Nome Original: Graphic MSP #5: Bidu – Caminhos
Editora/Ano: Panini, 2014
Preço/ Páginas: R$19,90/ 84 páginas
Gênero: Alternativo/ Infantil
Roteiro/ Arte: Eduardo Damasceno & Luís Felipe Garrocho
Sinopse: No bairro do Limoeiro, Franjinha é um garoto que deseja ter um animal de estimação… Ou um robô. Ao mesmo tempo, um cachorrinho azul perambula pelas ruas procurando sobreviver, juntando os ossos que acha e usando a carcaça de um carro abandonado num terreno baldio como moradia. Essa é a história de como os dois primeiros personagens criados por Mauricio de Sousa se tornaram melhores amigos. Uma aventura cheia de problemas, surras, desvios de rota, chuva, cachorros, decisões difíceis e ternura.
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Bidu inicia a segunda leva de Graphics MSP produzidas pela Panini em parceria com a Maurício de Sousa Produções, trazendo graphic novels estreladas por personagens da Turma da Mônica e Cia. em roupagens totalmente distintas, criadas por artistas diferentes, uma homenagem ao eterno cartunista do Brasil.
Maurício de Sousa é, talvez, o maior nome das HQs no Brasil. Seu estúdio é um verdadeiro império, seus personagens são mundialmente famosos. Está no ramo desde 1959, quando publicou a primeira tira do Bidu no jornal Folha da Tarde. Desde então nunca parou, produzindo toneladas de materiais. O próprio cachorrinho azul, seu primeiro personagem, se transformou no símbolo de seu estúdio. São 55 anos de criação, dá pra acreditar?
Também é inegável a forma como Maurício conseguiu se adaptar aos novos tempos. O mercado de quadrinhos cresceu muito nos últimos anos, em parte graças à invasão dos mangás no início dos anos 2000. As crianças passaram a ler menos gibis da Mônica e uma grande parcela dela migrou para os mangás. Daí surge, em 2008, a série Turma da Mônica Jovem, com seus personagens adolescentes e no formato oriental. Sucesso é pouco pra definir a sensação que cercou o título, com a edição #34 quebrando recordes de venda e ultrapassando gigantes como a Marvel e DC. E foi nessa onda de reformulações que surgiu em 2009 os álbuns “MSP 50“, em comemoração aos 50 anos de carreira do cartunista, onde 50 artistas entre consagrados e novos criavam sua própria história utilizando dos personagens da Turma da Mônica. A iniciativa rendeu outro álbum especial (Ouro da Casa) e o lançamento da série “Graphic MSP”: histórias longas, formato graphic novel.
Bidu é o quinto volume, precedido por Astronauta – Magnetar, Turma da Mônica – Laços, Chico Bento – Pavor Espaciar e Piteco – Ingá. Particularmente, gostei mais de uns, menos de outros; todos comentados aqui no site, pra quem se interessar ^^. É evidente o sucesso da coleção, já que a Panini anunciou mais uma tonelada de lançamentos pro futuro, além de relançar os anteriores. E, felizmente, o sucesso vem caminhando lado a lado com a qualidade dos álbuns. Bidu é, pra dizer o mínimo, encantador!
Assim como Laços, a história acontece no bairro do Limoeiro e mostra como Franjinha conheceu Bidu. Apesar da narração ser do menino, a história se desenvolve pelo ponto de vista do cachorro. Além dos dois, participam de Caminhos outros personagens das tiras de Bidu: Bugu, o cãozinho amarelo do “Alô, Mamãe”; Duque, o melhor amigo do Bidu; e Rúfius, o pesadelo da turma.
A HQ transborda fofura, simpatia e bom humor. Não são raros os momentos que o leitor irá sorrir. O segredo talvez esteja em sua simplicidade. Não há intenção de apresentar algo complexo, pelo contrário. É simples, bonito e terno. Há muitas referências que quem curte Bidu vai encontrar e adorar. Só pra resumir a história, Bidu vive num carro abandonado, sobrevivendo nas ruas, procurando ossos e fugindo de encrencas. Bugu é o vizinho que sempre vem lhe perturbar. As coisas vão de mau a pior pra ele, que resolve se “entregar” à um canil e tentar uma refeição e banho, mas acaba encontrando com Rúfius e Duque. Apesar das brigas, todos acabam se unindo a contra gosto pra tentar fugir do canil pelo subterrâneo. Franjinha, em paralelo, começa a bolar invenções pra encontrar um cachorrinho.
Dentre os melhores momentos, destaco a cena em que Rúfius (com uma focinheira), Duque e Bidu andam pelo subterrâneo e acabam sendo divididos por um obstáculo. Pra completar, Rúfius engancha a focinheira num ferro e fica preso. Essa sequência é fod@! Você fica querendo saber o que os outros dois irão fazer, se voltarão pra ajudar o valentão ou o deixarão lá. Emocionante.
Vale comentar que todos os animais não falam, apenas se comunicam por onomatopeias ou desenhos infantis. Isso potencializa a personalidade de cada um e torna a leitura rápida, já que há poucos balões de fala. A arte de Caminhos é muito bonita, quase que totalmente digital, permitindo alguns recursos bem interessantes como o efeito de chuva que, inclusive, protagoniza a capa. Mas o destaque mesmo vai para as cores, incríveis. Tudo colorido, porém harmonioso, geralmente de cores calmas, pastéis.
O acabamento segue o padrão da coleção: miolo em papel couché e opção de capa dura ou mole. Como extra temos esboços e o processo criativo dos autores, reprodução da primeira tira do Bidu e primeira capa de sua série solo, infos de sua história, introdução do Maurício e mini biografia da dupla Eduardo Damasceno & Luís Felipe Garrocho (Cosmonauta Cosmo, Achados e Perdidos), que produziram o álbum em conjunto, sem distinções estritas entre roteiro e arte. Bidu – Caminhos segue o caminho de Laços, muito simpático e divertido. Uma leitura leve, que agradará a todos.
Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.