A deusa Rama Kushna não gostou de Boston querer descobrir toda a verdade e por ter falado com Filho da Manhã. Ela o trouxe para sua dimensão, criando jogos psicológicos, até que seu ponto fraco é descoberto. Rama é imortal, possui um vasto poder, pode interferir na vida das pessoas, brincar com elas, fazer praticamente tudo; porém uma dúvida paira em sua mente, sobre o porque de sua existência, porque consegue fazer isso. Isso a perturba, e Boston era uma peça chave em seu jogo para resolver esse mistério (assim como outros que ela usa).
O Desafiador tenta barganhar com a deusa, lhe dando a pergunta que Rama quer em troca de sua “liberdade”. E a história se desenrola nessa briga de “cão e gato”, já que ela é difícil na queda. Johnny, o sobrevivente de guerra, também participa da conclusão, num final heroico onde recupera sua alto-estima. Tudo muito bonito e simpático, mas que não foi bem desenvolvido. A cena de Jhonny com os ladrões ficou engraçada, pra não dizer bizarra, além de que essa “fraqueza” de Rama poderia ser melhor explorada.
Por outro lado, o visual de Desafiador é excelente. Começando pelas capas criadas por Ryan Sook, o mesmo de Dark, sempre instigantes. A arte interna é do desenhista Bernard Chang (Superman, Mulher-Maravilha) com as cores de Blond (Capuz Vermelho e os Foragidos), e é o ponto alto. A caracterização e cenários de Chang são bons, com belas sequências, mas o destaque fica para a diagramação de algumas cenas. Na página dupla acima já dá pra ter uma ideia, quando Rama grita com Boston e ele se multiplica até cair no infinito, demais!
A história seguinte data de 1967, originalmente publicada em Strange Adventures #205, sendo a estréia do personagem. Apesar dela já ter sido publicado no Brasil antes (em formatinho), foi um ótimo acréscimo à esta mini, já que é bastante comentada nos “extras” das edições anteriores. Escrita por Arnold Drake (Dark Shadows) e desenhada por Carmine Infantino (Flash), ela não muda muito do que foi recontado nos Novos 52. Bosto é arrogante, briga com todos no circo e, quando realiza seu número, leva um tiro e morre. A deusa Rama surge e lhe dá uma sub-vida para encontrar seu assassino, porém todos são suspeitos. Tudo acontece muito rápido e abrupto, mas levando em conta o período lançado (há mais de 40 anos!), ela é boa e interessante por conta desse suspense. Os desenhos de Carmine também se destacam, com ângulos e cenas inusitadas. Fiquei curioso se na série original Rama é vilã ou não (quem souber, comente!).
Fecha UDA #3 um curto especial de Natal onde o Desafiador salva Karen (a mãe do Espantalho) do suicídio. Apesar de não ser tão relevante, historicamente falante, é uma leitura descontraída, com destaque para os flashbacks do Espantalho. Scott Kolins (Ponto de Ignição) assina o roteiro e a arte. O acabamento segue o padrão anterior: capa couchê, miolo pisa-brite e reprodução das capas originais, além de uma matéria escrita pelo lendário Neal Adams contando sobre sua experiência ao comandar a série do Desafiador logo após sua estréia. Tal matéria e a estréia do personagem fizeram a diferença, além da arte de Chang.

Fil Felix é autor, ilustrador e psicanalista. A Central dos Sonhos é seu universo particular, por onde aborda questões como memórias, desejos e infância. Fã de HQs, escreve seus comentários sobre quadrinhos desde 2011, totalizando mais de 600 reviews. Já escreveu sobre arte para diversos blogs como Os Imaginários e a coluna Asas da editora Caligo. Ilustrou os livros infantis Zumi Barreshti (2021, Palco das Letras) e Meu Avô Que Me Ensinou (Ases da Literatura), entre outras publicações.