partes da revista Wolverine (#66-72 e edição Gigante), publicado originalmente entre 2008 e 2009, trazendo um Logan velho e cansado, vivendo com sua família longe da confusão, sob a vergonha do passado. Review especial comentando este arco sensacional que serviu de inspiração para o próximo filme da franquia mutante, “Logan“, com previsão de estreia para março de 2017. Sem spoilers!
Antes é interessante lembrar, pro leitor de primeira viagem, que O Velho Logan ocorre 50 anos no futuro e numa realidade diferente da “oficial” da Marvel (Terra 616). Apesar desta versão do Logan ter sido revisitada pela editora recentemente (e ganhando sua própria revista), o arco em si não possui relação com outras séries e pode ser lido tranquilamente por qualquer um.
Na história, Logan e sua família (esposa e dois filhos) vivem no interior dos EUA, numa região comandada pela Gangue Hulk. Com a situação difícil, sem dinheiro pra pagar o aluguel e com medo de ter sua família morta, aceita ajudar um velho e cego Gavião Arqueiro a atravessar o país para realizar uma misteriosa entrega, em troca de dinheiro. Só que Logan não é mais o Wolverine que conhecemos: após os eventos que levaram os super-vilões ao poder, ele prometeu nunca mais colocar suas garras pra fora e machucar alguém. O motivo que o perturbou a ponto de tomar essa decisão, porém, é um segredo. Assim, Gavião e Logan seguem numa road aventura alucinante, passando por lugares insanos e mortais. Tudo no melhor estilo Mad Max de ser, mas com muita violência e muito (mas muito) sangue!
O roteiro é do Mark Millar (The Authority) e o destaque fica para toda a atmosfera desse novo EUA, com personagens já conhecidos interpretando ditadores e senhores de guerra, enquanto temos o vislumbre de outros que já morreram. A nova “mitologia” criada por ele é muito boa, como a cidade comandada pelo “Hulk” e todos os seus descendentes-caipiras-verdes comedores de gente. Numa outra cidade, temos o novo Rei do Crime jogando prisioneiros para os dinossauros comerem ao estilo Coliseu de ser, entre tantas outras “novas” roupagens e referências, como os esqueletos de personagens gigantes pela estrada e até artefatos transformados em atração turística, como o martelo do Thor.
Um outro destaque do roteiro é o desenvolvimento do próprio Logan, que surge como um homem amargurado pelo que fez no passado e que está disposto a manter sua promessa de se manter pacífico a todo custo. O Gavião Arqueiro também tem seus bons momentos, protagonizando ótimas cenas de ação. Mesmo cego, é um oponente à altura. O relacionamento entre os dois sobre o “aranhamóvel” chega a ser cinematográfico, com diversas (ótimas) surpresas no caminho que colocam a adrenalina lá em cima. Todos os ganchos entre uma edição e outra são bons e não frustram o leitor, com momentos muito desnecessários. Tudo ajuda pra chegar ao fim, deixando a leitura super rápida. Tanto o final quanto a revelação do segredo do Logan (apesar de difícil de aceitar) são plausíveis dentro deste universo.
Os desenhos são de Steve McNiven (Fabulosos Inumanos), com finalização majoritária de Dexter Vines e cores de Morry Hollowell (mesma equipe que já havia trabalhado com Millar em Guerra Civil) com contornos grossos num estilo que gosto bastante. Em algumas edições há mais arte-finalistas e coloristas, o que causa algo diferente aqui e ali, mas nada que atrapalhe. As cores variam entre cenas super escuras às cenas e closes de personagens onde tudo é mais visível. As lutas são ótimas, com destaque para todas as cabeças decepadas, com sangue voando pra tudo quanto é canto. O que dá mais credibilidade ao roteiro, que não fica no “clean” de mais ou cheio de censuras. A caracterização das personagens, em particular dos “Hulks”, é muito boa e carismática. McNiven conseguiu dar a “cara” dessa realidade quase apocalíptica.
Apesar de ser considerada uma das melhores histórias do Wolverine nos últimos anos e publicada em encadernados, sendo de fácil leitura, O Velho Logan ainda é um arco com muita referência ao Universo Marvel. Desde os vilões que surgem (e são muitos) aos pequenos detalhes em cenas (como a capa do Destino ou o próprio martelo do Thor), requerem um certo entendimento desse Universo pra não passar despercebido. Um outro ponto a se comentar, caso você seja um fã certinho, é que precisa “entrar na magia“: toda a aventura sobre quatro rodas é excelente, mas não vá querer entender (ou aceitar) que heróis como Os Vingadores e todos os X-Men foram derrotados, assim como alguns outros que vão surgindo sem tanta importância. É preciso entrar na magia e superar esses pontos, até porque a história foi publicada como um arco numa revista mensal, diferente do que se fosse uma graphic novel (mais fechada e concisa).
Passado esses pontos, O Velho Logan é uma leitura insana e obrigatória. Ação do começo ao fim, com vários destaques que não irei comentar pra não dar spoiler, mas que sou obrigado a dar uma pincelada: a figura misteriosa do Presidente desse novo EUA é uma surpresa boa; a participação inusitada de uma X-Man fez eu dar um sorrisão; o líder da Gangue Hulk é tudo, menos o que esperamos que seja, sendo um dos maiores destaques (e também ótima referência, já que o Wolverine surgiu pela primeira vez na revista do Hulk em 1974 e só depois foi pros X-Men). Entre outros.
O filme “Logan” seguirá a ideia de “O Velho Logan“, trazendo Hugh Jackman interpretando mais uma vez o personagem, agora numa versão mais velha e fugindo país adentro com a pequena e mortal X-23. Por questões de direitos autorais, não teremos Hulk, Gavião Arqueiro ou qualquer outro personagem que pertença à Marvel Studios no filme, o que muda drasticamente a história. Felizmente, isso dá a Fox uma oportunidade de criar algo diferente dos outros filmes mutantes, com uma narrativa mais linear, com poucos personagens e a violência típica do Wolverine que todo mundo quer ver, seguindo o exemplo do sucesso que foi Deadpool. O trailer está incrível e fica a expectativa que seja tão bom quanto a HQ é!
O Velho Logan foi publicado no Brasil em dois formatos: mensalmente na revista Wolverine da Panini (2009) e em encadernado pela Coleção Marvel da Salvat (2014).
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.