Deadman – Amor Após a Morte é protagonizado por um herói obscuro da DC, o Desafiador. Apesar de hoje em dia ele ser mais popular, na época em que estreou por aqui a Abril sequer traduziu seu nome e manteve o original Deadman (apesar de já utilizar o nome Desafiador em edições anteriores). Essa mini-série em duas partes conta uma aventura romântica (e mórbida) entre o “homem-morto” e uma fantasma num circo de horrores, no melhor estilo Vertigo de ser.
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O Desafiador é o espírito do trapezista Boston Brand, morto por um misterioso assassino. Ao morrer, a deusa Rama Kushna entra em contato com Brand e o torna um fantasma, vagando pela terra e possuindo corpos. Na forma astral ele é intangível, invisível e pode possuir corpos. Para descansar em paz, ele precisa descobrir seu assassino. É um personagem sombrio, melancólico, que sempre sonha em desfrutar das sensações de estar vivo. Apesar de ter sido criado em 1967, ele só começou a ganhar destaque nas décadas de 1980 e 1990, com algumas mini-séries.
Então chegamos à esta obra, de 1989, escrita por Mike Baron (Nexus, Justiceiro) e com a estranha, mas interessante, caracterização e arte de Kelley Jones (Batman: Tempestade de Sangue e Bruma Escarlate). Digo estranha, pois o personagem é totalmente distinto do comum, sendo alto, magro, se contorce e é cheio de caras e bocas. No entanto, após ler, não vejo desenhos melhores para representá-lo, pelo menos neste especial. As cores são do excelente Les Dorscheid, que já trabalhou com Jones nos títulos citados e com Baron em Nexus, além de outras HQs especiais, como do Alien.
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Na história, o Desafiador lê um artigo sobre lugares mal-assombrados e acaba conhecendo o Circo Colby, num lugar bem distante, que dizem estar abandonado e cheio de fantasmas. Como leva uma vida solitária e triste, resolve ir até lá e tentar encontrar alguém como ele. Por sorte, encontra a bela Ann, que também é um fantasma e trapezista do circo, assim como Boston. No entanto, ela consegue mover e tocar em objetos, algo que ele não consegue e logo os dois se apaixonam, porém o circo está lotado de mistérios, a começar pela própria Ann, que está aprisionada ao local graças à seu marido, Colby.
Anos atrás, Colby enlouqueceu e matou a todos no circo, inclusive sua esposa e, desde então, o Circo dos Horrores ruiu e se tornou a eterna casa dos fantasmas das pessoas que estavam no dia, entre eles as atrações Mulher-Baleia e Cara-de-Bode. O único meio de libertar o circo e a alma dessas pessoas é enfrentando a entidade Brazia, responsável por aprisiona-los na Terra, assim como a deusa Rama Kushna fez com Boston. Este também seria o meio de salvar Ann, porém Colby e as outras aberrações não facilitarão as coisas.
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Apesar de ser herói do Universo DC, Deadman – Amor Após a Morte segue estilo Vertigo, com cenas macabras, nudez e um ar mais sombrio, além de palavrões. O álbum só não ganha esse selo, pois a Vertigo (como a conhecemos hoje) só viria a estrear em 1993.
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Mesmo sendo um pouco atropelada em algumas cenas e, principalmente, nas seqüências finais, a história de Deadman é o ponto alto da HQ. O roteirista soube utilizar bem o tema circense, explorando personagens bizarros e o além-mundo. A ausências de outras figuras e quase toda a narrativa se passar nos arredores do Circo também ajuda a dar um clima de suspense, além de lembrar aqueles filmes de terror dos anos 80. Há uma bela reviravolta no final e os destaques ficam para as incríveis cenas da Mulher-Baleia “comendo” e da Mulher-Serpente se transformando no animal que lhe empresta o nome. São as mais impressionantes do álbum e, definitivamente, aparecerão em breve aqui no blog, comentadas!
Acredito que a história de Deadman acaba agradando a todos, mas na parte artística, gera controvérsias. Há aqueles que irão adorar e aqueles que irão odiar. É só reparar nas páginas e perceber que Kelley Jones deu uma caracterização totalmente esquisita ao personagem, podendo agradar ou não os leitores.
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No início foi estranho se acostumar, tenho que confessar, mas ao terminar de ler percebi que a arte foi um dos fatores essenciais para a narrativa fluir bem. Enquanto o Desafiador é retratado de forma estranha, parecendo uma cobra, todo se retorcendo e flutuando como se estivesse nadando, os demais personagens foram muito bem desenhados, com destaque para as atrações do circo.
Apesar de prejudicadas pela impressão e o método de colorização da época, as cores de Les Dorscheid são excelentes e é o grande destaque da arte, abusando de sombras e métodos alternativos de preenchimento.
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Deadman – Amor Após a Morte é uma HQ super recomendada para aqueles que curtem histórias de terror e suspense à moda antiga, trazendo grandes momentos e nos mostrando uma outra face do Desafiador. Infelizmente, existem alguns pontos baixos, mas nada gritante. O acabamento da Abril, apesar de simples, é competente. Foram duas edições em formato americano, capa mole, miolo com folhas lisas e uma espécie de resumo na contra-capa. Só falhou em não traduzir o nome do personagem e na falta de algum extra.