Nome Original: Graphic MSP #2: Turma da Mônica – Laços
Editora/Ano: Panini, 2013
Preço/ Páginas: R$19,90/ 84 páginas
Gênero: Alternativo
Roteiro/ Arte: Vitor Cafaggi & Lu Cafaggi
Sinopse: O Floquinho desapareceu. Para encontrar seu cachorro de estimação, Cebolinha conta com os amigos Cascão, Mônica e Magali e, claro, um plano “infalível”.
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Mauricio de Sousa é um dos maiores cartunistas do Brasil e um nome de peso para o universo das HQs. Começou sua carreira em 1959, quando lançou sua primeira tira com o Bidu, personagem que mais tarde se tornou o símbolo da Mauricio de Sousa Produções. Em seguida vieram a criação de Cebolinha (1960), Mônica e Cascão (1963) e Magali (1964), entre dezenas de outros importantes personagens como Penadinho, Horácio, Chico Bento, Piteco, Astronauta, Tina… Criou-se, então, o Império Turma da Mônica: com HQs, animações, teatro, atrações circenses, produtos diversos, CDs, shows, parques…
Com o passar do tempo, porém, as crianças passaram a ler menos gibis e o público geral de HQs foi diminuindo, além do mercado ter sofrido grandes mudanças nos anos 2000 com a popularização do mangá, queda dos super-heróis e múltiplas editoras lançando coisa nova. Mas Mauricio e Cia. conseguiram manter a turma e inovaram ao apresentar a Turma da Mônica Jovem em 2008, em novo formato e com personagens reformulados, além de tratar de assuntos mais atuais e fisgar os jovens. A edição #34, por exemplo, quebrou records e ultrapassou gigantes como a Marvel e DC nas vendas. E nessa onda de reformulação, a Panini lançou os álbuns “MSP 50” (2009) em comemoração aos seus 50 anos de carreira, onde 50 artistas entre consagrados e novos criavam sua própria história utilizando dos personagens da Turma da Mônica. A iniciativa rendeu outro álbum especial (Ouro da Casa) e o lançamento da série “Graphic MSP”.
Chegamos, então, à Turma da Mônica – Laços. Segundo título da série (Astronauta – Magnetar foi o #1), criado pela dupla de irmãos Vitor & Lu Cafaggi, apresentando uma visão carismática e fofa da turma do limoeiro, resgatando passagens importantes dos personagens e homenageando tanto a carreira do Mauricio quanto os filmes que fizeram a cabeça das crianças nas décadas de 1980 e 1990. A história é simples: Floquinho, o cachorro do Cebolinha, desaparece e a turma cria um plano para encontrá-lo. Nessa aventura, passarão por diversas situações.
Interessante como, já no primeiro momento, percebemos as principais características da turma em ação: Mônica correndo atrás do Cebolinha, que criou um plano “infalível”, Magali devorando e o medo de água do Cascão. Durante a perseguição temos participações surpresas como Xaveco, Jeremias, Maria Cascuda, Xabéu e Aninha. E nesse clima de nostalgia a história se desenvolve de forma rápida, cheia de referências. Numa das mais interessantes, Mônica relembra uma história contada por seu pai… que é o próprio Mauricio de Sousa! Há, também, um vendedor de churros chamado Ramon (alguém lembra de um certo Seu Madruga – Don Ramon na mesma situação?).
Turma da Mônica – Laços, além de uma aventura em busca do Floquinho, é também uma maneira de lembrarmos nossa infância, da maneira inocente das crianças agirem, do poder da amizade e da esperança em que tudo vai dar certo, ao mesmo tempo em que precisam lidar com situações como a perca e a morte. Esse equilíbrio é bem visível durante a história, como o enterro de um animal realizado pela turma e cenas hilárias como o barulho da barriga da Magali (quem leu irá lembrar ^^).
Os desenhos de Vitor Cafaggi (Valente Para Sempre) é excelente, muito simpático e dinâmico. Tudo parece uma animação, daí a comparação à filmes da Disney ou Pixar. Tudo muito lúdico. Já Lu Cafaggi (Mix Tape) reforçou os traços do irmão e criou as cenas de flashback e album de fotos. Seu traço é de uma delicadeza sem tamanho, parece que falam sozinhos. A arte talvez seja o grande chamariz de Laços, rendendo ótimos momentos como quando Cebolinha ganha Floquinho (ele abrindo a caixa) e o cuidado em diferenciar a passagem do tempo através das cores (azul de dia, avermelhado ao anoitecer). Para isso, a dupla contou com o apoio de Priscilla Tramontano nas cores.
A caracterização dos personagens merece destaque. Magali é conhecida por comer demais, porém se mantém bem magrinha, o que é bastante nítido (ela come tudo!). Cebolinha e sua língua presa e os poucos fios de cabelo, sempre balançando ao vendo, é o líder do grupo. Cascão, que não gosta de tomar banho, está moderno com moicano, porém continua o mesmo menino que gosta de brincar e inventar. E Mônica é a gordinha, sacudindo seu sansão pra todo canto. Os detalhes como o famoso guarda-chuva do Cascão e a típica cena da Magali comendo melancia merecem destaque.
Um texto de Mauricio de Sousa abre a edição, contando como conheceu Vitor Cafaggi (que havia criado uma história para MSP 50) até o momento em que o convidou para criar este “Laços”, junto de Lu. Nos Extras, um pouco sobre a produção da história e esboços originais dos personagens, diagramação, anotações e comentários sobre a pesquisa que realizaram na criação. Há, também, uma pequena bio da Turma e a primeira tirinha em que apareceram, além da bio dos autores. O acabamento é excelente, estando disponível em capa cartão (R$19,90) e dura (R$29,90), com miolo em couché de alta gramatura. Turma da Mônica – Laços apresenta uma história simples, porém repleta de nostalgia e arte brilhante.
Fil Felix é ilustrador e escritor. Criador dos conceitos e personagens do universo da Central dos Sonhos. Fã de HQs, gosta de escrever reviews desde 2011, totalizando mais de 600 delas em 2023. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a Coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou seu primeiro livro infantil em 2021: Zumi Barreshti, da editora Palco das Letras.