[Review] Piteco – Ingá !

Piteco - Ingá capa

Nome Original: Graphic MSP #4: Piteco – Ingá
Editora/Ano: Panini, 2013
Preço/ Páginas: R$19,90/ 8o páginas
Gênero: Alternativo/ Ação
Roteiro/ Arte: Shiko
Sinopse: O povo de Lem precisa migrar porque o rio próximo à aldeia secou. Mas o caçador Piteco não vai, pois decide resgatar Thuga, que foi raptada pelos homens-tigre. Nesta releitura inusitada e repleta de ação, o paraibano Shiko acerta em cheio ao misturar sua origem nordestina à essência do homem das cavernas de Mauricio de Sousa.

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Mauricio de Sousa é um dos maiores cartunistas do Brasil e um nome de peso para o universo das HQs. Começou sua carreira em 1959, quando lançou sua primeira tira com o Bidu, personagem que mais tarde se tornou o símbolo da Mauricio de Sousa Produções. Em seguida vieram a criação de Cebolinha (1960), Mônica e Cascão (1963) e Magali (1964), entre dezenas de outros importantes personagens como Penadinho, Horácio, Chico Bento, Piteco, Astronauta, Tina… Criou-se, então, o Império Turma da Mônica: com HQs, animações, teatro, atrações circenses, produtos diversos, CDs, shows, parques…

Piteco - Ingá página 2

Com o passar do tempo, porém, as crianças passaram a ler menos gibis e o público geral de HQs foi diminuindo, além do mercado ter sofrido grandes mudanças nos anos 2000 com a popularização do mangá, queda dos super-heróis e múltiplas editoras lançando coisa nova. Mas Mauricio e Cia. conseguiram manter a turma e inovaram ao apresentar a Turma da Mônica Jovem em 2008, em novo formato e com personagens reformulados, além de tratar de assuntos mais atuais e fisgar os jovens. A edição #34, por exemplo, quebrou records e ultrapassou gigantes como a Marvel e DC nas vendas. E nessa onda de reformulação, a Panini lançou os álbuns “MSP 50″ (2009) em comemoração aos seus 50 anos de carreira, onde 50 artistas entre consagrados e novos criavam sua própria história utilizando dos personagens da Turma da Mônica. A iniciativa rendeu outro álbum especial (Ouro da Casa) e o lançamento da série “Graphic MSP”.

Piteco - Ingá página

E depois de Astronauta – Magnetar, Turma da Mônica – Laços e Chico Bento – Pavor Espaciar, a primeira fase de Graphic MSP chega ao fim com Piteco – Ingá (primeira, já que anunciaram continuações). E não poderia ter sido melhor. Ao lado de Astronauta – Magnetar, essa talvez seja a releitura mais adulta até então. Muito alarde foi feito com essa coleção, e com bastante razão até, provando mais uma vez a qualidade e versatilidade dos quadrinhistas brasileiros. Todos eles, se já não possuíam reconhecimento dos fans, agora estão no auge.

Acontece que nem todos concordam com os méritos da coleção. De fato algumas resenhas exaltam demais cada edição e beira ao puxa-saquismo, mas todas elas possuem suas qualidades, isso é inegável. Deste a construção da narrativa em “Magnetar”, quanto a arte de “Laços” ou o o humor de “Pavor Espaciar”. Gostei de todas elas à seu modo, talvez mais de Magnetar por achar mais profunda, ou Laços por ser bem nostálgico. Gustavo Duarte é o meu autor preferido dentre eles, porém seu Pavor Espaciar não me cativou tanto. E Ingá é lindo.

Piteco - Ingá página 4

Shiko conseguiu unir uma bela arte com uma mitologia pré-histórica sensacional. Pouco conhecido entre os fans de quadrinhos, é o autor da premiada adaptação “O Quinze” e participou de diversas coletâneas, desde MSP Novos 50 às independentes Café Espacial e Graffitti 76% Quadrinhos. Mora atualmente na Itália, de onde talvez venha seu traço mais “europeu”.

Na história, o povo Lem precisa migrar de terra pois o rio que passa pela Pedra do Ingá está secando e, consequentemente, irá privá-los da colheita. Piteco faz parte dessa aldeia, mas não consegue migrar quando sua amada, Thuga, é sequestrada pelos homens-tigre. Ele, Beleléu e Ogra partem, então, para o resgate da xamã passando por matas selvagens e solicitando o apoio de divindades nativas.

O uso da Pedra do Ingá, que realmente existe e fica na Paraíba (terra natal do autor – um monumento arqueológico que data aproximadamente de 2000 à 5000 anos atrás) e suas inscrições rupestres deram um crédito a mais ao título, além de todas as referências ao Nordeste brasileiro desde a seca ao êxodo rural. Pra mim, o ponto alto da HQ é seu misticismo: Shiko conseguiu tornar as aldeias distintas entre si, cada uma com sua mitologia, porém unida pelas mesmos deuses, inspirados em lendas brasileiras como o Curupira e o Boitatá . O papel da mulher também é bastante exaltado por ele, evocando tais poderes.

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Os desenhos são todos coloridos em aquarela, marca registrada do autor, o que permite belíssimas cores e efeitos, como o da chuva, do entardecer ou de detalhes como o fogo de M-Buatan, a iluminação de tochas ou a poeira levantada pelo vôo de um morcego gigante. A construção dos personagens também merece destaque, principalmente a caracterização das diferentes aldeias. Apenas de olhar sabemos quem são os membros de Lem, dos Homens-Tigre ou de Ur. Os deuses que surgem na aventura são de encher os olhos, com destaque para a “mulher-fogo”, sensacional.

Talvez esse seja o grande fechamento de “Graphic MSP”, com um álbum muito bem narrado e desenhado (algumas sequências são bem cinematográficas, como a sequência da chuva) o que faz, inevitavelmente, que exigiremos títulos com essa qualidade ou superior das próximas Graphics. Para quem ainda não sabe as próximas releituras, confira aqui. E, assim como as anteriores, “Piteco – Ingá” pode ser encontrado em capa dura ou cartonada, possui comentários do Mike Deodato Jr. (Noite Mortal, desenhista da Marvel), introdução do Maurício e alguns extras como rascunhos, tiras originais do personagem e mini bio.

nota 9,5 ;

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